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USP cancela curso sobre 'parto e espiritualidade cristã' que citava 'família tradicional'

Aulas começariam em fevereiro; universidade afirma que cancelamento visa zelar pela 'instituição pública e laica'

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São Paulo

A USP (Universidade de São Paulo) cancelou na manhã de terça-feira (16) um curso de extensão que seria destinado a enfermeiros e outros profissionais e estudantes da área de obstetrícia chamado "Parto e Espiritualidade Cristã".

As aulas estavam previstas para fevereiro, com quatro encontros promovidos pela EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). A descrição do curso, que até a noite desta terça estava disponível no site da universidade, citava o conceito de "família tradicional", termo que limita a ideia de família a um grupo composto por mãe, pai e filhos.

A Folha apurou que a criação do curso provocou reação do corpo discente e docente.

Em nota, a USP afirma que o cancelamento aconteceu com objetivo de "zelar pela manutenção da Universidade de São Paulo como uma instituição pública e laica". Diz, ainda, que o cancelamento ocorreu por meio da Comissão de Cultura e Extensão da Escola, que é responsável pelas atividades de extensão na USP.

Movimentação no campus da USP (Universidade de São Paulo) Leste, na zona leste de São Paulo
Área do campus da USP Leste, na zona leste de São Paulo, onde fica a EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) - Zanone Fraissat - 12.mar.2020/Folhapress

Obstetriz e ex-aluna da faculdade, Ana Cristina Duarte criticou o curso, que na sua opinião continha "uma série de concepções equivocadas sobre família e gênero". "Não faz nenhum sentido, é um retrocesso. A ementa é uma aberração. A universidade é laica, não faz sentido misturar religião."

No texto da justificativa do curso é afirmado que, para se ter uma família, "é necessário dois gametas paternos e maternos, dessa forma, a família tradicional se origina no momento em que há uma união de um homem e uma mulher, e o resultado é a concepção de um novo ser, que foi gerado e crescerá e se desenvolverá no útero materno por até 42 semanas de gestação. A família é a forma de promover a proteção espiritual dos filhos que irão ser concebidos desta união".

Os cursos de extensão são oferecidos como complemento à formação e são abertos também a pessoas de fora da universidade.

Segundo a proposta, as aulas tinham como objetivo refletir a espiritualidade em suas etapas fisiológicas, entre elas concepção, desenvolvimento e crescimento do feto, parto, nascimento e pós-parto. Também previa "olhar o luto e refletir a espiritualidade nesse processo da perda fetal".

O texto dizia que o curso respeitaria "a abordagem cristã ao apresentar cada temática com seu arcabouço teórico e científico".

As aulas seriam ministradas por setes professoras e pretendiam, entre outras medidas, atualizar os profissionais da área da obstetrícia e da enfermagem obstétrica, fosse no pré-natal, parto ou pós-parto.

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