Descrição de chapéu USP greve

USP contratou apenas 8% dos professores temporários prometidos durante greve em 2023

Reitoria havia anunciado que 148 vagas seriam preenchidas até dezembro, mas foram apenas 12; OUTRO LADO: universidade diz que processo pode demorar

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São Paulo

Cinco meses após o fim da greve motivada pelo déficit de professores, a USP (Universidade de São Paulo) não cumpriu sua principal promessa aos alunos: a contratação de 148 docentes temporários. Até fevereiro deste ano, foram apenas 12, o que corresponde a 8% do total previsto.

Em negociação para o fim do movimento, ocorrido entre setembro e novembro de 2023, a reitoria prometeu admitir os educadores até dezembro. Eles se juntariam a outras 879 vagas efetivas já previstas até 2025.

Estudantes da USP em protesto durante a greve pela contratação de professores em 2023 - Danilo Verpa - 28.set.2023/Folhapress

Segundo levantamento realizado pela Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo), com base nas folhas de pagamento disponíveis no Portal da Transparência, apenas 7 das 42 faculdades —na capital e no interior— haviam contratado temporários de setembro de 2023 até fevereiro deste ano.

Em nota, a reitoria afirma que não houve mudanças em relação à distribuição de vagas, liberadas como mencionado no final do ano passado.

"O processo de preenchimento dessas vagas fica a cargo das unidades e passa por trâmites legais e regimentais, inclusive para distribuição interna, o que pode demorar. Além de ter várias etapas, os concursos também precisam passar por discussões em reuniões colegiadas e respeitar prazos regimentais obrigatórios", afirma a gestão de Carlos Gilberto Carlotti Júnior.

Conforme a Adusp, das 12 contratações prometidas, três foram realizadas na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, duas na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, duas na Faculdade de Odontologia de Bauru e duas na Escola de Engenharia de São Carlos.

Além disso, houve uma na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, uma na Escola de Engenharia de Lorena e uma no Instituto de Física.

Das unidades que não contrataram, 16 perderam professores temporários. Dentre elas estão a FEA (Faculdade de Engenharia e Administração), a ECA (Escola de Comunicação e Artes), a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Educação, a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e a Escola Politécnica, conhecida como Poli.

No caso de professores efetivos, as contratações tiveram mais avanço. Até fevereiro, 70 novos chegaram. O número corresponde a 8% das 879 vagas previstas até o fim do próximo ano.

Em algumas faculdades, porém, nenhum novo docente foi acrescentado ao quadro. O caso mais chamativo é o da Poli, que ainda perdeu quatro profissionais de setembro a fevereiro. A escola aderiu à paralisação dos estudantes no ano passado após duas décadas sem participar desse tipo de protesto.

No período de 2020 a 2023, a unidade responsável pelos cursos de engenharia recebeu 42 vagas, preenchendo nove. Outros 12 postos foram disponibilizados pela reitoria no pós-greve de 2023. Até hoje, nenhuma foi a concurso.

O chefe da área de contratações da Poli, Gustavo Cubas Gusmão, explica que a simples concessão da vaga não autoriza realização imediata do processo.

Segundo ele, após receber o cargo, a unidade deve decidir em colegiado seu departamento de destino. Com a distribuição aprovada, é viabilizado o início do processo para abertura do edital, para o qual inscrições devem ficam abertas de 30 a 120 dias.

O diretor da unidade, Reinaldo Giudici, diz que as etapas são complexas. "Por exemplo, só a discussão sobre a distribuição de claros [professores temporários] entre os departamentos pode levar meses, [...] além do risco da realização de provas sem indicado ou com desistência. Tivemos três casos no ano passado."

Com muita facilidade, afirma o gestor, o rito completo para admitir um professor pode levar mais de um ano. Isso explicaria porque conseguiram preencher somente nove vagas até o momento.

A falta de docentes causa problemas em algumas faculdades. No início deste ano, alunos do curso de alemão, sob responsabilidade da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas, reclamaram sobre aulas canceladas.

Graduandos da Escola de Arte Dramática, uma das mais importantes instituições de ensino de teatro da América Latina, também estão sem atividades. Em crise, a escola tem apenas cinco professores para um total de 80 alunos.

A USP ampliou, nas últimas duas décadas, o número de estudantes matriculados sem garantir o mesmo ritmo na contratação de professores. Em 2002, a instituição tinha 0,07 educador para cada matriculado, em média. Em 2022, o número caiu para 0,05.

No intervalo, a quantidade de estudantes de graduação e pós-graduação passou de 70.563, em 2002, para 93.040, em 2022 (aumento de quase 32%). Já o número de docentes foi ampliado em apenas 5%, passando de 4.804 para 5.043.

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