Famílias da PB beneficiadas por campanha contam os dias para ter cisternas
Outubro é um mês decisivo para três famílias do município de Teixeira, no interior da Paraíba. Depois de muito sofrimento para lidar com a falta de água --desde o ano passado, o semiárido nordestino enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos--, as casas de Maria Alves Batista, Umberclécia Araújo da Silva e Janaína Alves Batista receberão os materiais para a construção de cisternas.
As três foram contempladas com os reservatórios após uma campanha de arrecadação pela internet organizada em maio pelo CEPFS (Centro de Educação Popular e Formação Social), do economista José Dias, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2011.
Sem as cisternas, essas famílias dependem da água entregue por caminhões-pipa, limitada a duas latas por dia, e de açudes, que nem sempre estão limpos, além de ficarem distantes de suas casas.
SACRIFÍCIO
Perto da casa de Umberclécia, 29, o açude que servia a família estava com a água esverdeada e, depois de ver o filho mais velho com diarreia algumas vezes, ela tomou uma decisão difícil: levou-o para morar com a avó materna em Desterro (PB), cidade vizinha.
"Morro de saudades, vou visitá-lo toda semana. Ontem [dia 23] mesmo fui levar algumas coisas para ele. Mas, enquanto eu não resolver essa questão da água, não posso trazê-lo de volta. Tem semana que não tem caminhão-pipa, não dá para contar com isso", conta Umberclécia.
Ela e o marido, Rosemiro Alves Ferreira, 46, já tinham tentado driblar a seca quando se mudaram para o Rio de Janeiro. Mas não deu certo. Ela, há cinco anos, ele, há três, decidiram fazer o caminho de volta para o sertão, onde se conheceram.
"Meu filho sofreu muito, e eu também. Nem acredito que hoje está bem e perto de mim. Da última vez que fui para o Rio, ele disse: 'Mãe, quero voltar pra casa'. Hoje ele não gosta nem de falar de lá", diz Maria, 73, que é mãe de Rosemiro e mora com três netos.
A aposentada diz que já ouviu propostas para sair da zona rural, mas nunca aceitou. "Crio cabra, galinha, tenho plantação. Já me perguntaram se quero morar na cidade, e eu disse que não. Na cidade, precisa ter dinheiro, e o sofrimento é maior. Aqui no sítio tem sacrifício, mas posso viver do que planto. O maior problema é a estiagem. Com a cisterna, finalmente teremos água limpa."
TRABALHO PESADO
A obra é um trabalho pesado: o CEPFS dá as orientações necessárias, e o próprio beneficiado toca a primeira fase, a da preparação do local. Para cavar o buraco onde será feito o reservatório em sua casa e no sítio de sua mãe, Rosemiro encontrou muitas pedras, barro, mas conta que não desistiu. A obra agora está no ponto de receber o pedreiro do CEPFS e, enfim, se transformar em cisterna.
"Estamos dependendo do fornecedor para entregar o material. Isso deve acontecer nas próximas semanas. Com o material em mãos, em nove dias a obra estará pronta", afirma José Dias.
Segundo ele, Rosemiro vai receber a capacitação para aprender a construir o reservatório e, depois, poderá engrossar a lista dos pedreiros que fazem o serviço, dando-lhe uma nova oportunidade de trabalho.
"Soube que muita gente participou da campanha. Gente que nem conhece a gente. Agradeço muito e peço a Deus que nunca falte nada a eles, que souberam que eu não podia construir sozinha a cisterna e me ajudaram. Agora não vamos depender de ninguém. Vamos ter água para cozinhar, beber e guardar para a próxima seca", afirma Umberclécia.
Embora ainda esteja de olho no céu, aguardando a chuva, Maria agora tem outra preocupação: "Já disse para todo mundo. Vou comprar uma dúzia de fogos, matar umas três galinhas e fazer uma festa quando tudo estiver pronto".