Negócios criativos e sociais são instrumentos de inclusão, gerando emprego para jovens, LGBTs e populações vulneráveis. Esta é uma das conclusões do Mapeamento de Empreendedorismo Social e Criativo no Brasil, apresentado pela primeira vez na 10ª edição do Diálogos Transformadores. O evento foi realizado pela Folha nesta segunda-feira (2) em São Paulo.
Feito em parceria com o British Council e o Social Enterprise UK, o estudo da Catavento Pesquisas busca compreender a atuação, governança e dificuldades encontradas pelos negócios de impacto social no país.
"Temos duas áreas complementares que crescem muito no Brasil, o setor criativo e o empreendedorismo social, mas elas não se conversam", pontua Gustavo Moeller, sócio da Catavento.
Com o tema de "Criatividade para inclusão social e econômica", o Diálogos reuniu empreendedores sociais e especialistas para discutir os resultados da pesquisa apresentada e as ferramentas que fazem crescer a colaboração para ampliar o impacto e diminuir a desigualdade.
Para Dan Gregory, diretor de desenvolvimento sustentável da Social Enterprise UK, o maior desafio do empreendedorismo social no Brasil é a disputa entre a necessidade de ganhar escala e replicar soluções já testadas.
"Hoje falamos de impacto colaborativo e replicabilidade, porque às vezes escalar é muito difícil, mas é possível aumentar o impacto entrando em contato com outras perspectivas", disse o especialista britânico que acompanha o desenvolvimento deste campo no Reino Unido e ao redor do mundo.
Após o encontro, em parceria com o British Council e o Dice (Developing Inclusive and Creative Economies), os participantes ressaltaram a relevância de se discutir a temática, ainda mais tendo como base uma pesquisa que concretiza e enumera o que os empreendedores sociais já sentem e fazem.
"O mapeamento é importante porque ele ajuda a traduzir o que é intangível, que a gente vem trabalhando, mas não tem mensuração", apontou Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e do Pretahub e vencedora do Troféu Grão 2019. "Temos que falar de criatividade e de como a criatividade causa um impacto social. Acho que é inovador."
Cyntia Matos, outra representante feminina da bancada, destacou que a temática do evento é extremamente necessária para o empreendedorismo social no país, e enalteceu o caráter inovador do evento e sua potência colaborativa.
"Foi um encontro realmente inovador. É maravilhoso conhecer pessoas que eu já acompanhava de longe e trocar ferramentas de impacto", disse a pedagoga e educadora popular da Asplande (Assessoria e Planejamento para o Desenvolvimento).
O impacto social da discussão foi levantado por Kdu dos Anjos, fundador do Centro Cultural Lá da Favelinha, e DJ Bola, fundador da A Banca e da Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip). Para os empreendedores, a temática é pertinente principalmente por trazer soluções diretas e indiretas para questões relativas à população periférica e de maior vulnerabilidade social.
"Essa pesquisa é importante para pautar as políticas públicas e dar uma visão para os investidores sobre quem está na ponta da pirâmide", afirmou Kdu dos Anjos. "É fundamental tangibilizar a criatividade e torná-la algo palpável, porque é o caminho que vai impactar muita gente."
Para DJ Bola, a troca de experiências durante este "Diálogos" precisa ser disseminada, pois foram discutidas formas de incluir a mulher negra no mercado, por exemplo, e fazer com que o investimento chegue na base da pirâmide apontada por Kdu.
"Foi importante participar de uma mesa como essa, porque reuniu uma diversidade muito grande de empreendedores e lideranças que estão de fato fazendo ações importantes dentro e fora da quebrada", ressaltou o fundador da Anip.
O vencedor do primeiro Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2009, David Hertz, também compôs a bancada da 10ª edição do "Diálogos Transformadores". Para o fundador do Reffetorio Gastromotiva, o painel era diverso e a temática, esclarecedora.
"Gostei da diversidade do debate, tinha gente da quebrada e gente privilegiada", apontou. "É bom ver com essa clareza como os negócios são constituídos e os desafios de gestão, de equipe, e o impacto causado por essas organizações."
Gustavo Glasser, que levou o Prêmio Empreendedor Social de Futuro dez anos depois de Hertz, também foi um dos debatedores. O programador trans fundou a Carambola, empresa de tecnologia e educação que capacita e emprega minorias. Para ele, o estudo que embasou a abordagem do evento se torna importante a partir do momento que aponta os altos e baixos do empreendedorismo social.
"O mapeamento nos dá uma visão de onde estamos acertando ou errando, e esse é um trabalho importante", apontou. "Estou tentando acertar, mas o segredo de empreender é errar sempre de um jeito diferente. Acho que alguma coisa certa estamos fazendo. Estamos no início do caminho."
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