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Como a família Diniz destinou R$ 50 milhões em resposta à Covid-19

A estratégia para a segunda maior doação de pessoas físicas chegar a quem mais precisa por plataformas como Tudo de Máscara e Estímulo 2020

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São Paulo

Fundada em 2006 por Abilio Diniz para gerir os ativos e o patrimônio da família, a Península Participações anunciou doação de R$ 50 milhões em resposta à Covid-19.

Uma decisão unânime entre os herdeiros do empresário que fez fortuna no varejo e é ex-presidente do conselho da BRF, segundo Geyze Diniz.

Mulher de Abilio, ela é a porta-voz da mais recente iniciativa liderada pela família, a plataforma Tudo de Máscara.

Geyze Diniz
A economista Geyze Diniz, da Península Participações, coordendou o lançamento da plaforma Tudo de Máscara - Divulgação

Lançada nesta semana para conectar compradores e vendedores, além de fornecer informações sobre o item essencial de proteção contra o coronavírus, o movimento é um exemplo de como os Diniz definiram as estratégias e a destinação dos recursos doados.

“Não é só dinheiro, estamos trabalhando muito, doando tempo e energia”, diz Geyze. Desde 18 de março, a economista de 48 anos afirma estar “full time” na captação e distribuição de cestas básicas e em ações para equipar hospitais públicos para a emergência sanitária.

“A gente não tinha ideia do que é uma comunidade vulnerável, falando com toda humildade. Nunca estivemos tão perto. Mesmo que não fisicamente, os espaços foram reduzidos e conseguimos chegar lá”, afirma.

O engajamento começou por meio do RenovaBR e do movimento União SP, que arrecadaram R$ 17 milhões para fazer chegar alimentos nas zonas mais carentes da capital paulista, quando o distanciamento social acendeu a luz vermelha da fome e do desemprego em favelas e periferias.

“Deu orgulho de ver um grupo 100% voluntário, mas ao mesmo tempo profissional, que funcionou muito bem para fazer chegar rapidamente ajuda a quem mais precisa”, diz Geyze.

A Península teve membros do conselho, como Ana Maria, primogênita de Diniz, envolvidos na concepção, viabilização e monitoramento da ação que bateu a meta de 360 mil cestas distribuídas.

Havia ainda outras demandas igualmente urgentes. “Passadas algumas semanas, sentimos que a crise estava longe de acabar e era preciso mais apoio, tanto financeiramente quanto em envolvimento”, recorda-se Geyze.

Foi então tomada a decisão de doar os R$ 50 milhões, apoiada em estudos para definir prioridades. “É preciso uma gestão eficiente. Cada membro da família ficou responsável por uma frente”, explica a economista.

Geyze continua no eixo de segurança alimentar e abraçou a causa da disseminação das máscaras de proteção, diante da perspectiva da retomada da atividade econômica.

“Tudo de Máscara é um serviço de utilidade pública para alertar e orientar a população para o uso correto e obrigatório da máscara”, explica ela, lembrando que os países que adotaram a medida têm número baixo de mortes e contágio.

Fruto da articulação da Península, do Grupo GS& Gouvêa de Souza, e de Nizan Guanaes, da Nideias, com 18 entidades privadas, o site é também um hub que já conta com 82 fornecedores de máscaras cadastrados.

Nele, os consumidores vão poder filtrar por tipos de máscaras, indicação, quantidade desejada e estados. Não se trata de um marketplace, já que não realiza transações comerciais.

Em outra frente, foi articulada com a Granja Mantiqueira a doação de 12 milhões de ovos, para entidades como União SP, Cufa e Banco de Alimentos. Produtora de ovos orgânicos, a Fazenda da Toca, modelo agrolorestal criado por Pedro Paulo Diniz, finalista do Prêmio Empreendedor Social em 2018, também fez doações.

O eixo de fomento a micro e pequenos empreendedores foi contemplado pela plataforma Estímulo 2020, com R$ 20 milhões de capital. Abilio é um dos mentores do projeto, que levou auxílio financeiro a 200 empresas. “É um jeito de chegar dinheiro rápido para elas sobreviverem na pandemia”, explica a economista.

Em parceria com o BTG, a Península está atuando também em compra de equipamentos e contratação de profissionais para o Hospital São Paulo.

A experiência de enxergar a filantropia de forma estratégica em tempos de pandemia equivale a um MBA, compara Geyze. “Temos que olhar para frente e ver o que se pode fazer com todos os aprendizados.”

A pandemia, segundo ela, é um marco, assim como o ato terrorista que derrubou as Torres Gêmeas em Nova York em 2001. “Todo mundo sabe onde estava em 11 de Setembro.Da mesma forma, vão querer saber onde você estava e o que fez em 2020.”

Ela acredita que uma parcela da sociedade brasileira foi tocada para além do assistencialismo. "Eu me incluo nesse percentual que é capaz de mover, arrastar", diz a mãe de uma menina de 13 e de um garoto de 10 anos. "Estamos ensinando por atitudes e atos."

Para Geyze, a solidariedade está latente no país. "Tem muita gente querendo fazer o bem e continuar fazendo depois da pandemia", diz. "Quando resolvemos falar dos R$ 50 milhões foi para dar exemplo e motivar outas famílias e empresas a fazerem o mesmo."

Esse é um dos legados pós-Covid, na avaliação de João Paulo Vergueiro, diretor da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), diante do anúncio de vultosas doações de pessoas físicas nas últimas semanas.

Ele elenca os R$ 100 milhões doados pelos Moreira Salles e os R$ 50 milhões pelos Setubal e Villela, as três famílias controladoras do Itaú-Unibanco. Os Diniz aparecem empatados em segundo lugar no ranking da solidariedade entre pessoas físicas.

De acordo com o Monitor das Doações Covid-19, indivíduos e famílias respondem por 5% dos R$ 5,5 bilhões doados para minimizar os impactos do novo coronavírus o Brasil desde março.

“No mundo, os donos doam mais do que as suas empresas. Aqui, é o contrário", constata Vergueiro, diante do montante de mais de 80% angariado entre pessoas jurídicas brasileiras, como o R$ 1 bilhão anunciado pelo Itaú Unibanco para o Fundo Todos pela Saúde.

Em terras brasileiras, é inédita também a divulgação das ações filantrópicas, fato corriqueiro nos Estados Unidos, onde é muito mais forte a cultura de doação.

"Os filantropos brasileiros não gostam de falar pelo fato de no Brasil não termos uma relação positiva com a riqueza, o que acaba inibindo a publicidade em torno das doações de pessoas físicas", diz Paula Fabiani, presidente do Idis (Instituto de Desenvolvimento do Investimento Social).

Ela cita o caso de Jack Dorsey, CEO do Twitter, que usou a própria rede social para anunciar que vai doar um terço da sua fortuna para o enfrentamento da Covid-19.

A doação de estimados US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) equivale ao recorde histórico alcançado pela mobilização de 343 mil doadores brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, conforme o monitor, durante a pandemia.

São centenas de milhares de pequenas doações em 411 campanhas de financiamento coletivo e lives que já representam mais de R$ 377 milhões (7% do total) e superam em R$ 120 milhões a soma dos aportes dos mais ricos para o enfrentamento do novo coronavírus no Brasil.

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