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Mariana Nobre

O empreendedorismo social e a tendência de hiperlocalismo

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Mariana Nobre

Gestora do Atelier do Futuro, é especializada em Semiótica Psicanalítica, Clínica da Cultura, Semiótica e Psicanálise pela PUC-SP. Estudou Tendência no Istituto Europeo di Design (Cool Hunting) e Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).

A pandemia apressou a chegada de uma tendência que os futurólogos classificam como "hiperlocalismo".

Em tempos de “desglobalização” –com muitas pessoas se afastando da economia global e investindo no consumo de produtos artesanais– esse movimento comportamental reforça no indivíduo uma forte conexão local, tanto presencialmente quanto via redes sociais, de maneira remota.

As novas comunidades e suas ressignificações são projetadas com base na coletividade. Nesse cenário, o empreendedorismo social local tem muito a ganhar e a colaborar, pois temos um encontro poderoso entre o que antes parecia andar separado: a já conhecida economia criativa encontra nos pilares do impacto social a sua potência e, assim, reencontra seus valores de base e sua identidade.

Um relatório de tendências, produzido pela Worth Global Style Network (WGSN), aponta que os sentimentos predominantes no mundo contemporâneo –medo e incerteza– têm impulsionado as populações a se voltar para dentro; há uma necessidade de conforto e o desejo de ser consolado.

Essa sensação tem impacto no comportamento de consumo; na forma de nos relacionarmos com as empresas.

Nessa perspectiva, entre os efeitos mais promissores no relacionamento com o consumidor, um dos destaques será a ativação da comunidade, ou seja, reestabelecer as conexões já existentes; iniciar diálogos com pessoas de pontos de vista diferentes; encontrar novos aliados e mercados; criar espaços seguros para que pessoas possam fazer parte deles.

Alguma semelhança com o empreendedorismo praticado nas periferias do Brasil? Óbvio que sim. E a tendência é que esse movimento se fortaleça em um cenário pós-pandemia.

O novo contexto apostará na construção de economias locais e de comunidades por meio do comércio comunitário e solidário. Para os grandes varejistas, esse é um sinal de alerta: o mais indicado é que façam parcerias –verdadeiras alianças estratégicas– com empresas locais para um benefício mútuo.

A confiança do consumidor demandará a construção de cooperações inovadoras em direção ao fomento de relacionamentos com indivíduos e grupos marginalizados. Confiança, consistência e responsabilidade.

Em linhas gerais, trazer para o convívio empresarial as minorias, pois essas pessoas são vitais para a construção de ideias inovadoras e que endereçam os problemas sociais brasileiros; as dores do país. E, vemos aqui, o quanto os empreendedores sociais estão preparados para essa nova realidade que tende a crescer em um futuro próximo.

Um ponto muito relevante nessa tendência de hiperlocalismo reside no fato de que as diferenças devem ser vistas como uma oportunidade para gerar novas ideias e soluções por meio de diálogos transformadores travados entre mentalidades diferentes – em busca da descoberta de valores humanos comuns. Há uma inclinação de que vilarejos históricos sejam revalorizados; outros, construídos do zero.

Nesse contexto, o turismo local e os movimentos migratórios irão crescer, pois as pessoas estarão interessadas em criar conexões com valores culturais não hegemônicos ou um modo de vida não moldado pelos ímpetos das metrópoles.

Essa é uma oportunidade para empreendedores sociais que atuam com cultura e produtos baseados em insumos locais. As técnicas e os materiais tradicionais serão usados de uma nova maneira –adaptação do processo de confecção para agregar valor aos produtos.

Nesse futuro, profissionais criativos vão adotar uma atitude colaborativa para a construção de um porvir ancorado no diálogo, na cooperação, colaboração e transposição de barreiras.

É aqui que entra o primeiro Festival Internacional Santista de Criatividade, Inovação e Sociedade: o CriAtivar. De 24 a 27 de setembro, especialistas nacionais e internacionais –como Domenico De Masi e Brian Solis– vão debater o hiperlocalismo e os movimentos como #foracidadegrande e #beofficeless.

Por trás dessas hashtags, empreendedores autônomos e profissionais da economia criativa estão procurando cidades vizinhas às grandes capitais para construir uma nova vida, baseada em novos valores sociais.

A cidade de Santos (SP), sede do festival, vive esse movimento no qual o futuro sem pressa volta ao passado para reinventar o amanhã.

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