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Banco criado em Paraisópolis oferece crédito em dez favelas brasileiras

Prioridade do G10 Bank são jovens e mulheres negras com negócios invisíveis às instituições tradicionais

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São Paulo

Um banco nascido em Paraisópolis vai oferecer crédito para empreendedores de dez favelas brasileiras a partir de março. Jovens e mulheres negras com negócios escaláveis são prioridade do G10 Bank, idealizado por Gilson Rodrigues e grupo de líderes que buscam desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas.

A inclusão financeira deve chegar a 120 pequenos comerciantes em setores como alimentação, beleza, construção civil, logística e moda. "Vamos oferecer apoio para quem tem crédito negado", diz Gilson.

A linha de financiamento do G10 Bank vai de R$ 1.000 a R$ 15 mil, tendo Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo, como pilotos. Depois a iniciativa se estende para Rocinha e Rio das Pedras (RJ), Casa Amarela (PE), Cidade de Deus (AM), Baixadas da Condor e da Estrada Nova Jurunas (PA), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF).

O banco é uma das propostas que os líderes do G10 Favelas criaram para superar a crise econômica e garantir sustentabilidade para comunidades que historicamente sofrem com falta de políticas públicas. "O Brasil não tem como superar a crise sem olhar para as favelas", afirma Gilson.

Há um ano, o líder comunitário busca recursos para manter o Comitê das Favelas, iniciativa de destaque no Prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19. A ação impactou 100 mil pessoas e alçou a segunda maior favela do país ao posto de protagonista contra o coronavírus.

A ideia agora é transformar os presidentes de rua –voluntários que mapeiam e cuidam de 50 casas cada– em professores de educação financeira e avalistas informais em Paraisópolis.

Na primeira rodada de investimentos, foi levantado 1,8 milhão de reais. O objetivo é chegar R$ 20 milhões para cada uma das favelas, oferecendo, além de microcrédito, maquininhas de cartão, poupança e educação financeira.

Com a mentoria de empresários, economistas e profissionais do mercado financeiro, a aposta é fazer o dinheiro girar dentro das próprias comunidades, aproveitando o potencial de R$ 168 bilhões que elas movimentam por ano em todo o país, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. E, claro, manter as ações sociais que garantem o mínimo de cidadania aos moradores. "A proposta é que 33% dos lucros sejam destinados a programas como o Comitê das Favelas", afirma.

Um dos critérios para ter acesso às linhas de crédito é, segundo Gilson, ter brilho nos olhos.

O analista de sistemas Givanildo Pereira, 20, é quase invisível aos bancos tradicionais, mas está dentro do perfil que o G10 Bank busca. O paraibano quer colocar o CEP das favelas no ecommerce brasileiro.

Ele criou, em 2020, uma empresa de logística que recebe mercadorias de grandes transportadoras e as distribui nas vielas de Paraisópolis. "As entregas são realizadas pelos próprios moradores, que sabem bem a infraestrutura das ruas e utilizam bicicletas", afirma Givanildo.

Sete pessoas foram empregadas pela Favela Brasil Express, que conta com centro de distribuição de fácil acesso aos caminhões para carga e descarga de produtos. Em fevereiro a iniciativa foi vencedora do Desafio de Logística Urbana, promovido pelo Consulado do Reino Unido, que premiou soluções inovadoras na área.

"O G10 Bank vai apoiar o Givanildo para que ele também invista na favela", afirma Gilson Rodrigues.

O tal brilho também está nos olhos das cozinheiras Elizandra Cerqueira, 32, e Juliana Gomes, 35, que distribuíram mais de um milhão de marmitas em 2020 com a iniciativa Mãos de Maria Brasil.

A dupla tem um charmoso bistrô em Paraisópolis e atua com serviços de buffet, delivery e capacita mulheres em situação de vulnerabilidade social. Com a formação, diversas moradoras produziram e venderam panetones no final do ano e, agora, comercializarão ovos de Páscoa.

Moça entrega marmita em fila de pessoas que buscam refeições em Paraisópolis
Prioridade do G10 Bank são jovens e mulheres negras com negócios invisíveis às instituições tradicionais - Divulgação / Caio Caciporé

Com investimento, a ideia é que as capacitações e cozinhas comunitárias cheguem a outras comunidades do país. A segunda cozinha será implantada ainda neste mês em Heliópolis.

O "Brasil" no título de cada empresa não é à toa, uma vez que Gilson planeja conectar os empreendimentos e produtos das favelas ao mercado global. "Se dá para fazer em Paraisópolis, dá para fazer em qualquer lugar", diz.

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