Designer da inclusão
O que um retalho de oncinha, um banner empoeirado e uma garrafa PET suja têm em comum? Todas essas peças formam pedacinhos que estão ajudando a montar novos caminhos: do barraco às margens de um rio-esgoto no Rio de Janeiro a um grupo de vovós que encontrou no trabalho uma razão para viver.
Os 34 anos de vida da advogada de formação e empreendedora de vida Alice Freitas têm sido construídos assim: de juntar cacos que ela encontra por onde passa. Pouco importa a distância.
Em comum, tudo isso poderia ir parar no lixo, mas tornou-se um sopro de esperança para muita gente simples. "Essa é a minha missão", diz ela. "Uma trajetória de somar experiência e repassar know-how para ensinar e capacitar alguém para criar."
Desde 2007, Alice está à frente da Rede Asta, negócio social que trabalha com associações, cooperativas e grupos produtivos formados majoritariamente por mulheres -o nome vem de Astrea, a mais pura das deusas gregas.
Num primeiro momento, a proposta parece simplista: transformar resíduos em arte, usando a confecção de artesanato, dando um "up" na economia solidária e no desenvolvimento sustentável.
Com o slogan "bom, bonito e do bem" e a proposta de valor "inclusivo para quem faz, exclusivo para quem compra", a Asta trabalha hoje com 51 grupos que envolvem 700 artesãs -90% delas são mulheres, com renda que varia de um a dois salários mínimos. Gente que vive em favelas não pacificadas, sem saneamento, com caixa d"água furada por troca de tiros.
O LADO DE LÁ
Alice descobriu esse mundo há 12 anos, quando viajou quatro meses pela Ásia com uma amiga. Antes de irem, as duas passaram sete meses conhecendo o que de social existia "do lado de lá".
Lição de casa pronta, seguiram jornada para, além de se deslumbrarem com o outro lado da Terra, cumprirem a tarefa de pesquisar três temas: saúde, geração de renda e educação.
Em Bangladesh, aprenderam sobre microcrédito. Embarcaram numa viagem de ônibus que levava computadores para aulas de informática no interior da Índia.
"Nunca mais seria a mesma", conta Alice, ainda com um ar de perplexidade de ter saído viva de uma jornada repleta de contornos insólitos, com ameaça até de estupro.
Depois do regresso, trabalhou na ONG AfroReggae. Mas a garota classe média de Nova Friburgo (RJ), que fez intercâmbio na Tailândia aos 15 anos, queria pilotar seu próprio negócio. E é da rua General Glicério, uma das mais aprazíveis de toda a capital fluminense, sede da Asta, que Alice se conecta com produtores e compradores.
Para fazerem parte da rede, os grupos precisam ter mais de três pessoas trabalhando, estar em lugar de baixa renda e, é claro, ter um produto "vendável". A Asta não forma as equipes. Suas designers orientam, palpitam, sugerem, ajudam a criar e fornecem insumo.
"Não é para comprar para ajudar porque é coitadinho, pobrezinho", explica Alice. "Não! É porque o babado é bacana, tem design e ainda vai mobilizar a cadeia de produção do bem. É um artesanato de sobrevivência."
Quatro vezes ao ano, a Asta distribui cerca de mil catálogos para a venda porta a porta. A comercialização também é feita pelo site www.redeasta.com.br.
Hoje o foco está na produção de brindes sociais ecológicos para empresas, que fornecem insumos para que as artesãs trabalhem na criação. Banners viram bolsas, restos de jornal se transformam em porta-canetas.
"A inovação é dar um destino para aquilo que seria descartado. É a transformação do resíduo", diz a analista de comércio exterior Rachel Schettino, 36, amiga de Alice e cofundadora da Asta.
Num mercado de vibrações tão instáveis, a racional e focada Rachel admira a persistência da amiga e sócia. "Ela não desiste", diz. "A Alice é como um balãozinho. Eu? Sou o barbante que a prende, que a puxa para Terra."
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Conheça mais sobre a Rede Asta
Na última década, o Brasil teve um forte crescimento econômico e hoje é a sexta maior economia do mundo. Essa evolução tirou milhares de brasileiros da pobreza e levou 35 milhões deles à condição de classe C. Apesar do progresso, não se pode dizer que ele se deu na mesma proporção para as mulheres.
No Brasil, enquanto homens brancos com rendimento ganham, em média R$ 1.797, mulheres negras ganham R$ 691. Isso significa que homens brancos ganham quase duas vezes mais do que mulheres negras. Enquanto homens brancos ganham o dobro do que as mulheres em geral, mulheres negras, pardas e indígenas ganham quase a metade do que as mulheres brancas.
O trabalho da empreendedora social é altamente inovador. Comércio justo, consumo responsável, geração de renda e empoderamento da mulher são questões focais para inúmeras organizações de impacto em todo o mundo, porém a Asta atua de forma única, por meio de iniciativas diferenciadas --destacam-se a venda direta (porta a porta) como canal de inclusão social e econômica e a elaboração de brindes de logística reversa para empresas.
Esse perfil inovador da organização é em grande parte influenciado espelho da candidata, que demonstra forte inconformismo com a realidade e a busca incessante por transformação e potencialização das pessoas ao seu redor.
A empreendedora social foi pioneira ao criar a primeira rede de venda direta de produtos inclusivos no país --e possivelmente no mundo-- de que se sabe. No canal de vendas corporativas, um dos focos atuais, criou um modelo também pioneiro de prestação de serviços na transformação de descarte de resíduos inservíveis em produtos de alto valor agregado, o que a diferencia de organizações que produzem brindes sustentáveis de uma forma geral.
Apesar de se destacar pelo pioneirismo de seu trabalho, o tipo de inovação mais relevante da Asta é, sem dúvida, metodológico.
O modelo de atuação que construiu empiricamente inova ao atuar em todas as etapas da cadeia de valor do negócio. Ainda não provou sua efetividade, dado, sobretudo, ao tempo relativamente curto de sua existência ante a um impacto almejado de transformação social que só pode ser verificado no longo prazo. Entretanto, a organização encontra-se atualmente em um ponto de maturidade em que já testou diversos métodos de intervenção, adquiriu experiência e, dada a coerência de suas ações, vislumbra grande potencial de crescimento sustentável, com impacto real e efetivo.
Em uma ponta, criou uma rede de grupos produtivos que não só passam a ter acesso a mercado com os itens que produzem, mas também fortalecem-se em termos de capacidade empreendedora, gestão e autoestima, principalmente no caso de mulherese de baixo poder aquisitivo. Transversal a toda essa cadeia, o consumo responsável e o comércio justo. Em vez de cadeia, aliás, faz sentido chamá-la de ciclo de valor agregado.
Extraído e adaptado de "Workshop Accenture", enviado para avaliação
Em relação aos canais, a venda porta a porta foi em um primeiro momento um dos grandes diferenciais da Asta, até hoje a única a investir nesse modelo no país. A comercialização de produtos é feita por meio do contato direto com o consumidor, dispensando a necessidade de um ponto-de-venda permanente e conferindo um caráter de pessoalidade fundamental para a transmissão dos conceitos de comércio justo e consumo responsável, em um mercado em que o único e o customizado são diferenciais competitivos.
Já no segmento corporativo, a vantagem competitiva se dá pelo posicionamento diferenciado, em que não se coloca como "vendedores de brindes sustentáveis", mas sim como prestador de serviços de consultoria para transformar o problema de descarte de resíduos inservíveis em produtos com design e qualidade, a serem distribuídos aos stakeholders.
Não há indícios de pontos fracos ou ameaças que coloquem em risco a continuidade do trabalho da Asta.
A empreendedora social trabalha com diversos canais de vendas, além de ter capilaridade entre os grupos produtivos, revendedoras e parceiros, sem dependência de nenhum ator-chave em específico.
Segundo dados informados pela organização, a Asta vem aumentando consistentemente seu faturamento anual ao longo de sua existência (crescimento de 243% de 2009 a 2012). Nesse período, vem testando de forma cautelosa diversas estratégias e modelos de negócio, corrigindo erros e aprimorando os canais de vendas, de forma a vislumbrar forte crescimento sustentável para os próximos anos. O investimento no canal corporativo deve se tornar o carro-chefe nessa trajetória.
Durante a visita de avaliação, na semana em que a Asta teve um pico de vendas ocasionada por uma reportagem no canal Globo News, verificou-se alto grau de organização e capacidade operacional ociosa, o que abre espaço a esse crescimento a baixo custo ao menos no curto prazo.
O relacionamento em geral com colaboradores, parceiros, patrocinadores e beneficiários é aberto, acessível e transparente, com canais eficientes de comunicação e/ou prestação de contas regulares. Trata-se de importante aspecto para sua vantagem competitiva, por seu perfil multistakeholder.
Sobrecarregada e sem assistentes diretos, quando o relacionamento depende diretamente da empreendedora social, no entanto, pode demandar tempo maior de espera.
Não existe uma avaliação sistematizada de desempenho da organização para esse público relacional mais amplo nem tampouco a aplicação de ferramentas de CRM (gestão de relacionamento com os clientes).
As informações referentes a parcerias financeiras e clientes corporativos não apresentam consistência entre os documentos enviados para análise, pois as entradas aconteceram em etapas e em diferentes anos fiscais, impedindo a classificação por ordem de importância. O que se pode depreender, em linhas gerais, é que os principais patrocinadores de projetos ou clientes corporativos em 2013 são: Instituto Coca-Cola; IAF (Inter-American Foundation); Caixa Econômica Federal; L"Occitane; Tetra Pak; Ipiranga; Accenture.
O orçamento anual de 2013 é estimado em R$ 1.743.000.
Considerando que a Asta atua em diversas frentes de causas (comércio justo, consumo responsável, geração de trabalho e renda etc.) com diferentes stakeholders, espera-se um impacto de grande amplitude e profundidade comprovada no longo prazo.
Na tabela a seguir, traduzida, atualizada e adaptada de estudo elaborado pela consultoria francesa Planète d"Entrepreneurs em 2011, pode-se verificar o mapa do impacto social da Asta em suas múltiplas extensões.
De acordo com a empreendedora social, os beneficiários (integrantes dos grupos produtivos) apresentam o seguinte perfil:
- Cerca de 90% são mulheres, católicas ou evangélicas, com primeiro grau incompleto;
- 37% delas são chefes de sua família, e 71% dos grupos produtivos são compostos apenas por mulheres;
- A renda obtida com o trabalho dos grupos é variável, mas vai de R$ 100 a R$ 2.000/mês por artesão;
- 54% das artesãs dizem que há rotatividade de pessoas, principalmente no início do grupo, por receberem proposta de salário ou remuneração fixa em subempregos;
- 50% dos artesãos têm naturalidade nordestina;
- 71% estão na faixa de 31 a 60 anos;
- Em relação à qualidade de vida, a média de pessoas que moram com os artesãos é de 4,05;
- A saúde é considerada razoável;
- 100% têm acesso a posto de saúde e hospital;
- 90% têm coleta de lixo regular (por empresa ou por agentes comunitários);
- 32% têm renda familiar entre um e dois salários mínimos;
- A renda do artesanato ajuda principalmente a pagar contas de luz, gás e telefone e, em segundo lugar, alimentação;
- 76% dos grupos localizam-se na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e o restante em outras cidades do Estado (Araruama, Nova Friburgo, Natividade, Porciúncula e Itaguaí) ou em outros Estados da federação (Pernambuco, Goiás, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba e Sergipe). Todos ficam em regiões de baixo poder aquisitivo.
Diretamente, foram beneficiadas, desde a fundação, mais de mil pessoas.
Pesquisa realizada pela própria Asta com os artesãos apontou que, em média, cada produtor vive com mais 4,05 pessoas na mesma casa. Seus beneficiários indiretos levam em conta esse fator de multiplicação, uma vez que a renda gerada na maior parte das vezes beneficia a família como um todo. Atualmente, são 2.506 familiares de artesãos beneficiados.
Com sede no Rio de Janeiro e representação em São Paulo, trabalha com grupos produtivos principalmente na Região Metropolitana do Rio e em outras cidades fluminenses como Araruama, Nova Friburgo, Natividade, Porciúncula e Itaguaí. Também atua em outros setef Estados: Goiás, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, São Paulo, Paraíba e Sergipe.
Não houve ou há escolha do coordenada do local de atuação por estratégia, a exceção da representação em São Paulo, devido a seu potencial de mercado. Em geral, ela se dá de forma orgânica, por demanda de parceiros (como o trabalho em Belém com o Instituto Coca-Cola); pela prospecção ainda aleatória de clientes da Asta para Empresas, no projeto Ciclo; pela procura ativa e passiva de grupos produtivos e de revendedores.
A candidata vislumbra a expansão em formato similar ao de franquia social.
"Precisamos vender em média R$ 230 mil por mês para chegar ao ponto de equilíbrio. Para isso precisamos tornar a marca mais conhecida no mercado, sendo proativos na comunicação. Com esse faturamento, sustentaremos toda a estrutura da Rede Asta. Quando as replicações se iniciarem, os custos para as redes regionais serão muito mais baixos, já que a Asta Rio irá oferecer um pacote de ferramentas prontas para que as "subsidiárias" não precisem ter custos altos com suas administrações", planeja Alice.
Segundo ela, a expansão se dará por parcerias com organizações que realizam apoio a grupos produtivos locais ou estimulem as produções artesanais. "Levaremos nossa metodologia de seleção e capacitação de grupos produtivos. em especial a de criação de coleções altamente vendáveis. Tais grupos serão incluídos em nossos canais de venda para que consigam se sustentar com facilidade e ganhar experiência com produções constantes até que se sintam aptos para atuarem em outros mercados." Outro vetor de extensão será o site, com potencial de atingir públicos em todo o mundo dentro da divulgação do conceito de consumo responsável.
Escalabilidade do impacto é desejo da candidata para o médio prazo.
Como os métodos de seu trabalho foram desenvolvidos e formatados a partir de testes empíricos, a replicação deverá ser centralizada na Asta Rio e acompanhará a capacidade operacional da equipe.
Não há impacto direto em políticas públicas. "Todos os poucos setores do governo que trabalham com fomento a produção artesanal são incipientes em recursos humanos e financeiros, não entendem o alto potencial existente em nosso país e realizam ações pontuais. Todas as vezes que tentamos nos aproximar oferecendo apoio não conseguimos continuar o contato", justifica.
É também uma questão de foco, de acordo com o estágio em que se encontra: sendo um negócio social na área do comércio, aprimorar as ferramentas e modelos para um impacto direto superior torna-se primordial.
Entretanto, o trabalho em parceria com o poder público ou órgãos de fomento ao empreendedorismo e a participação ativa em conselhos e consultas públicas podem, sim, se tornarem mais relevantes para um resultado mais efetivo nos eixos temáticos em que atua, incluindo economia solidária, comércio justo, empoderamento da mulher, inclusão social e pobreza, microempreendedorismo, negócios sociais e consumo responsável.
A Asta tem como visão "fazer do consumo uma ferramenta de inclusão".
A equipe de avaliação não teve acesso a planejamento estratégico ou plano de ação formal, embora haja um mapa estratégico desenhado pela Accenture em 2011 e o relatório de linha de base da Zigla (2012), com orientações para o futuro. Durante a visita à organização, porém, não faltaram menções a planos de mudanças concretas, o que reflete bem o perfil pragmático com forte senso de urgência da candidata. Entre eles:
- gerenciar os novos rumos da organização, cujas vendas corporativas já representam 58% do total, contra 18% do porta a porta, até então seu carro-chefe (e canal preferido da candidata em termos conceituais e ideológicos;
- errar as atividades do showroom em São Paulo para que a representante possa direcionar esforços nas vendas corporativas;
- passar a mapear os resíduos de empresas de forma proativa, prospectando mais oportunidades nesse setor;
- implementar as estratégias de branding realizadas pela designer Ana Couto, em que migra da imagem de organização social sem fins lucrativos para a de negócio social (e reforça o nome Rede Asta em vez de Asta);
- mudar o sistema de remuneração das revendedoras (chamadas internamente de conselheiras), diminuindo a comissão das vendas diretas de 22% para 10%, sob argumento de que o percentual não é diferencial para elas, mas, sim, para manter a estrutura da Asta;
- diminuir a periodicidade de distribuição dos catálogos de quatro vezes ao ano para duas, intercalando com microcoleções a serem divulgadas por e-mail marketing e lâminas impressas mensalmente;
- potencializar as vendas no canal e-commerce, hoje responsável por apenas 8% das vendas;
- um plano distante é criar a Escola de Artesãos para capacitá-los em design e técnicas de produção, visando aumentar o valor agregado de seus produtos -e, consequentemente, a renda auferida.
A Asta trabalha com quatro canais de vendas (porta a porta, e-commerce, loja/showroom e empresas), cujo percentual de faturamento se distribui da seguinte forma:
Venda direta
Foi escolhida inicialmente como canal de vendas principal por oferecer um caráter de pessoalidade que permite mostrar as histórias de vida por trás de cada produto. O catálogo é a principal ferramenta nesse canal e funciona não só para a venda, mas para informar, falando sobre cada um dos grupos e seus produtos, técnicas artesanais, matéria-prima usada, comércio justo e dicas de consumo consciente. Também contribui para gerar visibilidade aos grupos: 3.000 exemplares distribuídos a revendedoras a cada estação, ou seja, quatro vezes ao ano.
Uma vantagem desse modelo é que oferece receitas mais estáveis. Contudo, traz altos custos logísticos e de estoque, com baixa margem, razão pela qual vem perdendo espaço para as vendas corporativas, ainda que permaneça como o canal símbolo da Rede Asta.
Asta para Empresas Essa estratégia de vendas é baseada em brindes corporativos feitos por artesãos que reciclam materiais de produção da cadeia de valor das próprias empresas. O modelo tem custos mais baixos de estoque e logística, além de criar um mecanismo de geração de renda mais elevado, porém ainda tem retorno instável para os grupos produtivos. As vendas ficam a cargo da cofundadora da Asta Rachel Schettino, ex-executiva de multinacional com forte tino comercial.
São três tipos de atuação de acordo com as demandas de cada empresa:
1) projeto Ciclo
Para empresas interessadas em criar projetos de geração de renda moblizando pequenos negócios locais em seus entornos usando os próprios resíduos como matéria-prima. A organização identifica e treina grupos em todo Brasil, monta uma coleção de produtos personalizados com os resíduos em parceria com designers, coleta e trata os resíduos da empresa, coordena as produções dos grupos e entrega as peças criadas para a empresa.
Exemplos:
- com 30 mil m2 de lonas vinílicas usadas nos antigos postos Texaco das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, recém-adquiridos, a Ipiranga contratou a Asta para produzir, com três grupos produtivos selecionados e treinados, 30 mil peças criadas por designers;
- para reutilizar placas e pastilhas produzidas a partir das embalagens recicladas, a TetraPak contratou a Asta a fim de apoiar a criação de produtos e a capacitação dos atendidos da ONG Avape (inclusão profissional de deficientes), em São Paulo, parceira da empresa, que obteve renda com a venda dos artigos;
2) projeto Upcycling
Para empresas interessadas em transformar seus resíduos em brindes corporativos. O papel da Asta é coletar os resíduos da empresa, montar produtos para serem aprovados como brindes, produzir com grupos produtivos integrantes da Rede Asta e entregar os produtos finais na empresa, que paga apenas por esses produtos.
Exemplos:
- para a Oi, os artesãos da Asta reutilizaram banners, capas de poltronas e uniformes descartados pela empresa e não poderiam ser jogados fora por questões de segurança, já que o material continha seu logotipo, gerando R$ 13 mil em renda para 20 costureiras, mil uniformes, 1.800 metros de banner e 700 capas de poltrona reaproveitadas;
- para a Lafarge, os grupos produtivos reaproveitaram sacos de cimento que eram perdidos no transporte (ao empilhar no caminhão os sacos estouravam) para a criação de bolsas, sacolas e cases de laptop, gerando R$ 2.500 mil em renda para cinco pessoas, mil sacos de cimento reaproveitados e mil peças produzidas.
3) produtos sustentáveis
Para empresas interessadas em comprar produtos diferentes que mobilizem uma cadeia produtiva do bem. É a forma tradicionalmente mais encontrada no setor (e por isso menos prioritária), em que se oferecem produtos feitos com diversos materiais que podem ou não ser reaproveitados ou reciclados, sempre produzidos por grupos produtivos integrantes da Rede Asta.
E-commerce
Canal de vendas pela web. Divididas em categorias, as peças desenvolvidas pelos grupos produtivos são apresentadas com fotos, preços e o material utilizado em sua fabricação. Busca simplificar e agilizar o processo de compra e o consumidor recebe em casa os itens selecionados. Atualmente atende exclusivamente ao mercado brasileiro, mas existem planos para uma expansão internacional até o final deste ano.
Loja e showroom
A Asta tem uma loja no bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro, onde se localiza um dos escritórios, e uma representação comercial em São Paulo, em Moema, também na zona sul.
A loja serve de vitrine para mostrar os produtos, com foco em visibilidade e construção de marca.
Inicialmente não era um canal relevante de vendas, porém, com a mudança para o local atual, em uma rua mais acessível, responde por 12% das vendas atuais e tornou-se um modelo a ser testado pela empreendedora social no crescimento da organização.
DEPOIMENTOS
RITA COUTO, 60Líder do grupo de artesãs Meninas Prendadas, de Ramos, Rio, uma das fornecedoras da Rede Asta
"Moro num sobrado com vista para o teleférico do Alemão, mas só uso a parte térrea.
Os quatro cômodos, além do quintal, vivem cheios de gente. É uma espécie de botequim, um espaço de terapia e trabalho, onde gargalhadas se misturam a lamentos, embaralhados pelo barulho constante das nossas máquinas de costura.
Aqui, desde junho de 2010, funciona a sede da Meninas Prendadas, grupo que reúne 12 artesãs, de 45 a 75 anos, casadas, separadas e viúvas, que, além de retalhos, utilizam revistas e jornais em suas criações. Dino e Dina que seguram portas são alguns dos produtos criados para o catálogo da Asta. São 50 peças por mês, fora o que a gente vende nas feiras no Rio.
Aqui, entra quem quer e sai quem deseja. Uma regra é fundamental: não se pode falar de quem não está presente e tem que gostar de falar muita abobrinha.
Com um olho, supervisiono a confecção. Tem gente que sabe costurar, bordar, fazer crochê. Com o outro, o entra e sai das meninas. Aprendi a ter paciência e sabedoria para ouvir: tem dias que a gente se reúne só para desabafar.
Depois que elas vão embora, vasculho a internet atrás de referências, técnicas de criação e modelos para aprimorar o artesanato. No dia seguinte, parte da criação tem o meu dedo. Adoro dar palpite.
E olha que tudo isso eu faço sentada numa cadeira de rodas. Um mês depois de completar 18 anos, cai de um pé de abacate. O médico disse que eu iria vegetar pelo resto da vida numa cama. E olha eu aqui. Mas gosto mesmo é de falar de coisas boas.
Comando essas meninas com muito carinho...no chicote e na chibata.
O trabalho com a Asta mudou nossa vida, nos deu um novo direcionamento, um interesse em criar, produzir coisas novas. A Asta nos renovou!"
Frases sobre a empreendedora social e seu trabalho
"Nasci e fui criada para ser e viver submissa ao meu marido. O trabalho me mostrou que eu posso mais. Eu era uma mulher que precisava levantar o dedo para falar.
"Agora, com o meu trabalho, vejo que meus filhos percebem que a mãe deles está tentando mudar a nossa vida. Ele é a minha aposta para eu conseguir juntar o dinheiro que preciso para comprar uma casa aqui na comunidade. Se não fossem as meninas da Asta para mostrar que, sim, o meu trabalho vale a pena, eu me sentiria eternamente frustrada. É o artesanato que me levanta. A Asta me ajudou a não me transformar numa dona de casa, me ajudou a não parar no tempo. E, foi graças ao meu trabalho, que eu consegui, pela primeira vez, comemorar o aniversário da minha filha de 18 anos. E num rodízio de pizza."
ANA LUCIA DA SILVA FRANCO, 39
mãe de 3 filhos, artesã do Grupo Fuxicarte, da Favela do Sossego (zona norte do Rio)
"Ela [Alice] não desiste. Não tem medo de arriscar. É como um balãozinho. Eu sou o barbante que a prende, que a puxa para Terra."
RACHEL SCHETTINO, 36 sócia-fundadora da Asta
"A Alice tem a maturidade de endurecer sem perder a ternura. Mas nossa militância ocorre em espaços diferentes. Por um tempo, pretendo ficar do lado negro da força, porque preciso dar sustentabilidade em casa."
FAUSTO ROGÉRIO AMADIGI, 34
marido de Alice, coordenador de sustentabilidade da Sete Brasil
"Uma pessoa que joga lixo na rua tem consciência de sustentabilidade? Ainda é algo novo. [Os produtos do catálogo] são um trabalho de artista, exclusivos, que agradam todas as classes sociais."
MARCO REIS, 53
jornalista e consultor da Asta