Ex-hippie vende soluções verdes para uma metrópole mais sustentável
Ele nunca teve carteira assinada. Cursou artes plásticas na USP (Universidade de São Paulo), mas não queria ser artista. Migrou para a educação.
Das boas práticas de seu estilo de vida sustentável, passou a bancar a família à frente de um negócio social fincado em São Paulo, mas batizado de Morada da Floresta.
Com uma composteira prática, que usa minhocas para transformar lixo doméstico em adubo orgânico, Cláudio Spínola, 40, criou um produto que é referência nacional.
Nascido em Brasília, em 1976, morou na Asa Sul da capital federal e lembra de brincar na rua como no interior.
Bem mais novo que os quatro irmãos, entrou na adolescência meio punk, "revoltado com o sistema". Aos 16, mudou-se para São Paulo. O pai vinha dirigir o Instituto Mackenzie.
O impacto foi grande, lembra: "Da janela do meu prédio eu via mais um prédio e mais um e mais um, sem horizonte, sem céu. Esse choque me influenciou nas escolhas depois, sempre querendo resgatar a natureza."
Na hora do vestibular, não conseguia escolher a profissão. Todas contribuíam para "a manutenção do sistema".
Entrou na USP em 1995. "Fui ficando mais hippie." Mudou-se para uma república e entrou em contato com as ideias da permacultura, sistema de pensamento nascido na Austrália nos anos 1970, que tem como práticas agricultura orgânica, cooperativismo e educação ambiental.
Sem querer morar na metrópole, saiu em viagem com um grupo pelo Brasil em um ônibus, o Bus On Ganesha. Percorriam festivais de ecologia e encontros de ecovilas levando cursos e oficinas.
Depois de um ano e meio, em 2006, em um Encontro Nacional de Comunidades Alternativas, conheceu Ana Paula Silva, 33, que tinha saído de São Paulo querendo mudar de vida.
INCÊNDIO E PAIXÃO
Um incêndio destruiu o ônibus e impediu o casal de seguir com a caravana. De volta a SP, Spínola gastou as economias na compra de um carro, roubado em seguida. "Cheguei ao fundo do poço."
Transformou a casa na zona oeste, comprada com a ajuda da família, em uma comunidade ecológica de verdade. Passaram a convidar expoentes do movimento das ecovilas para cursos e workshops no espaço que começa a abrigar também o espírito empreendedor do dono.
Quando nasceu Violeta, 8, a primeira filha, o casal optou por fraldas de pano para evitar as descartáveis, vilãs do ambiente por não serem biodegradáveis. Com modelos do Canadá, Ana Paula Silva passou a produzir e vender fraldas modernas de pano.
Ao mesmo tempo, Spínola iniciou a fabricação artesanal do hoje carro-chefe da Morada: a composteira de gavetas de plástico empilháveis, com torneira para a saída do adubo líquido, que não dá cheiro e pode ser usada em casa ou em apartamento. Com o crescimento do negócio e o nascimento do segundo filho, Micah, a casa deixou de ser comunidade e passou a abrigar apenas a família e a empresa.
COMPOSTA SP
A experiência acumulada levou o negócio social a ser chamado pela prefeitura para o Composta São Paulo, em 2014. Marco no tratamento do lixo orgânico na capital paulista, o projeto distribuiu 2.006 composteiras para famílias selecionadas entre as mais de 10 mil cadastradas.
O custo de R$ 800 mil saiu de um acordo com as empresas Loga e Ecourbis, responsáveis pela coleta da cidade.
"Foi o mais importante projeto de que participei. Mostrou que é possível fazer compostagem urbana em São Paulo", diz Spínola.
O desafio de entregar milhares de encomendas em três meses ajudou a estruturar a empresa. "Cláudio foi um grande parceiro. Precisávamos de alguém com experiência, e a Morada é respeitada nas práticas de descarte", diz Simão Pedro, secretário municipal de Serviços.
"Ele tem a militância alegre típica das pessoas que anteveem um futuro melhor", diz Lúcia Salles, funcionária da prefeitura que acompanhou a gestação do Composta SP.
Ricardo Young, vereador pela Rede, também destaca o papel precursor do fundador da Morada da Floresta. "Ele tem integridade e coerência: faz o que prega."
Spínola reconhece o processo orgânico de se tornar empreendedor. "Tudo começou com práticas internas, para estar em paz com nossa consciência. Aos poucos, viraram produtos e serviços."
A adesão à prática de compostagem, diz, muda a vida da clientela. "As pessoas ficam eufóricas, a composteira vira ponto turístico da casa."
No momento, Spínola está desenvolvendo um novo projeto de minhocário para 2017. "Veia de empreendedor sempre tive. Não fiz administração nem tenho conhecimento contábil. Aprendi para gerar impacto positivo."
Ele usa uma imagem para resumir sua trajetória. "Os visionários, no início, são diferentes dos outros. Aos poucos, a visão começa a virar alternativa ao sistema. Depois, é tendência até virar cenário."
Nesta toada, ele aposta que o tratamento de resíduos orgânico domésticos, de casa em casa, vire logo cenário.
USINA DE PERMACULTURA
Uma república de estudantes fundada nos anos 1990 que evoluiu para negócio social. Assim Cláudio Spínola define a sua Morada da Floresta.
Há sete anos como empresa, a Morada elabora e vende produtos e serviços para estimular práticas sustentáveis. Seus focos são resíduos orgânicos, fraldas de bebês e absorventes.
Em um sobrado da zona oeste de São Paulo funciona o seu laboratório de permacultura viva, onde se pratica culinária vegetariana, consumo consciente, e há sistemas de captação da água da chuva, utilização da energia solar, cultivo de horta e compostagem de resíduos.
Além de soluções prontas para o consumo, como as composteiras com minhocas, seu produto mais conhecido, a Morada faz projetos para implantação de sistemas combinados de horta e compostagem para casas, escolas, empresas, instituições e entes públicos.
Sedia ainda cursos e vivências em temas como hortas em apartamentos ou cultivo de abelhas sem ferrão. A Morada pode ser conhecida em visitas ecopedagógicas para ver todas essas práticas.
Para além dos resultados particulares de cada projeto, a força do negócio reside no caráter educativo de suas ações e exemplos, que buscam semear transformações de longa duração, acredita Spínola. "A existência de um espaço ecológico como o nosso na cidade inspira e mostra que é possível mudar os hábitos."
A pegada positiva pode ser verificada em alguns números. Na compostagem doméstica, por exemplo, consideradas as vendas de todas as composteiras, estão sendo compostados nas caixinhas com o selo da Morada da Floresta cerca de 7,5 toneladas de cascas de frutas, restos de legumes e verduras e demais sobras do preparo de comida a cada dia.
Esse volume de resíduo deixa de alimentar a rede custosa que se estabelece no trajeto de caminhão entre as portas das residências e a destinação final, no melhor dos casos um aterro sanitário, e no pior deles num lixão.
Com a compostagem, esse resíduo é retido em casa e, misturado a folhas secas ou serragem, é transformado e gera, em cerca de dois meses, adubo granulado e fertilizante líquido, ideais para alimentar hortas domésticas, fazer ninhos de mudas e fortalecer os jardins.
Cerca de 52% do lixo doméstico é de material orgânico e cada brasileiro produz em média 1 kg de resíduos por dia.
Além das pessoas que compram as composteiras, há as que aprendem a fazê-las com baldes, através dos vídeos tutoriais que a Morada da Floresta colocou no ar. No canal do YouTube, um deles tem 360 mil visualizações, de 2012 até hoje.
Nas fraldas não-decartáveis, o impacto também é alto. Do ponto de vista ambiental, considerando que cada bebê consome cerca de 6.000 unidades, o cálculo é de que com as vendas dos sete anos de produção foram subtraídos do caminho do aterro sanitário ou de lixões cerca de 4,8 milhões de fraldas.
Do ponto de vista da economia familiar, em vez de gastar cerca de R$ 5.000 na compra dos produtos descartáveis, o desembolso se reduz a R$ 1 mil em fraldas de pano.
MUDANÇA DE HÁBITOS
A mudança de comportamento que as novas práticas provocam é atestada por vários participantes dessas iniciativas. É o caso de Amélia Marques dos Santos, que mudou sua rotina e já se acostumou a passar diariamente antes do almoço na horta de seu condomínio para apanhar verduras frescas, como couve e alface. "Às vezes desço também à noite, com uma lanterna, para pegar erva cidreira para um chá."
Esses hábitos simples vieram depois que o condomínio Altos do Butantã, (que tem mais de 400 apartamentos) implantou um projeto de reaproveitamento dos resíduos orgânicos encomendado à Morada da Floresta, em junho de 2015.
A ideia era antiga, conta o síndico Rogério Trava, mas faltava escolher o melhor método para mudar a relação dos moradores com o lixo.
"Para nós não dá trabalho nenhum. Descasco os legumes e frutas e jogo no lixinho da pia. Um dia sim, outro não trago para o térreo, onde fica a compostagem", diz Maria José, também moradora do condomínio. "Acho que em qualquer conjunto dá para fazer", diz. "Quando começou, não sabia como seria. Mas, depois de quatro meses, quando vi o resultado, com o composto adubando as plantas e diminuindo o lixo, achei maravilhoso", completa.
"Tenho orgulho do lugar onde vivo, porque tem impacto ambiental menor", diz o síndico. "A facilidade de pegar as coisas na horta é agregadora. As pessoas criaram vínculos e a convivência melhorou. Até os conflitos do condomínio diminuíram."
E a economia não é nada desprezível. Os R$ 10 mil que eram gastos em seis meses com a compra de sacos plásticos para acondicionar o lixo, foram abatidos para R$ 3.400.
"Me sinto orgulhosa da experiência. A gente se sente feliz", diz Amélia.
Em um ano de projeto, o engajamento dos moradores é na separação de orgânicos em cada apartamento para alimentar a composteira é de 40%. Mesmo assim, a horta é livre para todos.
Além disso, há adubo de boa qualidade e sem custo para a horta e para o jardim do conjunto. A pegada ecológica diminuiu. São duas toneladas diárias a menos no lixo. Na composteira, os orgânicos geram uma tonelada de composto. "Outro dia vi um pai descer com sua filha para explicar todo o sistema. O processo é educativo. O retorno de tudo isso é grande, tanto do ponto de vista do dinheiro quanto do ponto de vista pessoal", conclui o síndico.
Nos Jardins, área nobre da capital, a mesma transformação acontece no apartamento da arquiteta Renata Portenoy em plena avenida Faria Lima. Só que ali foi o desejo de ter uma horta é que levou a moradora a fazer compostagem. "Eu já reciclava os resíduos secos e, quando comecei a fazer horta, senti falta de um recurso para adubar meu cultivo de forma natural."
Ela buscou um fornecedor e achou a Morada da Floresta. Comprou o kit de composteira plástica e hoje se orgulha de ter adubo para a horta que ela mesma faz e ainda fornecer para a mãe e para amigos. "O processo resgata valores que estão muito perdidos hoje em dia. Faz a gente se sentir mais responsável. Não é difícil desperdiçar menos", diz.
ESCOLAS ORGÂNICAS
A expertise da Morada da Floresta levou à escolha da empresa como consultora e executora local do projeto Escolas Mais Orgânicas. "Educação ambiental é fundamental para alavancar mudanças. Por isso, pensamos em envolver a rede de escolas da Prefeitura de São Paulo em um projeto de implantação com acompanhamento constante", diz Simão Pedro, secretário municipal de Serviços.
Assim, no início de 2016, 15 escolas municipais que já possuíam algum projeto ligado à compostagem e horta foram convidadas para participar.
Houve um intercâmbio de técnicos de São Paulo e da cidade de Copenhagen, na Dinamarca, para preparar o projeto. Foi criada uma plataforma de comunicação entre as escolas, além de encontros para discutir as experiências.
Os recursos vinham da coalização do clima, a CCAC (da sigla original Climate and Clean Air Coalition), da UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a realização foi feita pela ISWA (Associação Internacional de Resíduos Sólidos), com coordenação local da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).
Além da plataforma de comunicação entre as escolas, o projeto produziu um manual de boas práticas, fruto das experiências vividas, com orientações técnicas para facilitar a gestão dos resíduos orgânicos nas escolas através da compostagem.
Gabriela Otero, da Abrelpe, que participou do projeto, diz que o impacto positivo vai além da mudança de destino do lixo. "As pessoas passam a se reunir e a olhar para alimentação mais saudável através da prática das hortas. Além disso, a boa gestão de resíduos impacta nas mudanças climáticas", diz. "A Morada, como é pioneira nisso, foi um parceiro fundamental."
Na EMEI Anísio Teixeira, escola municipal que tem 41 anos de funcionamento, a compostagem entrou na sala de aula, literalmente. Após o lanche, as crianças mesmo picam os restos e levam para as caixas de minhocas.
Na área externa, foi construído um canteiro para a horta. "O cuidado com o ambiente se aprende no contato", diz Simone Kenji, a diretora que está na escola desde 2008. Com os produtos da horta, os alunos fazem bolos e outras preparações.
Essas atividades acabam entrando na vida das famílias. Depois de aprender a fazer bolo de cenoura na escola, Simone conta que um aluno convidou o pai para cozinharem juntos em casa. Para ela, a história ilustra como os hábitos sustentáveis humanizam as relações e caminham da escola para a casa.
COMPOSTA SÃO PAULO
Mas o caminho também pode ser da casa para a escola, como foi o caso de Joaquim Félix. Hoje gestor ambiental do Colégio Dante Alighieri, ele mora em apartamento e não pensava que poderia fazer compostagem ali até que soube da existência do Composta São Paulo, em 2014.
O projeto da parceria da Morada da Floresta com a prefeitura da capital paulista distribuiu composteiras para famílias de todos os estratos sociais. Entre os 10 mil inscritos, Félix foi um dos 2 mil contemplados com sua composteira. Seguiu todas as orientações, participou das oficinas e da rede de apoios e esclarecimentos via Facebook e adorou. "É apaixonante", diz Félix.
"Hoje, em casa, o bicho de estimação é a minhoca", brinca. Os filhos de 7 e 12 anos participam ativamente. "Alguns hábitos mudaram. Passamos a consumir mais algumas frutas em detrimento de outras para dar comida para as minhocas."
A experiência doméstica fez com que Félix propusesse para a escola onde trabalha uma iniciativa do gênero. "Achei que cabia perfeitamente na proposta educacional do Dante."
A escola topou. Lá, são 545 refeições por dia, o que representa 150 kg de resíduo orgânico. Foram comprados então 10 kits de minhocários, onde são compostados diariamente de 70 a 80 kg do total.
"Os ganhos são muitos. Você consegue mudar os hábitos, quando envolve a área pedagógica", diz Félix. Resolvido o problema dos resíduos orgânicos, apareceu um novo elemento: o composto orgânico. O que fazer com ele? "O diretor da escola resolveu fazer uma horta no telhado", conta.
Nela, são plantados beterraba, cenoura, couve e alface. Todo o resultado do cultivo é doado. "É o ciclo se fechando", diz Félix. "E tudo começa lá atrás, com a separação adequada. Fazendo a separação, você vê que não existe lixo."
É nas aulas de biologia do Dante que os estudantes têm contato com o tema. "O Brasil é um dos países que mais usa agrotóxico e o adubo orgânico poderia ser uma solução para mudar isso", diz a aluna Gabriela Marcondes, do sétimo ano.
ECONOMIA
Uma solução para cortar custos era o que procurava, há dois anos, Marcelo Moura, da Cecil Metalurgia, localizada em Cotia [a 35 km de São Paulo]. A empresa gastava muito com os resíduos do restaurante dos funcionários, que serve 500 refeições por dia.
O lixeiro tinha de passar duas ou três vezes por semana. Para aguardar essa coleta, o material residual tinha de ficar acondicionado em um freezer, de forma a evitar decomposição e mau cheiro. Estudaram algumas alternativas. A incineração foi descartada por causa do grave dano ambiental que causaria.
"Fomos procurar um sistema em consonância com a ecologia", conta Moura. "Chegamos na Morada da Floresta, que desenvolveu um programa". "O que é fantástico é que não temos que mandar nada para fora daqui, onde poderia gerar poluição", diz Marcelo.
"Hoje temos 33 torres de compostagem, para o gasto diário. Desde a implantação, em 2010, já foram mais de 30 toneladas para fazer composto. O produto, a gente espalha entre as árvores". A mão de obra é muito pequena, afirma ele.
E a redução de gastos foi significativa. "Gastávamos R$ 3.000 por mês e passamos para R$ 500. O investimento se pagou em menos de um ano", conta. "Precisava ter uma legislação que obrigasse as pessoas a fazerem isso. Porque é muito mais razoável. O poder público só recolheria os recicláveis e seria o fim dos caminhões com cheiro ruim."
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A cidade de São Paulo produz diariamente 20 mil toneladas de resíduos, sendo 12,5 mil toneladas provenientes de coleta domiciliar, de acordo com o site da prefeitura. Estima-se que 53% dos resíduos domiciliares sejam orgânicos e que poderiam ser compostáveis em sua totalidade, evitando assim o transporte desnecessário até aterros sanitários, a mistura com resíduos secos que poderiam ser reciclados e a produção de chorume e gás metano, substâncias altamente poluentes que resultam da decomposição destes resíduos.
De acordo com especialistas da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) e da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana de São Paulo), uma das estratégias mais eficientes para o problema do lixo urbano é o tratamento adequado de resíduos na fonte geradora, evitando o excesso de caminhões de lixo circulando na cidade, a contaminação de resíduos secos com resíduos orgânicos e economizando recursos para a cidade. O tema é tratado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que representou um avanço importante para o país em termos de sustentabilidade, a partir do desdobramento de suas diretrizes para os municípios.
Nesse sentido, a Morada da Floresta vem desenvolvendo soluções para ampliar a prática de compostagem de resíduos orgânicos, ao trabalhar com composteiras domésticas e empresariais. Inovou ao conseguir transformar o processo de compostagem em algo simples, prático e higiênico, que qualquer pessoa pode fazer em casa. Por seu pioneirismo, foi realizadora do Composta São Paulo, junto com a Secretaria de Serviços do Município de SP e a Amlurb, projeto que envolveu distribuição de 2.006 composteiras domiciliares, treinamento, suporte online e oficinas de educação ambiental em 2014.
O empreendedor social é sócio e fundador da Morada da Floresta. Atualmente, é o presidente da organização, responsável pelas decisões estratégicas, pela articulação de parcerias e também pelas inovações e novos produtos de compostagem.
Tem dedicação integral e toda sua remuneração vem da empresa e de palestras e projetos pontuais para os quais é convidado.
Profundo conhecedor de compostagem, está desenvolvendo habilidades de empreendedor e gestor por meio de cursos, programas de apoio a empreendedores e pela prática na organização. Sua liderança é fundamental na empresa, que é composta por uma equipe em formação e desenvolvimento. Seu papel é estratégico por sua responsabilidade em cuidar da linha de produtos de compostagem e também por definir os rumos da empresa, articulando vendas, novos produtos e parcerias. É aberto a sugestões da equipe e diz dar autonomia para que as pessoas criem processos novos na Morada, o que foi percebido também na fala dos funcionários. Porém, a maioria das decisões estratégicas são centralizadas no empreendedor.
Apesar da dedicação ser integral, o empreendedor e sua esposa (que também é sócia da Morada da Floresta) atualmente vivem na cidade de Monteiro Lobato, a 130 km da capital São Paulo. Parte da interação com a equipe acontece virtualmente, e os dois sócios se revezam para estar no escritório algumas vezes na semana.
É descrito por funcionários, parentes e parceiros como alguém idealista, visionário, transparente, ético, inovador e empreendedor. É considerado viciado em trabalho e focado. Generosidade e espírito colaborativo são outras qualidades apontadas, tendo como exemplo sua iniciativa de disponibilizar informações gratuitas sobre compostagem a quem quiser, até mesmo sobre como montar a própria composteira, produto que ele vende pronto.
Entre ativistas e profissionais ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade, é reconhecido como especialista em compostagem e educação ambiental, prestigiado pelo trabalho que exerce na Morada da Floresta.
Formado em Artes Plásticas pela USP (Universidade de São Paulo), Cláudio se especializou em compostagem e permacultura pelas experiências práticas e cursos.
Seu perfil de estudioso e curioso faz com que esteja sempre atualizado. É ativista e referência no assunto. Mantém-se em contato com outros profissionais do setor, fazendo cursos ministrados na própria Morada da Floresta ao longo dos últimos nove anos.
Por não ser da área de negócios, participou de cursos e programas que o ajudaram a entender mais sobre empreendedorismo e gestão, como por exemplo a Jornada de Empreendedores Sociais da Artemisia, em 2008, a aceleração pela Yunus Negócios Sociais, em 2014 e atualmente, o programa de Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor, organizado pela GVCes e pela Apex Brasil.
Possui conhecimento intermediário em inglês e espanhol.
Nascido em Brasília, foi morar em São Paulo na adolescência, e o choque da mudança para uma cidade tão grande o fez refletir sobre questões socioambientais ligadas ao estilo de vida e à sociedade de consumo.
Enquanto cursava Artes Plásticas na USP, começou a se envolver com permacultura e com o movimento de ecovilas, e a praticar agricultura urbana em casa, compostando os próprios resíduos orgânicos para produzir adubo para suas plantas.
Depois de se formar em Artes Plásticas na USP (2000), trabalhou em Curitiba (PR) como arte-educador e, posteriormente, envolveu-se em movimentos alternativos inspirados na cultura hippie. Viajou pelo Brasil e pela América do Sul participando de eventos como o Fórum Social Mundial em Porto Alegre (RS) e em Caracas, na Venezuela, nos anos de 2005 e 2006, articulando mutirões e projetos de educação ambiental e mobilização social. Nesse período, desenvolveu seu empreendedorismo em projetos comunitários, com a compra de um ônibus para a realização de viagens e caravanas, além da articulação e viabilização financeira de todos os seus projetos.
Em 2004, adquiriu a casa onde hoje funciona o escritório da empresa e fundou uma moradia compartilhada com princípios ecológicos e valores praticados nas ecovilas, a Casa da Floresta. Em 2007, após um incêndio no ônibus em que estava em caravana no ano anterior, decidiu retornar a São Paulo e montar um negócio. A casa deixou de ser uma moradia compartilhada e passou a ser a sede da Morada da Floresta.
Inicialmente, eram oferecidos cursos sobre permacultura e sustentabilidade. Em 2009, começou a vender as primeiras composteiras e fraldas ecológicas, produtos desenvolvidos a partir das práticas sustentáveis realizadas no dia a dia do casal. Desde então, vem trabalhando para fortalecer a Morada da Floresta como negócio socioambiental, aprimorando a gestão da empresa, desenvolvendo novos produtos e influenciando políticas públicas ligadas à compostagem na cidade de São Paulo.
Desde 1999, o candidato faz compostagem em casa. A partir de sua experiência com técnicas tradicionais, desenvolveu um produto que torna o processo de compostar possível em espaços pequenos, sem necessidade de jardim ou quintal, de um jeito simples e que chega ao consumidor pronto para usar. A principal inovação da Morada da Floresta é ter desenvolvido um sistema de compostagem com minhocas em caixas de plástico, com tamanhos variados de acordo com o porte da família, leves, de fácil manuseio, entregues em kits com serragem, instruções e pronta para ser utilizada. Seu uso correto não deixa cheiro nem atrai insetos, dois receios comuns dos consumidores.
Por ser pioneira na comercialização de composteiras domésticas no Brasil e uma referência no assunto, reconhecida por ativistas, especialistas e o público em geral, a Morada da Floresta foi convidada a desenhar e realizar o Projeto Composta São Paulo, em parceria com a Secretaria de Serviços da Prefeitura e a Amlurb.
De acordo com Antonio Storel, coordenador de resíduos orgânicos da Amlurb, a Morada da Floresta foi escolhida pela atuação pioneira do empreendedor na compostagem doméstica, pelo trabalho de referência no Brasil, por conseguirem se comunicar com o público de forma didática e simples e por terem um produto já desenvolvido. Para um projeto a nível municipal, era necessário trabalhar com composteiras de forma profissional.
O Composta São Paulo foi desenvolvido em 2014 a um custo aproximado de R$ 800 mil. Esse projeto (e a atuação da Morada da Floresta) virou referência nacional no Brasil, ao criar uma cultura de compostagem na cidade e gerar educação ambiental pela prática. Foram oferecidas oficinas educativas, suporte técnico para dúvidas dos participantes e a criação de uma comunidade online que se mantém engajada até hoje e possui mais de 8.000 membros. Alguns dos resultados do projeto:
• 10.061 inscritos
• 2.006 famílias receberam composteiras da Morada da Floresta, representando 7.033 moradores
• 2.525 outras famílias começaram a compostar em casa, influenciadas pelas famílias participantes do Projeto
• Índice de satisfação de 97,8%
A experiência teve boa repercussão servindo como exemplo positivo para tratar de um tema considerado tabu na cidade, por causa de experiências com compostagem malsucedidas no passado.
Em relação às fraldas ecológicas, a Morada também foi pioneira no desenvolvimento de um produto fácil de usar, que se ajusta ao tamanho do bebê e com tecidos próprios que evitam vazamentos. Possui patente verde do produto (Privilégio de Invenção - Patentes Verdes BR 10 2012 107905 9).
O empreendedor social mostra-se preocupado com a qualidade e funcionalidade do produto, aberto a críticas e a melhorias constantes. Ao trabalhar com a Prefeitura no projeto Composta São Paulo, teve que inovar na comunicação com o público e para isso criou uma composteira transparente, para demonstrar o mecanismo com fins didáticos.
Atualmente, está trabalhando num novo modelo de composteira com inovações relacionadas ao material de fabricação e ao design. Esse lançamento poderá ser responsável por um grande aumento nas vendas da empresa porque, além de ser mais ecológico, terá considerável redução nos custos de produção.
Na linha de Bebês Ecológicos e Ecologia Feminina, a empresa também demonstra abertura para experimentações e inovação contínua, seja pelo lançamento de novos produtos ou pelo incremento dos produtos existentes. Atualmente, estão estudando uma forma de reduzir custos das fraldas.
A Morada da Floresta existe formalmente desde 2009 e já alcançou seu ponto de equilíbrio. A empresa obteve lucro nos últimos três anos. Foram implementados novos produtos no portfólio e foi criada uma loja virtual para comercialização on-line, sendo hoje o principal canal com os consumidores finais.
Há diversos desafios para o crescimento, como por exemplo a integração de um novo Sistema de Gestão Empresarial com a plataforma de e-commerce, para melhorar a gestão de processos e informações, garantindo mais eficiência nos processos, menos retrabalho e mais facilidade para análises financeiras sobre a rentabilidade de cada linha de produto. Além disso, o novo modelo de composteira doméstica que está sendo desenvolvido pode reduzir o custo de produção em mais de 30%, além de reduzir significativamente o custo de frete, aumentando as margens da empresa e permitindo comissões mais atrativas para que revendedores possam atuar na distribuição do produto.
O empreendedor social tem como objetivo a internacionalização de seus produtos e atualmente está participando de um programa que visa fomentar as exportações de negócios de pequeno porte que se destacam pelos atributos de inovação e sustentabilidade, fruto de parceria entre Apex Brasil e Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP. Há planos de realizar a primeira missão comercial em novembro de 2016 e iniciar exportações até o final de 2017, de acordo com o planejamento estratégico apresentado para a avaliação.
Há planos concretos sendo executados que mostram um caminho de profissionalização da gestão e de execução de estratégias para aumentar sua sustentabilidade financeira e escala das vendas. Vale ressaltar que, em 2014, a Morada da Floresta teve recorde de faturamento e lucro, devido principalmente ao Projeto Composta São Paulo, demonstrando capacidade de trabalhar em maior escala e com projetos com clientes grandes. Além disso, há possibilidades concretas de renovação do projeto a partir de 2017, e a empresa já foi procurada por outras prefeituras para realização de projetos similares.
Os usuários prioritários das composteiras e produtos ecológicos da Morada da Floresta são em sua maioria famílias de classe média ou alta do Estado de São Paulo, com estilo de vida sustentável e bom nível de escolaridade.
Porém, a atuação ampla em diversos projetos como o Composta São Paulo e o Escolas Mais Orgânicas beneficiou famílias e estudantes de diversos perfis socioeconômicos, inclusive de baixa renda.
Em outro fronte estão os clientes empresariais, que também são beneficiados pela redução de custos de remoção de resíduos, além da facilidade de se tornarem empresas mais corretas ambientalmente. Os tipos de clientes são variados: condomínios, escolas, universidades, hospitais e empresas em geral.
Ainda que seja difícil mensurar a quantidade de resíduos orgânicos, fraldas e absorventes descartáveis que deixam de ir para aterros todos os dias, as estimativas da Morada da Floresta mostram que são números expressivos, descritos no critério "Impacto quantitativo".
O impacto indireto é ainda maior, principalmente relacionado à mudança de comportamento relacionado à sustentabilidade. Em visita a empresas e condomínios que praticam compostagem com os sistemas da Morada da Floresta, a equipe de avaliação percebeu impactos positivos em relação à redução de desperdício de alimentos, diminuição de consumo de embalagens e início de separação de recicláveis, famílias que começaram a plantar alimentos em casa e até relatos de melhoria nas relações entre moradores de um condomínio.
Simone Kenji, diretora da Escola Municipal de Ensino Infantil Anísio Teixeira, na periferia de São Paulo, relatou que as crianças estão incentivando os pais a melhorar hábitos de alimentação e muitas querem compostar em casa.
Um terceiro impacto é a influência expressiva que a Morada da Floresta teve em relação ao debate sobre compostagem na cidade de São Paulo, resultando em ações concretas explicadas com mais detalhes no Critério 5 "Parcerias e Políticas Públicas". Todo esse trabalho resultou em um grupo relativamente grande de pessoas engajadas em compostagem no município de São Paulo.
Vale ressaltar que a compostagem resulta em adubos orgânicos e naturais, reduzindo o consumo de adubos químicos. Além disso, mesmo que pequena, aos poucos espera-se que haja uma economia para a cidade, com a consequente redução de resíduos orgânicos em aterros sanitários, representando custos menores na gestão de resíduos. Há ainda um impacto ligado à não geração de gás metano, prejudicial a camada de ozônio, já que o processo de compostagem não libera esse gás.
O impacto quantitativo é estimado de acordo com o número de composteiras domésticas, fraldas ecológicas e ecoabsorventes comercializados e seu potencial de compostagem ou de redução de consumo de descartáveis ao longo do tempo.
São estimados 3.513 toneladas de resíduos orgânicos compostados desde 2013 até hoje, número que pode ser ainda maior pelo impacto indireto que cada cliente tem de influenciar outras pessoas. Desde 2013, são estimadas aproximadamente 4,5 milhões de fraldas e mais de 1,3 milhão de absorventes que deixaram de ir para aterros sanitários.
O impacto em políticas públicas está diretamente ligado aos objetivos pessoais do empreendedor e também à escalabilidade da organização, já que quanto mais o assunto da compostagem for traduzido em políticas públicas, maior será a demanda por produtos da Morada da Floresta. O empreendedor é um ativista da causa e vem contribuindo com a criação de políticas públicas relacionadas a compostagem na cidade de São Paulo, pela atuação com parlamentares, órgãos públicos e realização de projetos em parceria público-privada.
Ao perceber as grandes dificuldades e barreiras para a realização de compostagem na cidade de São Paulo, em 2010 o empreendedor se reuniu com o então Secretário Municipal de Meio Ambiente, Eduardo Jorge. Nessa conversa, apresentou os desafios que enxergava e começou a ser convidado a integrar diversas discussões sobre o assunto. Assim, recebeu um convite de um vereador para fazer uma apresentação na Comissão Permanente de Meio Ambiente na Câmara dos Vereadores e posteriormente foi um dos organizadores do Seminário Compostagem na Cidade de São Paulo. O seminário foi um marco de mobilização de diversos atores em prol da compostagem no município e, a partir de então, várias conquistas no âmbito público foram realizadas como:
• Influência na criação de resolução que dispensa licenciamento ambiental para compostagem e vermicompostagem em instalações de pequeno porte, sob condições determinadas. Isso facilita a promoção da compostagem na cidade, facilitando também a venda de produtos da Morada da Floresta para restaurantes, condomínios, escolas e empresas e tornando essa prática mais acessível.
• Mobilização de amigos e pessoas simpatizantes com a prática da compostagem para apresentar e protocolar propostas em audiências públicas nas subprefeituras, que contribuiu para a inclusão do tema compostagem no Plano de Metas da Prefeitura, resultando na Meta 92, que prevê a promoção de compostagem dos resíduos orgânicos de feiras municipais (mais de 900), mercados municipais, parques púbicos e serviço de poda da cidade de São Paulo.
• Inclusão de estratégias e metas de compostagem no PGIRS (Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo). O empreendedor atuou ministrando palestras em audiências públicas relacionadas ao PGIRS e atuou como delegado na Subprefeitura do Butantã durante a revisão final do PGIRS.
• Convite para desenhar e realizar o Projeto Composta São Paulo, que foi um piloto para gerar informações para poder dar subsídios para a criação de políticas públicas de compostagem na cidade de São Paulo, segundo o coordenador da Amlurb. O Composta São Paulo foi enquadrado como projeto de educação ambiental na verba destinada às concessionárias de limpeza. Com isso, foi contemplado na obrigação legal dessas empresas destinar 0,5% de seus contratos públicos para atividades dessa natureza. A renovação do projeto é uma possibilidade para 2017, mas a negociação com empresas de limpeza urbana é morosa.
• Convite para o projeto Escolas Mais Orgânicas, uma iniciativa para melhorar a gestão dos resíduos orgânicos nas escolas municipais de São Paulo. Este se originou na segunda etapa da assessoria que a CCAC (Coalizão de Clima e Ar Limpo, na sigla em inglês) deu para a cidade de São Paulo e foi implementada pela ISWA por meio da sua representante no Brasil, a Abrelpe em parceria com a Morada da Floresta, como Consultor Executor Local. Esse trabalho envolveu oito Diretorias Regionais de Ensino, 15 escolas públicas com um total de 7.886 alunos, 560 professores e 315 funcionários, no primeiro semestre de 2016.
Cerca de 56% das vendas da Morada da Floresta pelo e-commerce são realizadas para o Estado de São Paulo, seguido por Rio de Janeiro (12%) e Minas Gerais (7%). O restante das vendas está pulverizado pelos outros estados brasileiros.
Em relação aos clientes empresariais, 80% encontram-se no Estado São Paulo, com concentração na Grande São Paulo, pois são projetos que demandam visitas técnicas, treinamentos, acompanhamento e implementação no local.
O potencial de escalabilidade dos produtos da Morada da Floresta é alto, desde que a empresa consiga profissionalizar sua gestão e concluir as inovações que estão planejadas em seus produtos em relação a design e custos, tornando-os assim mais competitivos no mercado e mais acessíveis ao consumidor. Há ainda um desafio de como chegar em famílias de baixa renda, que hoje não são o perfil de clientes da empresa.
Outro potencial está ligado a parcerias com prefeituras e empresas para realizar projetos de compostagem e educação ambiental em outros municípios, a exemplo da experiência com o Composta São Paulo.
Por fim, há um grande potencial ligado a compostagem em condomínios e empresas. Os sistemas já instalados nesse tipo de cliente têm tido bons feedbacks e podem representar um importante passo em direção à escala da compostagem de orgânicos na fonte geradora, além de ser uma possível fonte de aumento de faturamento para a organização.