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Corpo Família

A insatisfação com o corpo chegou às crianças

O esforço de mulheres para se encaixar a um padrão de beleza alcançou o imaginário dos pequenos

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Ana Paula dos Passos Cancio

Nutricionista especializada em emagrecimento feminino, é mestre e doutoranda em Alimentação, Nutrição e Saúde pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Como nutricionista, percebo que grande parte das pacientes que me procuram com o desejo de emagrecer afirmam que a saúde e a insatisfação corporal são os principais motivadores para a perda de peso, como se saúde e a satisfação com o próprio corpo fossem questões separadas e independentes.

Para grande parte destas pacientes, saúde é não ter doença, não sentir dor e observar um exame de sangue com todas as taxas dentro dos valores de referência. Ou seja, saúde ainda é percebida como um estado sujeito ao cuidado biomédico.

Cada vez mais percebo crianças de 10 anos preocupadas com seu peso - New Africa/Adobe Stock

Não pretendo criticar este pensamento, mas sim ampliar a percepção acerca da pluralidade de aspectos que podem compor o que chamamos de saúde e as possibilidades de cuidados possíveis consigo e com o próprio corpo.

Imagem corporal é uma construção psicológica acerca do próprio corpo, cujo experiências de vida podem interferir em uma percepção positiva ou negativa do que se vê no espelho. Mudanças físicas que ocorrem na adolescência, em função da puberdade, podem ser preponderantes na formação de uma imagem corporal negativa, causando aflição, angústia e sofrimento.

Um estudo realizado por Triches e Giugliani (2007) com 844 adolescentes entre 11 e 17 anos no Sul do Brasil observou a presença de insatisfação corporal em 70,9% dos adolescentes participantes, e que meninas com o IMC (índice de massa corporal) adequado desejavam ter silhuetas menores. Idealizar uma imagem corporal que difere da real pode levar jovens a atitudes extremas como a adesão a dietas restritivas, o desenvolvimento de transtornos alimentares e depressão.

Minha experiência de trabalho me permite ouvir e compreender mulheres que sofrem com a insatisfação corporal. Mulheres que, independentemente do diagnóstico nutricional (peso adequado, sobrepeso ou obesidade), têm o mesmo objetivo: ver o número na balança diminuir.

Dentre as mulheres com peso adequado, para além do número na balança, é comum a insatisfação e relutância em aceitar o próprio biotipo somado à esperança de que apenas com a alimentação seja possível se encaixar em um molde e padrão de beleza que tem se estendido ao imaginário de crianças.

Tem sido cada vez mais comum presenciar crianças em torno dos 10 anos de idade com o peso adequado, preocupadas com o ganho de peso e se privando em festas, por exemplo, para não engordar.

Acredito que neste ponto da leitura já é possível perceber que saúde e insatisfação corporal não estão dissociados, mas unidos. Como havia mencionado anteriormente, tenho a intenção de ampliar a pluralidade do que compõe saúde para além da ausência de doença, dor e alterações em exames de sangue. A imagem acerca de si e o que influencia a construção desta imagem, como o contexto familiar, fazem parte do que é saúde.

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