Descrição de chapéu The New York Times drogas

Droga psicodélica reduz em 83% o consumo de álcool, mostra estudo

Trabalho publicado na Jama Psychiatry combinou cápsulas de cogumelos de psilocibina com psicoterapia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

​Andrew Jacobs
The New York Times

Um pequeno estudo sobre os efeitos terapêuticos do uso de substâncias psicodélicas para tratar o transtorno do uso de álcool descobriu que apenas duas doses de cogumelos mágicos de psilocibina combinadas com psicoterapia levaram a uma queda de 83% no consumo excessivo de álcool entre os participantes.

Aqueles que receberam placebo reduziram a ingestão de álcool em 51%.

No final do teste de oito meses, quase metade daqueles que receberam psilocibina pararam de beber completamente, em comparação com cerca de um quarto dos que receberam o placebo, segundo os pesquisadores.

Cápsulas de cogumelos com psilocibina reduziram drasticamente o consumo de álcool - Adobe Stock

O estudo, publicado na quarta-feira (24) em JAMA Psychiatry, é a mais recente de novas pesquisas que exploram os benefícios de substâncias que alteram a mente para tratar uma série de problemas de saúde mental, desde depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático até o medo existencial experimentado por doentes terminais.

Embora a maioria dos psicodélicos permaneça ilegal sob a lei federal dos Estados Unidos, a FDA (Agência de Alimentos e Drogas do governo americano) está avaliando os potenciais usos terapêuticos de compostos como psilocibina, LSD e MDMA, esta última conhecida como ecstasy.

Michael Bogenschutz, diretor do Centro Langone para Medicina Psicodélica da Universidade de Nova York e principal investigador do estudo, disse que as descobertas oferecem esperança para os quase 15 milhões de americanos que lutam contra o consumo excessivo de álcool –cerca de 5% de todos os adultos. O uso excessivo de álcool mata aproximadamente 140 mil pessoas por ano no país.

"Esses resultados são animadores", disse Bogenschutz. "O transtorno por uso de álcool é um grave problema de saúde pública, e os efeitos dos tratamentos e medicamentos atualmente disponíveis tendem a ser pequenos."

O estudo randomizado duplo-cego acompanhou 93 participantes durante 32 semanas e os dividiu em dois grupos: um recebeu psilocibina e o outro placebo na forma de pílulas anti-histamínicas.

Os participantes, todos lutando contra o consumo excessivo de álcool, também participaram de 12 sessões de terapia que começaram várias semanas antes de receberem suas primeiras doses e continuaram por um mês após a dose final.

A dosagem de psilocibina foi determinada conforme o peso dos participantes, e sua frequência cardíaca e pressão arterial foram monitoradas durante as sessões de oito horas.

Embora nenhum dos participantes que receberam psilocibina tenha relatado efeitos adversos graves, o estudo teve uma limitação notável: após cada sessão, quase todos os participantes foram capazes de adivinhar com sucesso se haviam recebido psilocibina ou placebo.

"Expectativas tendenciosas podem ter influenciado os resultados", escreveram os autores, "então essa questão continua sendo um desafio para a pesquisa clínica sobre psicodélicos."

Mary Beth Orr, uma das participantes do estudo que recebeu psilocibina, disse que os tratamentos ajudaram a alterar seu relacionamento destrutivo com o álcool. Embora ela nunca desmaiasse e se descrevesse como uma "bebedora elegante", sua vida era prejudicada pela bebedeira noturna que a deixava infeliz na manhã seguinte.

"Passei muito tempo todos os dias pensando em não beber à noite", disse Orr, 69, uma técnica de museus de arte aposentada que mora perto de Seattle. "Eu queria parar, mas não conseguia." As sessões de psilocibina às vezes eram exasperantes, disse ela, mas no final das contas, esclarecedoras.

As jornadas místicas e oníricas incluíam explosões de cores, criaturas fantásticas e um encontro emocionante com seu falecido pai.

"Foi como um lindo espetáculo, com joias e a sensação de correr por um túnel com figuras de divindades olhando para mim de nichos nas paredes", disse ela. Dois terapeutas foram seus guias enquanto ela ficou deitada num sofá, com os olhos mascarados, enquanto uma música suave tocava em seus fones de ouvido.

Embora menos colorida e emocionante, a segunda sessão foi ancorada por uma conversa crucial embaixo da água com um parente que, segundo ela, causou imensa dor ao longo dos anos. Ao final, ela desejou felicidades ao parente, e eles se despediram com um beijo.

A mensagem principal, disse Orr, foi de perdão, compreensão e amor, para os outros e para si mesma. "Não tenho mais medo de sentimentos e estou vivendo uma vida mais profunda", disse.

Mais de três anos depois de sua última sessão, Orr disse que raramente bebe, mas se permite uma taça de vinho de vez em quando. "Não é que eu monitore minha bebida, é só que eu não penso nela, o que é a parte gloriosa para mim."

Os cientistas não entendem completamente como a psilocibina e outros psicodélicos funcionam na mente, mas acredita-se que as drogas promovam a neuroplasticidade ou uma reprogramação do cérebro, permitindo que aqueles com problemas psiquiátricos encontrem novas maneiras de lidar com as doenças e comportamentos autodestrutivos.

Matthew W. Johnson, pesquisador psicodélico da Johns Hopkins Medicine que não participou do estudo disse que foi encorajado pelos resultados, em parte por causa do tamanho comparativamente grande e do critério duplo-cego do estudo.

Um trabalho anterior e promissor sobre psilocibina e transtorno por uso de álcool, ele observou, teve apenas dez participantes.

"Isso realmente faz o campo avançar", disse Johnson, professor de psiquiatria e ciências comportamentais que está realizando um estudo financiado pelo governo federal sobre o uso de psilocibina para parar de fumar.

Bogenschutz, principal autor do estudo, disse que um ensaio subsequente incluirá mais de 200 participantes e testará a eficácia de uma dose única de psilocibina. O teste também usará um placebo diferente, a vitamina niacina.

Na segunda-feira (22), a FDA aprovou o teste, que será o maior estudo da terapia pareada com psilocibina para o tratamento do transtorno por uso de álcool.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.