Descrição de chapéu The New York Times

Força-tarefa dos EUA orienta pela primeira vez que adultos sejam examinados para ansiedade

Recomendação se aplica a pacientes com até 64 anos; grupo já havia indicado avaliação para crianças

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Emily Baumgaertner
The New York Times

Um painel de especialistas médicos americanos recomendou na terça-feira (20) pela primeira vez que profissionais da saúde verifiquem todos os pacientes adultos com menos de 65 anos quanto à ansiedade, orientação que destaca os níveis extraordinários de estresse que atormentam os Estados Unidos desde o início da pandemia.

O grupo consultivo, chamado Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, disse que a orientação visa ajudar a evitar que distúrbios de saúde mental passem despercebidos e não sejam tratados durante anos ou até décadas. Ele fez uma recomendação semelhante para crianças e adolescentes no início deste ano.

Pessoa com síndrome de depressão
Força-tarefa americana orienta que adultos sejam examinados para ansiedade - Unsplash

O painel, nomeado por um ramo do Departamento Federal de Saúde e Serviços Humanos, é responsável pelas orientações desde antes da pandemia. As recomendações vêm num momento de "necessidade crítica", disse Lori Pbert, psicóloga clínica e professora da Faculdade de Medicina Chan da Universidade de Massachusetts, que atua na força-tarefa.

Os americanos têm relatado grandes níveis de ansiedade em resposta a uma confluência de fatores de estresse, como inflação e taxas de criminalidade, medo de doenças e perda de pessoas queridas pela Covid-19.

"Há uma crise neste país", disse Pbert. "Nossa única esperança é que nossas recomendações destaquem a necessidade de dar maior acesso aos tratamentos de saúde mental, e com urgência."

De agosto de 2020 a fevereiro de 2021, a porcentagem de adultos com sintomas recentes de ansiedade ou transtorno depressivo aumentou de 36,4% para 41,5%, de acordo com um estudo citado pela força-tarefa.

A orientação foi emitida em forma de rascunho. O painel será finalizado nos próximos meses, depois de analisar comentários públicos. Embora as recomendações do painel não sejam obrigatórias, elas influenciam fortemente o padrão de atendimento dos médicos da atenção primária em todo o país.

Em resposta às recomendações, os profissionais de saúde mental enfatizaram que os programas de checagem são úteis apenas se levarem aos pacientes soluções eficazes.

Num momento em que o país está "com poucos recursos de saúde mental em todos os níveis –entre psiquiatras, psicólogos e terapeutas–, essa é uma preocupação real", disse Jeffrey Staab, psiquiatra e presidente do departamento de psiquiatria e psicologia da Clínica Mayo em Rochester, em Minnesota.

"Podemos checar muitas pessoas, mas se isso for tudo o que acontece, é uma perda de tempo", disse Staab, que não faz parte da força-tarefa.

Os psiquiatras, embora satisfeitos com a atenção dada à saúde mental, também ressaltaram que uma triagem padronizada é apenas o primeiro passo para um diagnóstico, e que os provedores precisarão evitar a suposição de que um resultado de triagem positivo indica um transtorno clínico.

Para muitos americanos, a triagem pode simplesmente revelar um período temporário de angústia e a necessidade de apoio extra.

"Quando os provedores dizem: 'Você deve ter um distúrbio, tome isto', podemos enfrentar um problema de prescrição excessiva", disse Staab. "Mas o cenário oposto é que temos muitas pessoas sofrendo que não deveriam estar. Ambos os resultados são possíveis."

Os problemas crescentes de saúde mental não são exclusivos dos EUA. A ansiedade e a depressão aumentaram 25% globalmente durante o primeiro ano da pandemia, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), e melhoraram apenas parcialmente desde então.

Cerca de 25% dos homens e 40% das mulheres no país enfrentam um transtorno de ansiedade em suas vidas, de acordo com a força-tarefa, embora muitos dados estejam desatualizados.

As mulheres têm quase o dobro do risco de depressão em comparação com os homens, mostram estudos, e a recomendação deu atenção especial à checagem de pacientes grávidas e pós-parto.

Os médicos geralmente usam questionários e escalas para pesquisar distúrbios de saúde mental. De acordo com as recomendações, os resultados positivos da triagem levariam a avaliações adicionais a critério do provedor, dependendo das condições de saúde subjacentes e outros fatos da vida.

Alguns médicos de atenção primária expressaram a preocupação de que seja impossível acrescentar uma responsabilidade à sua ampla lista de verificação para consultas rápidas com pacientes.

Pbert disse que esses provedores devem "fazer o que já fazem diariamente: fazer malabarismos e priorizar".

Ela também disse que a rigorosa revisão dos estudos disponíveis pela força-tarefa revelou que as pessoas não brancas são frequentemente sub-representadas na pesquisa de saúde mental, o que, se não for abordado, pode contribuir para um ciclo de desigualdade.

As disparidades em saúde mental são intensas nos EUA, onde os pacientes negros são menos propensos a ser tratados por problemas de saúde mental do que os pacientes brancos, e os pacientes negros e hispânicos são diagnosticados erroneamente com maior frequência. De 2014 a 2019, a taxa de suicídio entre americanos negros aumentou 30%, mostram dados.

Padronizar a triagem para todos os pacientes poderia ajudar a combater os efeitos do racismo, preconceito implícito e outros problemas sistêmicos no campo médico, disse Pbert.

O painel da força-tarefa não estendeu suas recomendações de triagem aos pacientes com 65 anos ou mais. Ele disse que não há evidências claras sobre a eficácia das ferramentas de triagem em idosos porque os sintomas de ansiedade são semelhantes aos sinais normais de envelhecimento, como fadiga e dor generalizada. O painel também disse que não havia evidências sobre se a triagem de depressão entre adultos que não mostram sinais claros do distúrbio acabaria prevenindo suicídios.

A força-tarefa aceitará comentários públicos sobre o esboço de recomendação até 17 de outubro.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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