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Neurocientistas sugerem a razão de não conseguirmos fazer cócegas em nós mesmos

Estudo feito por pesquisadores alemães aponta a diminuição da percepção sensorial como principal causa

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Ribeirão Preto

As cócegas são o único tipo de toque capaz de provocar risada. Apesar disso, os mecanismos que envolvem esse comportamento não são bem conhecidos – o porquê de não conseguirmos fazer cócegas em nós mesmos era um exemplo. Um estudo publicado no mês passado, porém, tentou desvendar este mistério.

Os autores sugerem que quando o indivíduo tenta fazer cócegas em si mesmo o corpo diminui a percepção sensorial, ou seja, fica menos sensível ao toque. O que explica a razão de não sentirmos cócegas enquanto tomamos banho ou trocamos de roupa.

"Não conseguir fazer cócegas em si mesmo é um fenômeno ligado a algo chamado expectativa sensorial" afirma Altay Lino de Souza, pesquisador do departamento de psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e criador do podcast de divulgação científica Naruhodo.

Pesquisadores sugerem mecanismo que nos impede de fazer cócegas em nós mesmos - Adobe Stock

Quando as cócegas são provocadas pelo outro, o corpo não sabe exatamente onde e como será esse toque e isso gera uma apreensão, que provoca uma inspiração e é aliviada com uma risada (expiração). Quando o indivíduo tenta fazer cócegas em si mesmo, essa apreensão não existe.

Não é novidade que um indivíduo não consegue fazer cócegas em si mesmo. Desde 1897, pesquisadores apresentam esta conclusão. O que o novo estudo mostra é que as cócegas provocadas pelo outro também são suprimidas se o indivíduo está tentando fazer cócegas em si ao mesmo tempo.

O trabalho, publicado por pesquisadores alemães na revista científica Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, contou com seis duplas de participantes e foi dividido em duas etapas.

Na primeira, um indivíduo ficava sentado numa cadeira e o outro era instruído a fazer cócegas no primeiro. Os movimentos do rosto e do tórax foram analisados, bem como os sons emitidos. Além disso, o indivíduo classificava o nível das cócegas. Na segunda etapa, as cócegas eram feitas apenas nas regiões em que o indivíduo era mais sensível, mas agora ele também tentava provocar risos em si mesmo.

Além de tentar esclarecer o mecanismo da supressão das cócegas, o artigo mostra que existe uma correlação entre a percepção subjetiva e a intensidade do riso. Ou seja, quanto mais cócegas o indivíduo sente, mais rápida, alta e aguda é a risada.

Para Diego Andrés Laplagne, biólogo e pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), esse é o achado mais interessante do artigo, porque consegue medir algo que é subjetivo – a percepção das cócegas – de maneira confiável e quantitativa.

De acordo com o biólogo, ter um estudo que mostra a relação entre o que é medido quantitativamente e o que o indivíduo de fato está sentindo é um grande avanço.

O trabalho também indica que a vocalização demora mais tempo para aparecer do que os cientistas acreditavam. Enquanto o movimento da face e do tórax ocorrem cerca de 0,3 segundos após o toque que provoca as cócegas, o som da risada só aparece cerca de meio segundo depois do toque.

Esse tempo de resposta é maior do que para um toque comum. Quando os pesquisadores pediam para os indivíduos avisarem quando sentiam um contato no ombro, por exemplo, a média de tempo entre o toque e a voz era de 0,3 segundos.

Laplagne afirma que isso ocorre porque essas duas respostas acontecem por vias diferentes. Embora a risada seja uma resposta inconsciente, ela é mais complexa e envolve o movimento de outras partes do corpo, enquanto a resposta ao toque comum, mesmo que consciente, precisa de menos neurônios para ser ativada.

Devido a esta característica inconsciente da risada, os pesquisadores alertam que é preciso ter cuidado. Mesmo que não haja nenhum perigo físico para as cócegas em excesso, se não pela falta de ar momentânea, o fato do outro estar rindo não significa que está, necessariamente, sentindo prazer – principalmente no caso de crianças.

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