Descrição de chapéu The New York Times Família

Como fazer com que os filhos lidem melhor com o divórcio dos pais

Preparar-se, conversar sobre o assunto e envolver as crianças pode facilitar o processo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Hanna Ingber
The New York Times

No dia em que meu ex e eu tivemos de contar a nossos filhos que estávamos nos divorciando, sentamos no sofá da sala enquanto eles brincavam no tapete. Foi um momento decisivo, e Isaac, nosso filho de quase cinco anos, sentindo que algo grande e perturbador estava acontecendo, tinha uma pergunta muito importante: o que aconteceria com seus Legos?

Quando se tem filhos, um dos aspectos mais difíceis do divórcio pode ser dar adeus ao lar conjugal e criar uma nova configuração para as crianças, seja para uma convivência compartilhada, seja só para visitas. É um desafio logístico, mas criar um novo espaço também pode carregar todo o peso emocional da separação. A decisão de dividir o que supostamente deveria se manter intacto é usada nas disputas pela mobília e pelos brinquedos favoritos.

Meninas, irmãs brincam de construtoras infantis, constroem ferrovia de brinquedo, ferrovia com tijolos de Lego
É importante criar um espaço reservado aos filhos tanto na casa do pai, como na da mãe - Irina Velichkina/Adobe Stock

E isso acontece em um momento em que muitas pessoas estão irritadas e sobrecarregadas. Como disse Jann Blackstone, mediadora de guarda filial e autora de seis livros sobre divórcio e coparentalidade, "a maioria das pessoas não está em seu melhor momento quando se separa."

Para os filhos, é crucial que essa transição seja feita da maneira correta. "As crianças partem do pressuposto de que seu mundo é estável e sempre será. Assim, quando chega o divórcio, há um desequilíbrio fundamental no sistema de crenças das crianças, que passam a questionar sua realidade. Elas se perguntam: 'Será que meus pais podem se divorciar de mim?'", diz Julie A. Ross, diretora executiva da uma organização de educação parental, a Parenting Horizons, acrescentando que os pais precisam mostrar aos filhos, de forma concreta, que a família e a sensação de pertencimento serão mantidas.

"O espaço físico é uma representação concreta do espaço emocional", aponta.

Abaixo, um guia para ajudar os pais a enfrentar esse momento. Incluímos as melhoras práticas de acordo com especialistas em coparentalidade e dicas de pais que nos contaram por escrito como lidaram com a situação.

Prepare-se

"É importante que os pais tenham uma ideia de como será a vida dos filhos e de como vão apresentar isso a eles", frisa Blackstone.

Jerome A. Scharoff, pai e advogado especializado em divórcios em Merrick, no estado de Nova York, diz que, quando ele e sua ex estavam se preparando para a separação, ele assegurou aos filhos que permaneceria na mesma cidade em que a mãe deles morasse. Ele aconselha seus clientes que compartilham a parentalidade a morar perto de seu ex-cônjuge.

Antes de contarmos a nossos meninos que estávamos nos separando, comecei a falar de crianças que eles conheciam cujos pais eram divorciados. Eu queria que eles vissem o divórcio como algo relativamente normal, não como assustador ou vergonhoso, antes que soubessem que passariam por isso.

Converse sobre o assunto

Pode parecer óbvio, mas explicar aos filhos o que está acontecendo é essencial. Algumas pessoas ficam tão perturbadas com o divórcio que acabam não conversando com os filhos a respeito. Mas eles têm dúvidas e precisam de informação para ajudá-los a processar os fatos.

Depois que me ex e eu decidimos nos divorciar, comprei para meus filhos quase todos os livros infantis que encontrei sobre famílias com dois lares, e eles devoraram todos. Pareciam ansiar pelas informações que os livros continham, e sempre me pediam que os lesse na hora de dormir. Alguns dos meus favoritos eram "Two Homes" (Dois lares, em português), de Claire Masurel, e "Emily's Blue Period" (O período triste de Emily, em português), de Cathleen Daly.

Crie um espaço especial

O próximo passo é decidir onde seu filho ficará em sua nova casa. Especialistas em parentalidade me disseram que é crucial que haja um espaço exclusivo para a criança.

Ross observa que, se não for possível dar a seu filho um quarto só para ele, é possível separar um canto da sala e colocar uma estante de livros, uma cama e um armário para guardar a roupa. Talvez seja interessante delimitar a área com um biombo. Para deixar o espaço mais aconchegante, ela sugere colocar pôsteres, mantas e almofadas.

"É importante que seu filho não se sinta uma visita na própria casa", indica. E você ganha pontos extras se incluir uma foto de seu filho com seu ex-cônjuge.

Envolva as crianças

Inclua seus filhos na escolha da decoração do espaço. Isso pode facilitar a transição e proporcionar a eles alguma sensação de controle em relação a parte do que está acontecendo. Ann Reitan, de Bend, no Oregon, afirma que seu filho, na época com nove anos, passou a se preocupar com a segurança da família depois da separação dos pais. Nos primeiros anos, checava se a casa estava trancada e sempre trancava as portas do carro.

"A permissão para que ele tivesse esse tipo de escolha lhe deu uma sensação de controle sobre uma situação que ele não podia controlar. Ele também escolheu a cor das paredes do banheiro – alaranjado vibrante não seria minha primeira escolha, mas ele ainda gosta", escreveu Reitan.

Kay Thomas, professora da Faculdade Honors da Carolina do Sul, conta que levava a filha para visitar apartamentos para alugar quando decidiu se separar e, depois, casas quando o divórcio foi finalizado.

"Como pôde escolher onde morar e a mobília do quarto, ela se sentiu especial e incluída no processo." Depois de sua experiência, Thomas fundou uma organização e um podcast para ajudar pessoas que estão passando pelo divórcio.

Torne o processo divertido

De acordo com Victoria Shestack Aronoff, de Maplewood, em Nova Jersey, a parte mais difícil foi perceber as mudanças no padrão de vida. "Eu me preocupava muito com o fato de estarmos mudando de uma casa grande e maravilhosa para um apartamento pequeno e feio." Mas ela tentava parecer animada com a mudança e dizia aos filhos: "Olha só, seu quarto já tem borboletas azuis! Que legal, a sala é marrom e laranja!" – horrorosa naquela época, e ainda horrorosa dez anos depois. "Uau, a gente vai dividir o quintal com mais três pessoas, que divertido!" Ela acrescentou que seus filhos, na época com três e seis anos, amaram a nova casa, e embarcaram na conversa dela de que era um "país das maravilhas".

É mais que uma cama e uma escova de dentes

Quanto mais aconchegantes ficarem as duas casas, melhor – mesmo que seu filho só venha nos feriados e nas férias. Isso significa, se possível, ter uma escova de dente, pijama, roupas, brinquedos e livros em ambos os lares. Tente reduzir ao máximo os itens que seu filho precisa levar de um lugar para outro, mas pense no que pode deixar o ambiente mais acolhedor. Blackstone recomenda que você dê tarefas a seu filho, mesmo que ele só o visite ocasionalmente.

Meus pais se divorciaram quando eu era pequena e, quando criança, me incomodava só comer geleia de uva e pão branco na casa do meu pai, supostamente a preferência de sua nova família. Eu gosto de geleia de morango e pão integral, e a falta disso fazia com que eu me sentisse como uma visita, e não como parte integrante da família. Minha criança interior de 11 anos de idade lhe faz um apelo: se você tiver enteados e for responsável por comprar a comida, pergunte a eles que tipo de alimentos gostariam de ter na geladeira.

Não disputar as regras

Esqueça a ideia de ter as mesmas regras nas duas casas. Se você e seu ex conseguissem concordar em matéria de parentalidade, provavelmente não estariam se divorciando.

Ross ressalta que, com exceção de regras de segurança, quando os pais tentam ter as mesmas regras nas duas casas, isso gera conflitos desnecessários. Segundo ela, ao discutir por causa de tarefas ou da hora de ir dormir, os pais correm o risco de forçar a criança a escolher um dos lados e possivelmente se sentir desleal ao outro. Há quem ache que isso pode gerar confusão, mas Ross afirma que seus filhos são capazes de lidar essa situação.

"As crianças já convivem o tempo todo com regras diferentes em diferentes espaços. As regras da escola são ligeiramente diferentes das de casa e se ajustam a isso", conclui.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.