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Fumar em espaços abertos da casa não diminui risco para crianças, mostra estudo

Pesquisa israelense utilizou lugares como quintal e locais próximos a janelas para mensurar danos

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Barra Mansa (RJ)

Segundo um estudo científico israelense, não adianta correr para o quintal ou abrir uma janela na hora de fumar um cigarro. O hábito faz pouca diferença se o objetivo é proteger as crianças dos efeitos nocivos da nicotina. Os dados são de uma pesquisa publicada em fevereiro na revista International Journal of Environment Research and Public Health.

Os cientistas analisaram informações de dois grupos diferentes para chegar a essa conclusão. O primeiro continha dados de 20 crianças de diferentes famílias que não viviam com pais fumantes, e o segundo de outras 159 que compartilhavam a casa com dependentes. Em cada residência, um fio de cabelo dos pequenos foi coletado e analisado em busca da presença de nicotina. Com a informação nas mãos, os especialistas calcularam a porcentagem daqueles expostos à fumaça nos diferentes grupos.

Na média, 7 em cada 10 jovens (68,8%) sofriam os riscos da exposição ao cigarro quando viviam na mesma casa de fumantes. Quando não há cigarro na residência esse número cai para 35,3%. O resultado revela que a melhor decisão para pais preocupados com a saúde dos filhos é largar o vício.

Fumar em espaços abertos não diminui o risco para crianças - Adobe Stock

Além disso, os cientistas também analisaram o local da casa onde os pais diziam fumar. Os resultados revelaram que escolher lugares abertos não protege os mais jovens. Nos lares onde os adultos fumam na varanda, 61,8% das crianças ainda estão vulneráveis à nicotina. Quando o cigarro é aceso no quintal, os atingidos são 71,4%. Dentro de casa, os riscos são maiores, prejudicando 75% dos pequenos.

Para os autores do artigo, os pais que fumam e não querem colocar o cigarro de lado devem, ao menos, estar a dez metros de distância de casa para manter os filhos protegidos. "Não adianta ir pra janela, não adianta ir pra sacada", acrescenta Stella Regina Martins, médica especialista em dependência química do InCor - USP (Instituto do Coração da Universidade de São Paulo). "E não pode haver uma estrutura tampando a livre circulação do ar, nem mesmo um toldo".

Não é só em casa, entretanto, que existe risco. Quem costuma fumar no carro também está colocando em perigo a saúde das crianças. Outra pesquisa, realizada nos Estados Unidos e publicada na mesma revista, mostrou que, depois da residência, os veículos são o segundo lugar de maior exposição ao qual os menores estão submetidos.

Neste estudo, os pesquisadores analisaram os níveis de cotinina, um biomarcador da nicotina, em mais de 5 mil jovens com idades entre 6 e 17 anos. Apesar de terem feitos recortes de raça e etnia entre os participantes, os especialistas observaram as mesmas tendências para todos os grupos sociais: conviver com pais fumantes aumenta a exposição à fumaça.

A fumaça do cigarro tradicional tem mais de 7 mil substâncias químicas diferentes. Entre as que mais representam perigo, tanto para os que fumam como para aqueles que compartilham o mesmo ambiente, estão o benzeno, que é cancerígeno; o tolueno, um depressor do sistema nervoso central; o butano, que é asfixiante; a amônia, causadora de paradas respiratórias; o cianeto de hidrogênio, responsável por paradas cardíacas; e o cádmio, com toxicidade genética.

Crianças expostas às substâncias têm maior chance de contrair infecções do trato respiratório ou ouvido, como pneumonia, bronquite, otite ou asma. Martins ressalta que recém-nascidos correm ainda mais riscos e podem até sofrer da Síndrome da Morte Súbita Infantil.

Os problemas decorrentes do cigarro persistem mesmo depois que a bituca é apagada. Pesquisadores dos Estados Unidos mostraram que existem danos oxidativos à pele que provocam inflamações e alterações no plasma mesmo em não-fumantes. Os dados foram publicados na revista eBioMedicine do grupo The Lancet.

Após acender um cigarro, substâncias se depositam em superfícies, paredes e roupas e podem persistir nestes locais por muito tempo. Podem também ser absorvidas por meio da inalação por aqueles que entram nos ambientes, através da ingestão de comida contaminada ou pelo contato com a pele. Esse tipo de exposição é considerada de terceira mão pelos especialistas, e tem atraído a atenção de pesquisadores nos últimos anos.

Guilherme Rache Gaspar, pediatra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), também destaca a importância do hábito dos pais no comportamento desses jovens. "As crianças respondem muito a isso", diz.

Para deixar o cigarro, o especialista afirma que o esforço deve ser coletivo e que buscar um médico é fundamental. Hoje, no país, existem equipes específicas no setor de saúde público e privado para lidar com o problema, e as ferramentas vão de tratamentos medicamentosos até comportamentais.

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