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Mulheres americanas viajam em busca de congelamento de óvulos mais barato

Empresa organiza todo o processo, desde as excursões para outros países até remédios e consultas médicas

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Alyson Krueger
The New York Times

Não é raro americanos viajarem a Londres durante o verão, onde assistem a partidas de tênis em Wimbledon, por exemplo, tiram fotos do Big Ben ou jantam com champanhe e bolinhos no Claridge's.

Mas as mulheres cujas viagens estão sendo planejadas por uma nova empresa chamada Milvia têm um motivo diferente: vão para congelar seus óvulos.

Todos os detalhes da viagem, desde os voos até a medicação hormonal e as consultas médicas, são organizados pela Milvia, cujo foco é tornar o congelamento de óvulos mais acessível, levando as mulheres a lugares onde o procedimento é mais barato.

Congelamento de óvulos
Empresa americana leva mulheres para outros países para que eles congelem seus óvulos a preços mais baratos - Eduardo Anizelli/Folhapress

A empresa estima que milhões de mulheres nos Estados Unidos desejam congelar seus óvulos. Mas apenas uma pequena porcentagem delas consegue, diz Abhi Ghavalkar, fundadora e CEO da empresa.

O congelamento de óvulos é um processo que leva cerca de duas semanas e pode permitir que uma mulher prolongue sua fertilidade. Normalmente, a paciente injeta hormônios para estimular os ovários e, em seguida, passa por um procedimento com um especialista para recuperar os óvulos e colocá-los em nitrogênio líquido para ser usados futuramente.

A Milvia descobriu que, nos EsUA, todo o processo –incluindo medicamentos, consultas médicas e o número médio de anos de armazenamento de óvulos– custa cerca de US$ 18 mil (R$ 90 mil), e a maioria das mulheres não pode contar com seguro-saúde para arcar com os custos. Em 2020, menos de 20% das empresas americanas com mais de 20 mil funcionários tinham planos de saúde que cobriam o procedimento, de acordo com a Mercer Health News, embora esse número tenha aumentado de 2015 a 2020.

Muitos países têm clínicas que custam muito menos. Na República Tcheca e na Espanha, por exemplo, você pode obter uma rodada de congelamento de óvulos por menos de US$ 5.400 (R$ 27 mil), de acordo com o site da Freeze Health, que fornece informações sobre o procedimento em todo o mundo.

A Milvia está levando suas primeiras clientes para a Grã-Bretanha, onde os preços giram em torno de US$ 7.000 (R$ 35 mil), porque "queríamos começar num lugar onde não houvesse barreira linguística ou cultural", aponta Ghavalkar. "Também queremos ter certeza de que estamos num lugar onde todas as clínicas operam com padrões muito elevados." A empresa ainda não definiu o preço de sua viagem à Grã-Bretanha, mas espera mantê-lo abaixo de US$ 10 mil (R$ 50 mil).

Assim como existem lugares da moda para ir nas férias, agora existem "pontos quentes" de congelamento de óvulos, segundo Jennifer Lannon, fundadora da Freeze Health.

"Eu diria que o México e a Espanha são os dois lugares mais quentes no momento", com base nas pesquisas das pessoas, diz ela. "O México porque é próximo e muito mais barato. Barcelona porque é uma cidade tão atraente, sempre há um bom motivo para ir, mas [a Espanha] também é o país mais avançado da Europa em pesquisa e novos desenvolvimentos."

De acordo com a empresa de pesquisas Grand View Search, o mercado global de turismo de fertilidade, incluindo pessoas que viajam para os EUA, deve crescer 30% nos próximos sete anos, tornando-se uma indústria de US$ 6,2 bilhões até 2030.

As mulheres que congelam seus óvulos no exterior podem optar por mantê-los naquele país, onde os custos de armazenamento costumam ser mais baratos. No Canadá, por exemplo, pode custar menos de US$ 200 (R$ 1.000) por ano para armazenar seus óvulos. Na Espanha, você pode fazer isso por pouco mais de US$ 200. Em Los Angeles, por outro lado, um ano de armazenamento custa cerca de US$ 750 (R$ 3.750). Na cidade de Nova York, é mais de US$ 1.000 (R$ 5.000), de acordo com a Freeze Health.

Muitas voltam à mesma clínica para fazer a fertilização in vitro, processo pelo qual devem passar se quiserem usar seus óvulos, porque também é mais barato em outros países.

Existem ainda opções mais em conta no mercado americano. A CNY, por exemplo, uma clínica de fertilidade com oito localizações no país, tenta manter os custos em cerca de US$ 3.000 (R$ 15 mil), que não inclui remédios ou monitoramento pré-procedimento.

Mulheres que viajaram para congelar seus óvulos disseram que isso transforma o procedimento, que pode ser árduo, em algo que quase lembra férias.

Gillian Morris, 36, desenvolvedora de software, voou de San Juan, em Porto Rico, para Madri em junho de 2019 para se submeter ao procedimento.

"Muitas das minhas amigas tinham grandes empresas de tecnologia pagando pelo congelamento de óvulos, mas eu tinha minha própria empresa, então não podia pagar", afirma. "Não pensei que fosse acessível para mim, até que alguém me disse que fazer na Espanha custaria cerca de um quinto do preço."

Depois que ela postou seus planos nas redes sociais, duas amigas acabaram se juntando a ela. Duas delas alugaram um Airbnb e, entre consultas médicas (que acontecem com intervalos de dias) e injeções (diariamente, mas podem ser feitas em qualquer lugar), elas agiam como turistas, jantando em restaurantes da moda e visitando museus. Morris fez até viagens curtas a Valência, uma cidade na costa do Mediterrâneo, e a Londres.

Lauren Stevenson, 42, diretora de relações-públicas que mora em Londres, viajou para Haugesund, nos fiordes da Noruega, para congelar seus óvulos depois que uma amiga encontrou um local. Este não apenas cobrava um terço do preço das clínicas de Londres, diz ela, como também estava num lugar que ela queria conhecer.

"As pessoas falam sobre o congelamento de óvulos de forma tão negativa. É intrusivo, é doloroso", aponta. "Eu senti que se estivesse em um lugar bonito e tranquilo, poderia ser uma experiência diferente."

Ela e seu parceiro (acabaram congelando embriões) foram em novembro de 2020, no pico da folhagem colorida do outono.

"Nós dirigíamos até a clínica, e até a viagem era maravilhosa", conta Stevenson. Ela diz que achou relaxante fazer o procedimento em um lugar tão distante de sua movimentada vida urbana na Grã-Bretanha.

Sidonia Rose Swarm, fundadora da Freeze Health, pontua que as mulheres devem reservar planos de viagem, especialmente voos e acomodações, que sejam flexíveis.

"Você tem que fazer exames de sangue e ultrassom no primeiro dia do seu ciclo, e eles podem lhe dizer que não é um bom ciclo para isso porque você pode não ter muitos óvulos", afirma.

E as potenciais pacientes devem se certificar de que a clínica seja licenciada, tenha profissionais médicos que falam inglês e uma empresa parceira que possa enviar os óvulos para uma instalação de armazenamento nos EUA.

Swarm também recomenda levar alguém com você na viagem.

"Você não vai se sentir bem, vai ficar emocionada, vai ser bombeada com hormônios", diz ela. "Não vai querer navegar sozinha num lugar novo."

Stevenson descreve sua experiência quase como ir a um retiro de fertilidade: "Acho que você não conhece muitas pessoas que dizem: 'Mal posso esperar para voltar e pegar meus embriões congelados'. Mas é como eu me sinto."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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