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Mulheres não buscam substituir homens com brinquedos sexuais, sugere estudo

Trabalho mostra que escolha ocorre principalmente pela diversão; formato não realista também é preferido

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Ribeirão Preto

Mulheres preferem brinquedos sexuais que não se parecem com o órgão genital masculino –e nem buscam substituir homens com os equipamentos. Essa é a conclusão de um estudo norte-americano que avaliou a popularidade e a morfologia deste tipo de produto de uma das maiores varejistas de bem-estar sexual online do mundo.

O resultado mostrou que os brinquedos eróticos preferidos das mulheres não estão ligados a características de realismo ou comprimento, mas ao prazer que proporcionam. "Consumidoras mostram preferência por brinquedos sexuais inseríveis que não são réplicas diretas do pênis masculino, o que sugere que elas não estão procurando um substituto realista para o parceiro", afirmam os autores.

A predileção em torno de brinquedos sexuais de inserção vaginal, suas características e o que contribui para sua popularidade, foram constatados a partir da base de dados da loja Lovehoney, que atende clientes da América do Norte, Europa e Oceania. Foram considerados dimensões, preço e características morfológicas de 265 produtos projetados para uso feminino.

Estudo aponta que mulheres preferem brinquedos sexuais que não imitem o pênis - Adobe Stock

De acordo com o trabalho, o que verdadeiramente influencia a decisão de compra de um brinquedo sexual é o preço, a circunferência e a diversão proporcionada. "Descobrimos que o comprimento do brinquedo não prediz significativamente a popularidade, o que é consistente com outros trabalhos que mostram que as mulheres não dão ênfase considerável ao tamanho grande do falo", aponta o estudo.

Os pesquisadores acreditam que os resultados do levantamento podem contribuir para o futuro do design e do marketing de produtos de bem-estar sexual, além de revelar preferências em relação a características particulares do falo (seja realista ou não).

O artigo "What Drives Sex Toy Popularity?" (O que impulsiona a popularidade de um brinquedo sexual, em português) faz parte da edição de fevereiro da publicação Journal of Sex Research.

Os resultados também indicam que alguns tabus ainda determinam escolhas de produtos. Foi percebido um estigma quanto aos brinquedos altamente realistas que, além de mais caros, "podem deixar as mulheres (e potencialmente seus parceiros) menos confortáveis."

"Substitutos do pênis", assim, não são considerados "divertidos" como brinquedos de inserção vaginal. Na outra ponta, vibradores mais abstrato e menos "obscenos", como o modelo "coelho" (que penetra e vibra sobre o clitóris ao mesmo tempo), tornaram-se mais populares entre as mulheres.

Um falo não realista também pode ser mais aceitável e menos ameaçador para os homens que queiram integrar um brinquedo em suas vidas sexuais, o que levaria as parceiras a escolherem tecnologias eróticas mais abstratas.

A influenciadora Isabela Cerqueira Cardoso, 28, CEO e fundadora da Good Vibres, loja de bem-estar sexual, comprou seu primeiro vibrador aos 18 anos e hoje já tem em seu acervo pessoal mais de 500 brinquedos sexuais. "Tenho um pelo menos para cada produto que coloco na loja, porque testo antes", conta.

Cardoso lembra que no início, quando o foco do mercado ainda era o erotismo e não o bem-estar sexual, já havia rejeição das mulheres pelas peças que imitam o pênis, o que fez sua empresa focar em produtos coloridos e com formatos divertidos.

"Eu acho que essa desconstrução que está acontecendo de que o prazer não necessariamente está associado ao falo é muito importante. A gente pode ter prazer com produtos eróticos que vibram ou que sugam, que tem formatos diferentes, inclusive que são mais agradáveis e mais ergonômicos. Produtos que, por exemplo, ela pode deixar na mesa de cabeceira ou guardar na casa sem esconder", afirma.

A empresária e colecionadora é contra a palavra "consolo", usada como sinônimo de brinquedos sexuais. Cardoso afirma que a função de um produto erótico não é consolar ou substituir alguém. "São para deixar a gente mais feliz, para ajudar no nosso bem-estar sexual", pontua.

Segundo a especialista em produtos eróticos Waleviska Souza, 36, criadora de conteúdo para redes sociais e diretora de compras da uma distribuidora deste tipo de produto, o mercado brasileiro segue a tendência indicada no estudo internacional.

"O que tem vendido muito bem hoje são os vibradores ponto G e os bullets, provavelmente também pelo preço. O sugador tem uma tecnologia nova, ele não é tão acessível quanto outros, mas entendo que é mesmo por questão de acessibilidade, porque, por preferência, as pessoas que têm experimentado estão ficando nesse novo estilo de vibrador", destaca.

A psicóloga e sexóloga Priscila Junqueira, cofundadora do Ipser (Instituto de Psicologia e Sexologia Essência Rara), também acredita que o estudo se aplica à realidade brasileira, tanto no caso de mulheres heterossexuais como homossexuais.

"Na clínica constato que os modelos realistas têm perdido campo para os sugadores. É importante para a gente pensar que a estimulação clitoriana é mais excitante para a mulher, são mais de 10 mil terminações nervosas descobertas pela ciência no clitóris, um órgão só para o prazer. Além disso, derruba a ideia de que um pênis maior vai dar mais prazer, quando é justamente o autoconhecimento, o explorar a gama de estímulos que a gente tem, não só dos toys, mas do toque, do estar com outro, que proporciona isso", afirma Junqueira.

Para Jordana Parente, ginecologista e sexóloga, a percepção de que há melhor aceitação de vibradores não realistas é correta e contribui para superação de traumas pessoais em pacientes. "A gente tenta estimular essas mulheres ao autoconhecimento. Muitas nunca nem conseguiram se masturbar, a aceitação desses brinquedos sem formas fálicas para início é mais fácil", pondera.

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