Descrição de chapéu Dengue

Roupas repelentes são eficazes contra a dengue, mas não dispensam outros cuidados

Tecnologia pode afastar insetos a uma distância de até dois palmos, mas não oferece proteção integral

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Curitiba

Enquanto o Brasil atinge um número recorde nos casos de dengue, que já causou 1.888 mortes no país só em 2024, marcas nacionais de roupas, como Insider e Extreme, têm apostado em camisetas com repelentes de insetos para afastar o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.

A técnica consiste em impregnar o tecido com permetrina, versão sintética de um composto encontrado nas flores de crisântemo capaz de irritar, paralisar e matar o animal ao agir sobre as células nervosas dele.

O mosquito transmissor da dengue Aedes aegypti - Danilo Verpa -06.mar.24/Folhapress

Absorvida pela roupa por meio de rolos compressores ou do banho do tecido no composto, a substância pode permanecer na peça por até 50 lavagens caseiras, a depender da marca e do cuidado com o item, mas vai perdendo a força nesse intervalo.

Essa tecnologia foi criada em 1973 e aplicada pela primeira vez em larga escala em 1979 pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). Hoje, a maioria dos tecidos pode receber o inseticida, desde colchões, lençóis, palmilhas e jalecos até produtos de higiene pessoal, diz o coordenador do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Positivo Leonardo Wedderhoff Herrmann.

Aliada no combate à dengue, a técnica integra as medidas de controle de vetores dos EUA desde 1990, sendo aplicada em roupas e em uniformes militares. Em 2016, também foi usada durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro para conter a expansão do zika vírus e proteger atletas do patógeno.

De baixa toxicidade e comum em produtos de uso tópico, como xampus anti-piolho e sarnas, a permetrina pode incomodar insetos a uma distância de até 20 centímetros do tecido, diz a líder de pesquisa e desenvolvimento da Insider, Karen Prado. Ainda assim, não substitui repelentes em spray ou creme, reforça a dermatologista, Kátia Scheylla Malta Purim, doutora em Medicina pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Cabeça, pescoço, mãos e pés —áreas não cobertas pela roupa— estão entre as mais suscetíveis ao ataque de insetos e precisam de atenção especial.

Além disso, nenhum fabricante pode garantir que todos os mosquitos sejam repelidos pela camiseta, diz o sócio-administrador da Extreme, Marcel Cavilha Juppa. A eficácia da ação repelente nas roupas é de aproximadamente 94%, portanto, elas devem ser tratadas como uma camada extra de proteção, e não a única.

Embora roupas de efeito repelente sejam consideradas seguras e eficazes, é importante conferir o registro de cada marca junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que regula repelentes e inseticidas aplicados em objetos e tecidos seguindo a nota técnica 9/2019. A consulta pode ser feita no site da agência.

A permetrina não é a primeira tecnologia aplicada em tecidos para fins sanitários. Outra solução estudada recentemente são os compostos à base de nanopartículas de prata, cobre e zinco, que, além de afetarem mosquitos, também evitam aquecimento e passagem de luz ultravioleta (UV), diz Herrmann. Em São Carlos, no interior paulista, a empresa Nanox, focada em nanotecnologia, recebeu apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para desenvolver roupas que controlam calor e odor enquanto afastam insetos com base nessa ideia.

Para além dos repelentes, a indústria têxtil também investe em tecidos antivirais. Em 2020, durante a pandemia de Covid, a marca de roupas Lupo passou a oferecer máscaras de proteção, camisetas, calças, leggings, casacos, vestidos e até capinhas para celular que garantiam a inativação do vírus. A Nanox também entrou nessa frente, produzindo máscaras e roupas hospitalares capazes de inativar 99,9% dos vírus em dois minutos, usando micropartículas de prata.

A lógica dos produtos antivirais é a mesma das roupas repelentes e com proteção UV. Só o que muda é o composto impregnado na peça e a ação dele, diz a coordenadora do curso de ciências biológicas do Mackenzie, Camila Sacchelli.

A expectativa é que esse mercado siga crescendo e ampliando possibilidades na área da saúde, diz Herrmann. "O investimento tecnológico dos nanomateriais com certeza irá nos surpreender com uma grande variedade de produtos", avalia.

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