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Alimentos podem diminuir calores da menopausa? Veja o que diz a ciência

Dieta saudável e balanceada pode ajudar a aliviar os sintomas, mas não é tratamento

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Alisha Haridasani Gupta
The New York Times

Supreendemente pouco é sabido sobre as ondas de calor, ou fogachos, fenômeno que afeta 75% das mulheres americanas na menopausa.

"Não temos respostas exatas, apenas várias teorias e perguntas", diz Arianna Sholes-Douglas, ginecologista, obstetra e autora de "The Menopause Myth: What Your Mother, Doctor and Friends Haven’t Shared About Life After 35" (O mito da menopausa: o que sua mãe, seu médico e suas amigas não compartilharam sobre a vida após os 35 anos de idade, em português). Com o declínio do estrogênio durante a fase de transição para a menopausa, o termostato interno do corpo às vezes registra o corpo mais quente do que de fato está e desencadeia transpiração rápida e dilatação dos vasos sanguíneos para tentar esfriá-lo.

Cubos de tofu no prato
Alimentos à base de soja, como o tofu, são alguns dos mais estudados em relação aos sintomas da menopaus - Pexels

Mas o que desencadeia esse processo e por quê? Não se sabe ao certo. Qual é a ligação do fogacho com outras preocupações de saúde, como problemas cognitivos e doença cardiovascular? As informações também são poucas. As opções de tratamento se limitam majoritariamente a hormônios. Tudo isso, diz a Scholes-Douglas, é um reflexo claro da escassez de atenção e recursos dedicados às pesquisas médicas sobre essa fase da vida da mulher.

Nas últimas duas décadas, pesquisadores começaram a investigar outra fonte potencial de alívio: a dieta. A ideia deriva de estudos que revelaram que as ondas de calor diferem em diferentes sociedades e países e podem ser em grande medida um fenômeno ocidental. Com isso em mente, os cientistas aventaram a hipótese de que fatores ambientais, como a alimentação, possam desempenhar um papel nessa diferença.

Mas muitos dos estudos sobre intervenções alimentares são pequenos ou inconclusivos, pontua Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade Norte-Americana da Menopausa e diretora do Centro de Saúde da Mulher da Clínica Mayo. Em trabalhos científicos que sugeriram que determinados alimentos reduzem as ondas de calor, os mecanismos em ação ainda não são plenamente entendidos, indica.

Mesmo assim, afirma Faubion, não há mal algum em modificar sua dieta para ver se isso ajuda a controlar as ondas de calor.

Quais alimentos podem ajudar?

O feijão de soja e produtos à base de soja, como o tofu, contêm isoflavonas, compostos químicos que podem se ligar aos receptores de estrogênio no corpo, diz Neal Barnard, professor na Escola George Washington de Medicina. Por essa razão, considera-se que a soja pode emular o estrogênio. Ela é um dos alimentos mais estudados em conexão com sintomas da menopausa, e há algumas evidências de que seu consumo pode estar ligado a uma diminuição da frequência das ondas de calor. Mas não está claro se isso se deve à própria soja ou a outro mecanismo.

Em dois estudos recentes, Barnard e sua equipe dividiram aleatoriamente em dois grupos 84 mulheres na pós-menopausa que relataram sofrer ondas de calor moderadas a graves. Um grupo seguiria com sua alimentação habitual e o outro faria uma dieta vegana de baixo teor de gordura, rica em grãos integrais, frutas e vegetais, incluindo meia xícara diária de feijão de soja cozido. As ondas de calor moderadas a graves diminuíram em aproximadamente 80% em ambos os estudos.

"A ressalva a fazer aqui é que foram essencialmente duas intervenções: as mulheres fizeram uma dieta integral e de base vegetal, e sua dieta incluiu alto teor de soja", pontua Faubion. "Então qual dessas duas coisas foi responsável por esses resultados? Não temos ideia."

As mulheres no estudo também acabaram perdendo peso, fato notável, segundo Faubion, porque alguns trabalhos indicam uma correlação entre gordura corporal aumentada e ondas de calor, especialmente em determinadas etapas da menopausa.

Também despertaram o interesse dos pesquisadores os ácidos graxos ômega 3. Mas, enquanto alguns estudos constataram que tomar suplementos de ômega 3 reduz a frequência das ondas de calor, outros concluíram que não faz diferença. Deixando os suplementos de lado, alguns trabalhos já apontaram que a dieta mediterrânea, que é rica em alimentos que contêm ácidos graxos ômega 3 –como sementes de linhaça, nozes e peixes gordurosos como salmão— está associada a menos ondas de calor e outros sintomas da menopausa.

Há alimentos a ser evitados?

Há algumas evidências de que uma dieta rica em açúcar e gordura está associada a ondas de calor mais fortes. Além disso, os médicos sugerem que se evite alimentos e bebidas que parecem desencadear ondas de calor, pontua Hoosna Haque, ginecologista e obstetra do Centro Médio Irving da Universidade Columbia, como "alimentos muito condimentados, cafeína, álcool, alimentos com alta concentração de açúcar e alimentos altamente processados".

Mas ela diz que a recomendação é baseada em evidência anedótica e que ainda não se sabe ao certo por que esses alimentos e bebidas podem engatilhar uma onda de calor.

"Talvez seja simplesmente porque eles podem causar elevações e quedas repentinas nos níveis de energia", indica Haque. Ou porque algo como a cafeína pode dilatar os vasos sanguíneos –como fazem os fogachos— e desencadear uma sequência semelhante de efeitos.

Por fim, "dizemos aos pacientes que uma dieta saudável e balanceada pode ajudar a aliviar os sintomas, mas não é um tratamento", afirma Haque. E dietas saudáveis "também podem ter efeitos benéficos mais para frente em matéria de saúde óssea, ganho de peso e saúde cardiovascular".

Tradução de Clara Allain

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