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Mulheres negras grávidas são testadas para uso de drogas com mais frequência, diz estudo

Trabalho mostra que a probabilidade de receberem um resultado positivo eram menor do que das pacientes brancas

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

Hospitais são mais propensos a aplicar testes de drogas em mulheres negras que vão dar à luz do que em mulheres brancas, independentemente do histórico de uso de substâncias da mãe, sugere um novo estudo feito a partir de um sistema de saúde na Pensilvânia.

E esses testes a mais eram injustificados. O próprio trabalho mostra que as mulheres negras tinham menor propensão que as brancas a testar positivo para drogas.

Exame de ultrassom
Estudo indica que hospitais tendem a realizar mais testes de drogas em grávidas negras do que brancas - Gabriella Angotti-Jones/NYT

O estudo analisou os registros médicos eletrônicos de 37.860 pacientes que deram à luz em um grande sistema de saúde da Pensilvânia entre março de 2018 e junho de 2021 e foi publicado na sexta-feira (14) na revista JAMA Health Forum.

O relatório surge em meio a uma discussão nos Estados Unidos sobre disparidades de saúde e racismo sistêmico na medicina, desencadeada pelo impacto desproporcional da pandemia de Covid-19 em comunidades não-brancas e que se concentrou mais recentemente nas altas taxas de mortalidade materna entre mulheres negras e indígenas americanas.

Os autores do novo estudo pediram aos hospitais que examinassem suas práticas de teste de drogas para lidar com preconceitos raciais.

"Qualquer clínico pode não estar pensando em viés, mas quando você olha para esses tipos de dados, pode ver que não há outra explicação", diz Marian Jarlenski, professora associada de política e gerenciamento de saúde da Escola de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh e primeira autora do artigo.

As descobertas são uma "ilustração clara de cuidados díspares", afirma Alison Stuebe, professora de obstetrícia e ginecologia da Universidade da Carolina do Norte, que não participou da pesquisa. "Este estudo é um exemplo de como o comportamento do provedor faz com que as mulheres negras desconfiem do sistema de saúde."

Depois de controlar vários fatores demográficos e médicos, os pesquisadores calcularam a probabilidade de testes de toxicologia na urina para diferentes grupos. Embora mais mulheres negras tenham relatado uso anterior de drogas, principalmente maconha, a diferença não explica totalmente os resultados: elas tiveram maior probabilidade de fazer exames de urina no momento do parto, independentemente do uso anterior de drogas.

Entre aquelas que relataram uso de substâncias no ano anterior, a probabilidade de serem testadas foi de 76% para as mulheres negras, em comparação com 68% para as mulheres brancas.

No entanto, as mulheres brancas com histórico de uso de substâncias eram mais propensas a testar positivo: cerca de 66,7% tinham probabilidade de testar positivo, em comparação com 58% das pacientes negras.

Mesmo entre aquelas que não tinham histórico de uso de drogas, as mulheres negras tinham maior probabilidade de serem testadas: cerca de 7% das pacientes negras sem histórico de uso de substâncias provavelmente seriam testadas, em comparação com 4,7% das mulheres brancas sem histórico, estima o estudo.

Não está claro o que levou a um maior teste de drogas de mulheres negras no sistema de saúde da Pensilvânia. Todas as pacientes que entraram no departamento de parto foram avaliadas verbalmente quanto ao uso de substâncias, com perguntas adaptadas do teste rápido de triagem verbal do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA. A política exigia a realização de testes toxicológicos de urina em pacientes com resultado positivo no teste de triagem, histórico de uso de substâncias no ano anterior ao parto, poucas consultas pré-natais ou mal resultado do parto sem uma explicação médica clara.

Mas o histórico de uso de substâncias não conseguiu explicar totalmente os resultados e os pesquisadores não encontraram diferenças raciais no número de consultas pré-natais ou na taxa de natimortos.

Além de calcular probabilidades, o trabalho relatou o número bruto de pacientes que foram testadas para drogas. Enquanto cerca de 21% das pacientes negras relataram histórico de uso de drogas ou álcool, 25% foram submetidas a testes de urina. A maioria das mulheres negras relatou uso de maconha.

Em contraste, 9% das mulheres brancas relataram histórico de uso de drogas, incluindo maconha e opioides, enquanto 10% foram testadas para drogas.

Das mães negras testadas, 40% tiveram testes toxicológicos de urina positivos, em comparação com 51% das mães brancas.

Tradução por Luiz Roberto M. Gonçalves

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