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Praticar atividade física reduz o risco de desenvolver ansiedade; entenda

Estudos apontam que o exercício acalma, constrói resiliência e traz felicidade

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Para lidar melhor com todas as notícias ruins e os problemas, você pode fazer exercício físico, segundo estudo. O estudo em larga escala, feito na Suécia com pouco menos de 200 mil esquiadores de cross-country, mostra que ser fisicamente ativo diminui pela metade o risco de desenvolver de ansiedade clínica ao longo do tempo. O trabalho se concentrou no esqui, mas os pesquisadores disseram que praticamente qualquer tipo de atividade aeróbica pode ajudar a nos proteger contra preocupações e medos excessivos.

A ciência já oferece muitas provas encorajadoras de que a prática de exercício pode melhorar o humor. Experimentos mostram que quando uma pessoa (ou um animal de laboratório) começa a se exercitar, normalmente se acalma, fica mais resiliente, feliz e menos propensa a se sentir triste, nervosa ou com raiva sem que haja motivo aparente.

Mulher se exercita ao lado do Parque Ibirapuera - 30.mar.2021 - Adriano Vizoni/Folhapress

Pesquisas em saúde pública, que muitas vezes se concentram nas conexões entre um tipo de atividade ou de comportamento e vários aspectos da saúde ou da longevidade, também apontaram que, quanto mais nos exercitamos, menor é a chance de desenvolvermos depressão grave. Por outro lado, o sedentarismo aumenta o risco de depressão.

Um importante estudo neurológico de 2013 descobriu que a prática de exercício resulta em uma menor ansiedade em roedores, provocando um aumento na produção de neurônios especializados que liberam uma substância química que acalma a hiperatividade em outras partes do cérebro.

A maioria desses estudos, no entanto, foi pequena, de curta duração ou feito principalmente com roedores, deixando em aberto muitas questões sobre qual tipo de exercício pode ajudar nossa saúde mental, quanto tempo o bom humor pode durar, se homens e mulheres se beneficiam de forma igual e se é possível exagerar na prática de exercício a ponto de aumentar a probabilidade de se sentir emocionalmente pior.

Assim, para estudo com esquiadores, que foi publicado na Frontiers in Psychiatry, os cientistas do exercício da Universidade de Lund, na Suécia, em conjunto com profissionais de outras instituições, decidiram que valeria a pena examinar a saúde mental em longo prazo dos milhares de homens e mulheres que participaram da Corrida de Vasa, famosa competição de esqui cross-country promovida na Suécia, ao longo dos anos.

A Corrida de Vasa é a maior série de corridas de esqui cross-country do mundo, na qual uma multidão de atletas adentra anualmente os bosques da região central da Suécia para fazer força nas pernas e nos braços e deslizar em corridas que variam de 30 km até a prova principal de 90 km. Como esse tipo de evento exige saúde, resistência e treinamento abundantes, os pesquisadores já compilaram dados sobre os participantes da Corrida de Vasa para estudar como a prática de exercício influencia a saúde do coração, os riscos de câncer e a longevidade.

"Usamos a participação em uma Corrida de Vasa como um indicativo de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável", disse Tomas Deierborg, diretor do departamento de medicina experimental da Universidade de Lund e principal autor do novo estudo, que completou duas vezes a corrida de 90 quilômetros.

Para começar, ele e seus colegas compilaram o tempo de chegada e outras informações de 197.685 homens e mulheres suecos que participaram de pelo menos uma corrida entre 1989 e 2010. Em seguida, cruzaram essas informações com dados do registro nacional de saúde da Suécia, procurando por diagnósticos de transtorno de ansiedade clínica entre os corredores nos dez a 20 anos seguintes. Para ter uma base de comparação, também analisaram o registro nacional de saúde de 197.684 concidadãos selecionados aleatoriamente que não participaram da corrida e foram considerados relativamente inativos. Assim, procuraram por diagnósticos de ansiedade durante o mesmo período.

Segundo os pesquisadores, os esquiadores provaram ser consideravelmente mais calmos ao longo das décadas depois da corrida do que os suecos inativos, com uma chance de mais de 50% de não desenvolver ansiedade clínica.

Esses dados positivos eram prevalentes entre os esquiadores masculinos e femininos de quase todas as idades – exceto, curiosamente, entre as corredoras mais rápidas. As mulheres que detinham os melhores tempos de chegada eram mais propensas a desenvolver transtornos de ansiedade do que os demais corredores, embora seu risco permanecesse em geral menor do que o das mulheres da mesma idade no grupo de controle.

"Esses resultados indicam que a conexão entre a prática de exercício e a redução da ansiedade é forte", afirma Lena Brundin, principal pesquisadora de doenças neurodegenerativas do Instituto de Pesquisa Van Andel em Grand Rapids, no Michigan, que também assinou o estudo.

"Não é necessário participar de uma corrida de esqui cross-country de longa distância nos bosques nevados da Suécia para colher os frutos", afirma Deierborg. Estudos anteriores sobre exercício e humor sugerem que basta seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e praticar cerca de 30 minutos de caminhada rápida ou de atividades semelhantes na maioria dos dias da semana para "obter bons efeitos na sua saúde mental", diz ele, e esses benefícios parecem se aplicar a uma "população mais ampla" do que apenas os suecos.

Ainda assim, pode ser que valha a pena monitorar sua resposta psicológica a treinos e competições intensos, especialmente se você for uma mulher competitiva, observa ele, acrescentando que a descoberta de que as mulheres com as melhores marcas tendem a desenvolver ansiedade com mais frequência do que outros esquiadores surpreendeu os pesquisadores, o que sugere que a prática de corrida talvez desencadeie ou catalise a ansiedade por desempenho ou outras questões em algumas pessoas.

"Não é necessário praticar exercícios extremos para alcançar os efeitos benéficos em relação à ansiedade", pontua Brundin.

As descobertas, porém, têm limitações. Elas não provam que a prática de exercício melhora o humor de uma pessoa, apenas que as pessoas altamente ativas tendem a ser menos ansiosas do que seus pares mais sedentários. O estudo também não explica como o esqui pode reduzir o nível de ansiedade.

Os pesquisadores suspeitam que a atividade física altera o nível de substâncias químicas cerebrais relacionadas ao humor, como a dopamina e a serotonina, e reduz a inflamação em todo o corpo, incluindo o cérebro, contribuindo fisiologicamente para uma saúde mental mais robusta. Transitar entre pinheiros silenciosos e cobertos por neve, longe das chamadas via Zoom enquanto se treina para uma Corrida de Vasa, provavelmente também não faz mal.

Qualquer exercício em qualquer ambiente pode nos ajudar a ter melhor saúde mental, afirmaram os pesquisadores. "Um estilo de vida fisicamente ativo parece ter um forte efeito na redução da chance de desenvolver um transtorno de ansiedade", pontua Deierborg, que espera estender esses benefícios para a próxima geração. Ele planeja se inscrever e treinar para outra Corrida de Vasa em um futuro próximo, quando seus filhos tiverem idade suficiente para se juntar a ele.

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