Descrição de chapéu Corpo

Anabolizantes seguem usados para estética apesar de proibição do CFM

Produtos são vendidos em redes sociais e aplicativos de mensagem, o que dificulta fiscalização

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Ribeirão Preto

"Eu uso testosterona, GH, durateston, deca, trembolona, hemogenin, oxandrolona. Já usei todos esses sempre para fins estéticos. Após essa resolução [do Conselho Federal de Medicina] não mudou absolutamente nada, porque as pessoas que compram isso em farmácia não chegam a 5%", afirma o bacharel de direito Vitor (nome fictício, a pedido), 40.

Ex-lutador de jiu-jitsu, Vitor faz ciclos de esteroides desde 2001. Fabricantes clandestinos, segundo ele, não faltam –e tão pouco se escondem. "Existe uma infinidade de laboratórios que inclusive patrocinam grandes fisiculturistas, que fazem propaganda desses produtos [nas redes sociais]", afirma.

Em abril, o CFM (Conselho Federal de Medicina) proibiu a prescrição de esteroides androgênicos anabolizantes para fins estéticos, como ganho de massa muscular. A resolução também mira aqueles que buscam melhora de desempenho esportivo. A diretriz foi discutida por oito meses e contou com a aprovação de diversas sociedades médicas brasileiras.

Deposito de anabolizantes apreendido pela Receita Federal - 23.out.2017 - Bruno Santos/ Folhapress

A facilidade para comprar no mercado paralelo, porém, continua a mesma. Pedidos podem ser feitos via Whatsapp. Como a chance de consumir algo falsificado também existe, há também quem busque os originais, criando problemas para quem realmente precisa da medicação.

O cabeleireiro e atleta Gabriel Tavares, 39, tem prescrição médica para repor testosterona desde 2021 por conta de um quadro de hipogonadismo. Ele afirma que os esteróides estão cada vez mais caros e, com frequência, ficam indisponíveis no mercado.

"A maioria toma por conta própria, sem orientação médica, comprando no mercado clandestino ou causando falta em farmácias, pagando inclusive a mais por estarem sem receita", afirma. Tavares, praticante de musculação e jiu-jitsu, diz ainda ver colegas de treino usando os produtos para estética, alguns até com prescrição médica.

Em nota, o CFM pontua que as resoluções são válidas para todos os médicos que atuam em território nacional e que o não cumprimento pode gerar advertência e até cassação do exercício da medicina. A fiscalização ocorre por meio de denúncias encaminhadas aos conselhos regionais, que podem conduzir por conta própria as investigações. Também pode ser feita por abertura de sindicância na Codame (Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos).

"O uso de esteroides androgênicos anabolizantes para as finalidades estética, melhora de performance e ganho de massa muscular não é amparado pelas evidências científicas vigentes, não sendo recomendado em nenhum lugar do mundo", afirma Annelise Meneguesso, conselheira do CFM.

A Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness, associada do Comitê Olímpico Brasileiro, diz que está alinhada com a preocupação do CFM "em relação ao uso inadequado e abusivo dessas substâncias".

Para Jeferson Queiroz, 48, professor de jiu-jitsu e defesa pessoal, não há custo benefício positivo no uso de anabolizantes, que podem até atrapalhar o desempenho esportivo, segundo ele.

"Eu já usei, tive efeitos colaterais, não pretendo nunca mais fazer o uso. Esteticamente, me surpreendi, mas em saúde vi que não valeu a pena. No curto prazo tem a irritabilidade, perda de disposição, dependendo do tipo de esteróide, perda de sono. A médio prazo, a gente percebe também perda de cabelos, problemas renais", diz Queiroz.

Esteroides podem ser prescritos para qual finalidade?

O CFM permite a prescrição de esteroides se a recomendação for amparada por estudos científicos, o que inclui tratamentos como o de hipogonadismo masculino, síndrome do desejo sexual hipoativo na mulher na pós-menopausa e de pessoas em transição de gênero. Inclui também doenças urológicas, como deficiência androgênica do envelhecimento masculino, terapia de reposição hormonal com testosterona e câncer de próstata.

Tomás Tenshin Sataka Bugarin, advogado e chefe da Seção de Processos Ético-Profissionais do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), diz que a resolução deve ser aplicada seguindo "o princípio da prevenção", assegurando que o benefícios superem o danos.

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