Cigarro acelera perda de colágeno e promove envelhecimento precoce

Médicos apontam que hábito também está ligado a complicações pós-operatórias e dificuldade na cicatrização

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São Paulo

O tabagismo é um vício socialmente aceito e, por isso, difícil de largar. Fumar já foi sensual, chique e um rito de passagem para a vida adulta. Hoje, é o vilão de histórias daqueles que perderam a vida por doenças relacionadas ao cigarro, como cardiovasculares e vários tipos de câncer. É o inimigo da saúde e beleza da pele.

O dermatologista Mateus Rodrigues, pós-graduado em dermatologia clínica e em medicina estética pela Academia Latino-Americana da Face, e mestre em medicina estética pela Esneca Business School (Espanha), afirma que os danos do cigarro na pele são crônicos e costumam aparecer no longo prazo —de 15 a 20 anos após começar a fumar.

"O tabagista envelhece mais rápido, perde a textura e a qualidade da pele. Tudo o que as pessoas buscam melhorar, o cigarro vai na contramão e faz piorar", pontua Rodrigues.

Pescoço enrugado
Rugas popularmente conhecidas como código de barras, na região dos lábios, são causadas pelo ato de fumar - Pexels

Para o especialista, quem não consegue ou não quer parar de fumar deve fazer acompanhamento com dermatologista para que os efeitos do cigarro na pele não sejam tão deletérios.

Segundo o cirurgião plástico Luís Maatz, membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), as toxinas do produto geram problemas que vão desde a queda da oxigenação e do aporte de nutrientes dos tecidos periféricos até a diminuição da produção de colágeno, o que causa um ciclo de problemas no funcionamento cutâneo.

"Um único cigarro já reduz o nível de oxigênio na pele por cerca de uma hora", afirma Maatz.

Colágeno e envelhecimento

O colágeno é a principal proteína de estruturação da pele. A partir de 30 anos, o ser humano perde 1% por ano. No fumante, estima-se que essa perda seja até 20% maior dependendo da carga tabágica.

As substâncias inaladas quando se fuma causam degradação precoce do colágeno. A consequência é uma pele mais fina e flácida.

"As toxinas do cigarro penetram nos fibroblastos –células da pele produtoras do colágeno– e aumentam a produção da metaloproteinase. Essa enzima destrói as fibras e aumenta a produção de radicais livres, que agridem a pele e aceleram o envelhecimento", afirma Luís Maatz.

A carga de tabaco somada ao tempo como fumante é uma conta com resultado favorável ao envelhecimento. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que 9 em cada 10 fumantes passaram a consumir cigarro antes dos 18 anos.

"De cinco a dez anos de consumo de um maço de cigarro por dia já causa alterações de envelhecimento cutâneo precoce. Se a pessoa tiver predisposição maior, com menos cigarros por dia e menor tempo, é possível apresentar alterações de envelhecimento cutâneo precoce, acelerar o surgimento de rugas, linhas proeminentes, flacidez, pigmentações amareladas, avermelhadas ou acinzentadas", diz Maatz.

Para as mulheres fumantes, o envelhecimento da pele é maior. Além do cigarro, há os fatores hormonais. A nicotina interfere no fluxo do estrógeno, hormônio feminino que atua na síntese do colágeno e da elastina.

Além dos prejuízos já citados, o ato de fumar pode provocar o surgimento de rugas que têm como causa movimentos repetitivos dos músculos do rosto ao tragar. Popularmente conhecidas como "código de barras", essas linhas de expressão aparecem ao redor dos lábios.

Vasoconstrição e cicatrização comprometida

As toxinas do cigarro diminuem a espessura dos vasos sanguíneos. Eles ficam mais contraídos, o que dificulta a irrigação do tecido cutâneo e a oxigenação das células.

Fumantes têm mais complicações pós-operatórias, episódios de abertura de pontos e infecções de feridas. O pouco espaço para o sangue circular afeta o processo de cicatrização, prejudica a recuperação e regeneração da pele.

"Em cirurgias, os fumantes têm maior risco de necrose, tanto pela vasoconstrição como pelo efeito pró-trombótico. Quando fumamos, ficamos cerca de uma hora após cada cigarro com a circulação diminuída de 40% a 50% na pele e na região da cicatriz", complementa o cirurgião.

Como tratar os danos do cigarro na pele

As manchas que aparecem ou crescem em decorrência do tabagismo podem ser tratadas com peelings químicos ou a laser, além de microagulhamento com substâncias clareadoras. Os cuidados com a pele em casa também são importantes, segundo orienta a cirurgiã geral e plástica, especialista em cosmiatria, Mayara de Castro Nogueira.

Para a flacidez podem ser utilizados bioestimuladores de colágeno com ácido polilático e radiesse, por exemplo, que estimulam o corpo a produzir a proteína, reduzem quadros de flacidez e melhoram a firmeza e sustentação da pele. Há tecnologias com a mesma função, como ultrassom microfocado e radiofrequência.

Os tratamentos amenizam principalmente as manchas, mas cessar com o fumo é a melhor opção. "Dependendo do tempo que fumou e da quantidade de cigarros por dia, se foi muito intenso, não volta a ser como antes", alerta a médica.

As rugas "código de barras" são amenizadas com aplicações de toxina botulínica. No caso das mais profundas, é necessário utilizar preenchedores cutâneos, como o ácido hialurônico.

Abandonar o vício do cigarro não é fácil e muita gente apela para os adesivos antifumo. Porém, Maatz alerta que, apesar de eficientes, podem causar dermatite.

O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece tratamento gratuito a quem deseja parar de fumar. Interessados devem se informar em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas).

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