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Por que ultraprocessados podem acelerar o declínio cognitivo, segundo estudos

Evidências mostram que os alimentos também são associados a condições como obesidade, hipertensão e depressão

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Sorocaba (SP)

Estudos recentes apontam que os alimentos ultraprocessados podem ser motores para demência e declínio cognitivo. Eles são reconhecidos por terem forte relação com outras doenças, como obesidade, diabetes e até câncer.

Trabalho realizado por cientistas da USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFBA (Universidade Federal da Bahia) mostrou que a queda cognitiva foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias derivadas de ultraprocessados. Isso equivale, por exemplo, a comer três pães de forma todos os dias com base em uma dieta de 2.000 kcal.

O levantamento analisa dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, realizado desde 2008 por universidades que acompanham a saúde de cerca de 15 mil pessoas.

Estudos apontam que alimentos ultraprocessados podem aumentar o risco de declínio cognitivo - Adobe Atock

Claudia Suemoto, professora associada da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e integrante da Academia Brasileira de Neurologia, indica que os resultados do estudo são um indicativo uma vez que ainda precisam de novas confirmações.

"Nosso estudo sugere a aceleração das funções cognitivas, desencadeadas por pequenos derrames. Existe essa chance, mas ainda são necessários novos estudos", pontua.

O trabalho, publicado no períodico científico Jama, foi apresentado no congresso Brain Behavior and Emotions, que reuniu especialistas em neurociência em Florianópolis (SC), entre os dias 7 e 10 de junho.

O declínio cognitivo é caracterizado pela incapacidade de realizar atividades simples do dia a dia, como lembrar datas, fazer cálculos, planejar e executar alguma tarefa.

Renata Levy, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdadede Medicina da USP e do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP), afirma que os mecanismos que fazem os ultraprocessados terem esse impacto ainda não estão claros.

"Já há evidências contundentes de que esses alimentos estão associados ao desenvolvimento de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e depressão", diz ela, que também é coautora do trabalho.

"Essas condições são fatores de risco conhecidos para demência. Os ultraprocessados também podem afetar as funções cerebrais e a saúde cognitiva por meio da exposição a aditivos alimentares, contaminantes."

Outro estudo, também desenvolvido por pesquisadores da USP, apontou que uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode acelerar em quase 30% o declínio cognitivo, além dos riscos cardiovasculares e de obesidade.

O trabalho analisou dados de 10.775 brasileiros entre 35 e 74 anos durante 10 anos.

Já uma pesquisa feita com mais de 10 mil adultos nos Estados Unidos mostrou que, quanto mais alimentos ultraprocessados os participantes ingeriam, maior a probabilidade de relatarem depressão leve ou sentimentos de ansiedade.

"Houve um aumento significativo de dias mentalmente insalubres para aqueles que ingeriram 60% ou mais de suas calorias de ultraprocessados", diz Eric Hecht, autor do trabalho.

Diferente dos alimentos chamados "in natura" —folhas, frutas, verduras, legumes, ovos, carnes e peixes—, os ultraprocessados apresentam maiores índices glicêmicos, mais gorduras trans e sódio, sendo também mais pobres em fibras e micronutrientes.

NÃO HÁ CONSENSO SOBRE DEFINIÇÃO

Alguns especialistas discordam da definição de ultraprocessados. É o caso de Mario Marostica Junior, professor do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição da Unicamp (Universidade de Campinas). Para ele, o conceito estabelecido pelo "Guia alimentar para a população brasileira", do Ministério da Saúde, pode gerar dúvidas.

"O efeito dos alimentos na saúde está relacionado a sua qualidade nutricional. Temos alimentos produzidos a partir de ingredientes ditos como ultraprocessados que possuem excelente qualidade nutricional. Por exemplo, fórmulas infantis", afirms.

O professor pontua que o impacto deste tipo de alimento na saúde depende da qualidade nutricional dos produtos. "A OMS [Organização Mundial da Saúde] aponta a alimentação como um dos fatores, mas não o único, relacionado a doenças crônicas não transmissíveis, como Alzheimer e declínio cognitivo. A obesidade é um deles, sendo originada pela ingestão de quantidade de energia superior ao gasto."

"Desta forma, alimentos que possuem alta densidade energética, independentemente do processamento, podem aumentar a chance do desenvolvimento de obesidade e suas doenças correlatas, sendo o declínio cognitivo uma das possíveis consequências", diz.

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