Descrição de chapéu Mente maternidade

Depressão pós-parto ou 'baby blues'? Saiba a diferença entre as condições

Mudanças repentinas com a chegada da maternidade podem trazer consequências emocionais para a saúde da mulher

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fernanda Bassette
Agência Einstein

A espera de um filho costuma ser um dos momentos de alegria e empolgação. O sonho da maternidade começa ainda na gestação, com a idealização e expectativas que virão com o nascimento do bebê. No entanto, a vida real pode se mostrar um pouco diferente do que foi planejado: as obrigações e as responsabilidades sobre a mãe redobram, sem contar na gangorra de transformações hormonais que o processo demanda.

Essas mudanças repentinas podem trazer consequências emocionais – estima-se que entre 20% a 25% das mulheres terão depressão pós-parto e cerca de 80% experimentarão os sintomas do chamado baby blues. Mas, afinal, qual a diferença entre eles?

Enquanto o baby blues é uma experiência passageira, a depressão pós-parto é duradoura - Andrey Zhuravlev/Adobe Stock

O baby blues é um conjunto de sentimentos que quase toda mulher que tem um filho vai conhecer. Ele é multifatorial e tem sintomas que podem ser facilmente confundidos com a depressão, como choro constante, tristeza, excesso de sensibilidade, irritabilidade e ansiedade. As manifestações, porém, são transitórias e insuficientes para causar prejuízo à mulher, já que costumam se manifestar logo após o parto e tendem a desaparecer espontaneamente em até 21 dias.

"A gente diz que o baby blues é um momento de adaptação da mulher à nova realidade. Nessa perspectiva temos que considerar as mudanças hormonais bruscas que ocorrem com o fim da gestação e podem gerar algum conflito afetivo-emocional. O baby blues se manifesta de várias maneiras e geralmente vem com a privação de sono, com o desgaste físico, com a dificuldade de amamentação, com o medo, a culpa, a insegurança e a falta de controle. Mas é um fenômeno totalmente passageiro e a recuperação, na maioria das vezes, é completa e sem a necessidade de tratamento farmacológico", afirma a psicóloga Damiana Angrimani, especialista em psicologia perinatal e parental.

Segundo a psicóloga, o baby blues faz a mulher ter picos emocionais que intercalam entre o desespero e o encantamento com o bebê.

Depressão requer tratamento

A depressão pós-parto, ao contrário, é mais complexa porque requer cuidados especiais. A doença causa prejuízos à saúde da mulher, que precisará de um acompanhamento médico especializado, prolongado e, muito provavelmente, associar a psicoterapia com o uso de medicações.

Os casos são mais comuns em mulheres que com histórico de transtorno psiquiátrico, como quadros de ansiedade, pânico e depressão, por exemplo. Fatores de risco psicossociais também podem interferir, como não ter planejado a gravidez; ficar grávida na adolescência; ter um relacionamento instável com o pai do bebê; ter problemas no emprego (ou estar desempregada); ter problemas nas relações familiares, entre outros.

A maioria dos casos de depressão pós-parto se intensifica após a sexta semana do nascimento, embora os sintomas possam aparecer logo nos primeiros dias depois do parto e durar meses. As manifestações incluem tristeza profunda, falta de interesse por atividades diárias, insônia, cansaço extremo, ansiedade, perda de interesse sexual, perda ou ganho excessivo de peso, sentimento de incompetência, baixa autoestima, isolamento social e, em casos mais graves, até ideação suicida.

Além de permanecer por um tempo prolongado (a depressão pós-parto não desaparece sozinha como o baby blues), ela ainda tem um outro fator complicador que é a falta de conexão da mãe com o bebê.

"Muitas mulheres na depressão pós-parto podem estar completamente operacionais em relação aos cuidados com o bebê, mas sem conexão emocional e afetiva. É como se ela agisse de forma mais mecânica com as obrigações com o bebê, mas com muito menos vínculo", explicou a psicóloga.

Mãe de primeira viagem na pandemia

A redatora e escritora Isabel Machado Branco de Souza, 31, mãe de Kala, 3, foi diagnosticada com depressão pós-parto em 2020 e faz tratamento médico e psicológico até hoje. Ela conta que desde a infância queria ser mãe. Quando engravidou, fez um pré-natal cuidadoso e se preparou para o parto normal e humanizado.

"Quando Kala nasceu, veio direto para o meu colo. Tive o parto que idealizei e os primeiros dias foram maravilhosos", diz ela.

Mas a adaptação à nova rotina da maternidade na vida dela teve um porém: Kala nasceu no dia 18 de março de 2020 – exatamente na semana em que o governo do estado de São Paulo decretava quarentena e isolamento social completo em decorrência da pandemia de Covid-19. "Nos primeiros 30 dias eu chorei todos os dias", conta.

Os sintomas da depressão foram surgindo, mas a redatora não se dava conta do problema. Por ser mãe de primeira viagem e viver uma pandemia, achava que faziam parte do momento. Com o passar do tempo, os sintomas pioraram. Vieram as crises de choro mais intensas, a vontade de morrer e a sensação de desconexão com a filha, como se fosse uma rejeição, além da sensação de incapacidade de cuidar.

Com incentivo do marido, foi ao psiquiatra e recebeu o diagnóstico de depressão pós-parto, associado à prescrição de uma medicação. Também procurou ajuda em um grupo de mulheres que estavam no puerpério e iniciou a psicoterapia. Os dois processos, conta, foram essenciais para a sua recuperação.

"Em oito meses de tratamento eu acho que alcancei uma melhora significativa. E passei a entender que cada mulher tem o seu tempo, o seu corpo, a sua história. Algumas se recuperam mais rápido, outras não. Minha filha está com três anos e só agora me sinto mulher e esposa novamente", diz.

Pré-natal psicológico

A depressão pós-parto é uma doença que pode ser prevenida e tratada, desde que haja o acompanhamento adequado. A abordagem das gestantes no pré-natal deve incluir uma boa entrevista sobre a história clínica pessoal com transtornos mentais e dos familiares para que as possíveis intervenções possam ser feitas precocemente.

"Muitas mulheres sentem esse descompasso porque a maternidade é uma mudança gigante na vida. É um grande marco de mudança na vida da mulher – física, psíquica, emocional. A vida de antes, não existe mais. No momento que o bebê sai da barriga muda tudo. Mas é possível prevenir e tratar", afirma a psicóloga.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.