Radiação de telefone celular não deve ser motivo de preocupação; entenda

Quase três décadas de pesquisa científica não relacionaram o uso ao desenvolvimento de doenças

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Caroline Hopkins
The New York Times

Passar o dia todo grudado no smartphone provavelmente não está te ajudando muito. O uso excessivo do telefone tem sido associado a uma série de preocupações, incluindo problemas de sono, níveis elevados de cortisol, dor nas articulações e até problemas de relacionamento.

Mas se é a radiação que te preocupa, os especialistas dizem que você não precisa abandonar o seu telefone.

"Não há risco de nada perigoso ou prejudicial com a radiação dos celulares", diz Gayle Woloschak, vice-diretora e professora de radiologia na Northwestern University Feinberg School of Medicine.

Radiação gerada por celulares não deve ser motivo de preocupação - AnnaStills/Adobe Stock

Assim como todos os celulares (juntamente com redes Wi-Fi, estações de rádio, controles remotos e GPS), os smartphones emitem radiação, diz Emily Caffrey, professora assistente de física da saúde na Universidade de Alabama em Birmingham. Eles usam ondas de energia invisíveis para transmitir vozes, mensagens de texto, fotos e emails para torres de celular próximas, que podem enviá-los para praticamente qualquer lugar do mundo.

Mas quase três décadas de pesquisa científica não relacionaram essas exposições a problemas médicos como câncer, dizem as autoridades de saúde, incluindo a FDA (agência que regulamenta alimentos e drogas nos EUA). Aqui está o que sabemos.

NEM TODA RADIAÇÃO É PREJUDICIAL

"Radiação" descreve muitos tipos de energia, alguns dos quais apresentam riscos, diz Howard Fine, diretor do Centro de Tumor Cerebral no NewYork-Presbyterian Weill Cornell Medical Center, na cidade de Nova York.

Bombas atômicas, ou, em menor grau, máquinas de raio-X, emitem energia chamada radiação ionizante que —em doses suficientemente altas ou frequentes— pode danificar o DNA e causar câncer, diz Fine.

É por isso que você geralmente usa um avental de chumbo como proteção durante os raios-X.

Mas a energia do smartphone se enquadra em uma categoria chamada radiação não ionizante, afirma Caffrey, que não é poderosa o suficiente para causar esse dano.

"Muitas pessoas pensam que 'radiação é radiação', mas nem tudo é igual", pontua Woloschak. "Não há danos ao DNA observados pelo uso de celulares."

A radiação ionizante mais perigosa pode separar elétrons dos átomos, que compõem nosso DNA. Com o tempo, danos ao DNA podem causar câncer.

POR QUE AINDA HÁ PREOCUPAÇÃO?

A maioria dos especialistas e autoridades de saúde, como a FDA, o CDC (centros de controle e prevenção de doenças dos EUA) e a OMS (Organização Mundial da Saúde), concorda que não há evidências de que a radiação do smartphone cause problemas de saúde. Ainda assim, vários estudos ao longo dos anos ganharam manchetes por sugerir suas ligações com tumores cerebrais. Muitos desses estudos foram posteriormente desacreditados, diz Fine, incluindo aqueles focados nas redes móveis de quinta geração, ou 5G.

Em um estudo publicado em 2010, por exemplo, os pesquisadores encontraram uma pequena associação entre um tipo de tumor cerebral e os níveis mais altos de uso de celular. Mas os próprios pesquisadores do estudo observaram que "vieses e erros" os impediram de provar a relação de causa e efeito. Entre as várias falhas do estudo, de acordo com seus autores, uma foi que ele dependia de pessoas com câncer cerebral para lembrar corretamente quanto usaram seus telefones ao longo de muitos anos.

Todos os especialistas entrevistados para esta matéria disseram que os poucos estudos que sugeriram que os celulares representam riscos de radiação na verdade não provaram que os aparelhos causaram esses problemas de saúde.

A maioria das pessoas nos Estados Unidos possui celulares, de acordo com o Pew Research Center — e seria quase impossível identificar os celulares como motivo de alguém desenvolver câncer, diz Fine. Fatores de risco não relacionados, como exposição à poluição do ar, tabagismo, hábitos não saudáveis ou até mesmo apenas o acaso, poderiam ter sido os culpados.

No entanto, estudos com falhas como essas têm confundido as percepções sobre a segurança dos telefones, diz o National Cancer Institute.

FIQUE DO LADO SEGURO

Os celulares de hoje não se parecem em nada com os telefones tijolos do início dos anos 2000. Os telefones que usaremos na próxima década também serão diferentes. Isso torna desafiador estudar os riscos de longo prazo de qualquer telefone em particular. Mas Fine diz que a radiação na verdade diminuiu com a nova tecnologia, e Woloschak afirma que as novas redes não são mais arriscadas do que as antigas.

"A radiação do 5G não é maior do que a do 4G", diz ela. "Apenas permite uma transferência de dados maior."

Ainda assim, a Comissão Federal de Comunicação, um órgão americano, e seus equivalentes internacionais estabelecem limites de radiação para novos telefones. Isso explica por que, em setembro, as autoridades francesas disseram à Apple que ela deve reduzir os níveis de radiação emitidos pelo iPhone 12 para cumprir seus limites máximos. A Apple lançou uma atualização de software para corrigir o problema.

Caffrey afirma que esses limites são baseados em níveis de radiação que teoricamente poderiam elevar nossa temperatura corporal em uma fração de grau. De acordo com Woloschak, a radiação precisaria aquecer nossos corpos em vários graus para representar riscos à saúde, como queimaduras ou febre. "Um celular nunca fará isso", diz ela.

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