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Como saber se você realmente quer ser mãe

Especialista recomenda entender a origem do desejo, como ele foi construído e a partir de quais referências

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São Paulo

A vida de uma mulher é pautada por diferentes fases e uma delas pode ser o despertar da maternidade. No entanto, mesmo a vontade pode ser cercada por dúvidas. Tornar-se mãe envolve não apenas a decisão, mas também uma série de reflexões sobre identidade, desejos individuais e as transformações que acompanham a maternidade, de acordo com especialistas

Com o avanço dos movimentos feministas, especialmente no ocidente, as mulheres modernas podem explorar novos horizontes em relação à maternidade, afirma Belinda Mandelbaum, professora titular do departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP (Universidade de São Paulo). A contemporaneidade mostra também que já é possível adiar essa escolha e priorizar outras coisas sem que seja necessário desistir da maternidade, diz ela.

Pesquisadora recomenda entender a origem do desejo pela maternidade, se é algo interno ou externo - Adobe Stock

Segundo a Estatísticas do Registro Civil, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mulheres têm filhos cada vez mais tarde. A proporção de mães com mais de 30 anos aumentou de 24% em 2000 para 37,3% em 2021.

Em 2000, 22% das mães tinham entre 30 e 39 anos, e apenas 2% tinham 40 anos ou mais. Em 2010, esses números subiram para 26,1% e 2,3%, respectivamente, e, em 2021, atingiram 33,8% e 3,9%.

Mandelbaum é mãe de três e teve seu primeiro filho aos 32 anos. Na época, já tinha feito seu mestrado. Engravidou da terceira filha durante o doutorado, próxima dos 45 anos. "Eu defendi o meu doutorado super grávida", relembra.

A docente vê um cenário positivo na gravidez em momento mais avançado da vida. "Há coisas boas, como permanecer mais jovem de certa forma, por ter a casa rodeada de adolescentes. É claro que todo mundo envelhece, não é algo contornável, mas há uma renovação em se manter contato com pessoas mais jovens."

Seis pontos para ponderar na hora de tomar a decisão

Especialistas ouvidas pela reportagem dão dicas sobre fatores para levar em consideração ao decidir ou não pela maternidade

  • A decisão deve ser da mulher

    É importante conversar com o cônjuge e entender se ele quer fazer parte, mas a decisão final deve partir da mulher

  • Materialize situações

    Imagine como será a sua vida com filhos daqui a 5, 10 ou 15 anos e como isso se relaciona com outros planos pessoais e profissionais

  • Questione

    Tente entender de onde vem o seu desejo –se é exterior ou não– e quais as suas referências de maternidade são pontos importantes para tomar a decisão

  • Saiba que é preciso estar presente

    É necessário educar, apoiar emocionalmente, estar em contato com outras mães e crianças, e entender que alguns dias serão bons e outros ruins

  • Procure experiências reais

    Converse com outras mães para entender os momentos difíceis da maternidade e ponderar se você está disposta a lidar com eles

  • Pondere a hora certa

    Para algumas mulheres, a maternidade em um momento mais avançado da vida é o ideal. Para outras, não. É importante entender qual o momento certo para você

Daniela Roberta Antônio Rosa, mestre em sociologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doula, teve seu primeiro filho aos 34 anos. "Essa idade é considerada por muitos tarde, o que eu não concordo. Eu passei por um período me questionando se eu seria mãe, decidi estudar e me capacitar antes de tomar a decisão". A questão não é mais uma imposição, e sim um desejo, pondera ela.

"Todo caminho precisa ser pensado para uma experiência muito particular. Não é uma resposta simples, mas vale rastrear a partir de uma reflexão muito íntima e particular. Quais são as motivações? É preciso investigar se esse é um desejo exterior ou não. O primeiro passo é se questionar de onde vem, como se constrói e a partir de quais referências", diz a socióloga.

A pesquisadora afirma que embora mulheres ainda sejam cobradas para que se tornem mães, já é possível se perguntar "será que eu quero isso mesmo?". Se for possível, Rosa sugere acompanhamento psicoterápico para entender as camadas mais íntimas deste desejo.

Engajar-se em conversas, especialmente com mães para entender as dificuldades de cada fase, como na amamentação, por exemplo, também pode ser útil na hora de tomar a decisão. "Criar essa proximidade para além das campanhas de amamentação e redes sociais, porque essas publicações costumam ter sempre fotos lindas, não tem ferida no seio, por exemplo, não tem esse lado B. Maternidade é também sobre estar presente em momentos mais desafiadores", exemplifica.

Se um cônjuge faz parte parte da equação, a conversa é parte essencial da decisão, segundo Rosa. O diálogo deve ser marcado por um espaço de acolhimento e ir além do relacionamento a dois.

"Se a relação amorosa se rompe, como é que ficaria a relação parental com aquele indivíduo com quem você vai escolher ter um filho? Isso é importante porque o relacionamento amoroso pode acabar, mas a [relação] parental não. O filho vai continuar sendo das duas pessoas. Como funcionaria essa organização e qual seria o planejamento parental?", questiona.

A decisão de ser mãe ou não ainda é permeada por influências sociais, diz ela. O diálogo aberto, a reflexão íntima e o entendimento das implicações a longo prazo são essenciais para quem busca compreender essa decisão. O desafio reside não apenas em escolher ser mãe, mas em construir uma maternidade que respeite os desejos e limites individuais de cada mulher.

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