Área de quarentena em Goiás para deter coronavírus terá telão, pula-pula e quarto com TV

Número de pessoas alojadas pode chegar a 58, entre repatriados, tripulantes e médicos

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Anápolis (GO)

Do lado de dentro, quartos com TV, cama box, frigobar e uma pequena mesa para refeições. Do lado de fora, uma área com gramado com pula-pula para crianças e tenda com cadeiras e uma tela para filmes. Uma placa no corredor diz: "Sejam bem-vindos à pátria amada".

Assim é parte da área montada junto do Hotel de Trânsito de Aeronáutica em Anápolis (GO) para receber um grupo de 34 pessoas, entre brasileiros e familiares chineses, que deve ficar em quarentena por 18 dias após ser trazido de Wuhan, cidade chinesa epicentro da epidemia do coronavírus que está isolada.

Somando tripulantes e equipe médica, o número total pode subir para 58. A inclusão na quarentena dependerá do grau de contato com o grupo na viagem.

A previsão é que as duas aeronaves que devem trazer os repatriados cheguem a Anápolis entre meia-noite e 1h de domingo (9). Ao chegar, todos devem passar por nova avaliação médica e ter amostras respiratórias coletadas para exames capazes de verificar se houve infecção pelo vírus, ainda que sem sintomas.

Em seguida, cada pessoa ou família será levada a um dos 38 quartos no hotel que fica dentro da base aérea de Anápolis. 

O modelo de cada quarto varia conforme o número de ocupantes. Há, no entanto, itens comuns a todos eles. Além da cama, cada quarto tem um guarda-roupa, TV, ar-condicionado e uma pequena mesa redonda de vidro com uma cesta de frutas e doces.

Também há um pequeno gaveteiro com caixas de máscaras e luvas. Na parede ao lado da porta, há um suporte de álcool em gel. O banheiro foi equipado com itens como xampu, sabonete e lâmina de barbear.

Para famílias com crianças pequenas, foi colocado um berço com o nome da criança, em cores azul e rosa. Outros têm uma segunda cama ou poltrona para leitura.

A rotina na quarentena, porém, não ficará restrita aos quartos. Aqueles que desejarem poderão circular por áreas comuns, que incluem um jardim interno, brinquedoteca —no grupo, há sete crianças— e lavanderia, além da área externa com espreguiçadeiras e a tenda com telão. Também há um espaço com uma maca para avaliação médica simples.

A circulação obedecerá a um protocolo que envolve o uso de máscaras cirúrgicas, álcool gel e lavagem frequente das mãos com sabonete líquido. Uma apresentação de boas-vindas será dada na manhã de domingo (9) sob a tenda colocada ao ar livre.
 
Na ocasião, o grupo deve ser informado sobre a rotina de checagem de condições vitais três vezes ao dia e a programação de entretenimento, a qual deve envolver filmes e até a apresentação de uma banda. Equipes também devem frisar as regras de proteção, como uso correto das máscaras e luvas e como fazer o descarte de materiais pessoais, como lenços, por exemplo.

As visitas serão proibidas, segundo o comandante da missão chamada de Operação Regresso, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno. A equipe, porém, diz ter reforçado a internet para que as pessoas mantenham contato com familiares.

Ao todo, serão servidas cinco refeições diárias, que ficarão dispostas em uma mesa em um corredor. 

Alguns profissionais de apoio poderão circular no local mediante protocolos que pedem para evitar contato próximo. Nesta sexta (7), a equipe passou por treinamento. "O risco é mínimo", diz o diretor de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Julio Croda. "Todos [os repatriados] também estão passando por exames e triagem de sintomas. A chance de ser um paciente com coronavírus é muito baixa."

Segundo ele, o espaço foi construído de acordo com protocolos sanitários, mas mantendo o conforto. "É uma estrutura de hotel quatro e cinco estrelas", avalia.

A saída da quarentena será condicionada ao resultado do exame coletado no 14º dia —o prazo equivale ao mesmo período adotado pelo Ministério da Saúde para verificar eventuais casos de suspeita da infecção. A liberação ocorrerá apenas no 18º dia.

Aqueles que tiverem exames positivos devem ser mantidos em local isolado e terem exames repetidos semanalmente até nova liberação médica.
 
Até lá, o grupo deve viver dentro dos cerca de 900 metros quadrados separados dentro da base aérea. 

"Há as áreas branca, amarela e vermelha. O primeiro nível [branco] é de liberdade, que é onde tem o hotel, gramado, brinquedos para as crianças e arena ao ar livre, cinema. Há outro nível, que é morno, onde há verificação [de potenciais sintomas], e um terceiro, que não pode ser extrapolado", diz Damasceno.

De acordo com o ministro, as duas aeronaves que partiram de Brasília na quarta-feira (5) para buscar o grupo chegaram em Wuhan no início da tarde desta sexta (7). A previsão é que eles deixem o local por volta de 17h30.

Antes, devem passar por avaliação médica para confirmar a ausência de febre e outros sintomas, condição para que possam embarcar.

Esse embarque deve ocorrer por uma porta separada da usada pela tripulação e usar máscaras sobre o nariz e a boca. No voo, o contato será restrito à equipe médica, que deve checar periodicamente as condições de cada passageiro —daí a previsão de condições diferentes conforme o grau de contato da equipe, que inclui além dos tripulantes 14 médicos da Força Aérea e do Ministério da Saúde e dois jornalistas da Aeronáutica e da EBC. O tempo de viagem previsto para o retorno é de 26h.

Além dos brasileiros e familiares chineses, o governo deu aval para que fossem levados no avião outras seis pessoas, incluindo poloneses, um indiano e um chinês. Eles devem desembarcar em Varsóvia, cidade onde está prevista a primeira entre as quatro escalas da viagem.

Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que não tinha a intenção de buscar o grupo e que o resgate não seria oportuno. A decisão por fazer a operação ocorreu após brasileiros divulgarem vídeos pedindo apoio do governo para retorno.

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