'Estou sitiada', diz brasileira que tenta deixar epicentro do coronavírus no Irã

País tem 245 infectados e 26 mortos, número mais alto de mortes fora da China

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A professora universitária Cilene Victor, 51, saiu do Brasil na última sexta-feira (21) com a intenção de apresentar um trabalho científico em uma conferência no Irã. No sábado, quando chegou ao seu destino, a vida parecia correr normalmente. No dia seguinte, tudo mudou.

Cilene está em Qom, epicentro do coronavírus no país que concentra o maior número de casos no Oriente Médio e o número mais alto de mortes fora da China: nesta quinta-feira (27), já são 26, e o número de infectados chegou a 245.

Os primeiros casos registrados vieram dessa cidade de 1,2 milhão de habitantes, situada a 140 km da capital, Teerã, e centro de peregrinação religiosa para muçulmanos xiitas do mundo todo. 

Mulher com máscara em frente a uma rua
Cilene Victor, 51, na cidade de Qom - Arquivo pessoal

Desde domingo, as aulas foram interrompidas em escolas e universidades e vários comércios fecharam. A conferência da qual a brasileira participaria também foi suspensa.

A partir daí, foram quatro dias tentando sair do país. Seu voo foi cancelado, sem previsão de remarcação. Ela tentou embarcar para Líbano, Rússia, Alemanha, Áustria, Qatar e Emirados Árabes Unidos, sem sucesso. Passou 12 horas no aeroporto, mas ou os voos estavam lotados ou tinham sido cancelados.

Pensou, então, em deixar o Irã por terra, mas as fronteiras com a Turquia, o Azerbaijão e a Armênia estão fechadas.

“Fiquei desesperada. Pensei: ‘e agora?’ Estou isolada, sitiada aqui”, conta. “Quando cheguei, só tinha havido dois óbitos no país. De repente, ficou esse pânico, essa loucura. Eu cheguei junto com o surto.”

A professora diz que há outros 24 brasileiros no país a turismo que devem conseguir embarcar no domingo (1º). 

Cilene já tinha estado em Qom em julho do ano passado e viu muita diferença desta vez. O conhecido santuário Fatima Masumeh, que costuma estar sempre aberto, fechou as portas, por exemplo. “A cidade está vazia. Domingo saí para jantar e tinha só mais duas mesas ocupadas no restaurante. O comércio não tem basicamente ninguém”, relata.

O surto levou as autoridades do Irã a cancelar as tradicionais orações de sexta-feira em diversas cidades iranianas, entre as quais Teerã. As autoridades infectadas incluem Masoumeh Ebtekar, vice-presidente iraniana para assuntos da mulher e família, e o ministro assistente da saúde Iraj Harirchi. 

As primeiras infecções e mortes relacionadas ao coronavírus em território iraniano só foram anunciadas na semana passada. A proporção de vítimas fatais entre os infectados pelo vírus no país está em torno de 10%, ante 3% em outros lugares.

Segundo o relato de Cilene, os iranianos estão levando a sério as orientações de prevenção do governo e andam nas ruas de luvas e máscaras, carregando álcool gel e evitando tocar nas pessoas ao cumprimentar. A brasileira também está usando máscara e luvas para sair na rua. 
 
Minutos antes de conversar com a reportagem, ela teve a notícia de que a agência de viagens conseguira um voo para sua volta. Inicialmente, achou que iria para a Tailândia e depois para a Turquia, para só então pegar o avião para o Brasil. Pouco depois, soube que na verdade seu primeiro destino seria Baku, no Azerbaijão; em seguida, Istambul e, por último, São Paulo.

Ela só deve chegar em casa no sábado à noite, mas está aliviada de poder voltar. “Valeu a pena manter a calma, a serenidade", afirma.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.