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OMS descarta risco de uso de ibuprofeno contra coronavírus

Após divulgação de estudo, ministro da Saúde francês havia recomendado que pessoas com sintomas tomem paracetamol

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São Carlos

Após a publicação desta reportagem, a OMS (Organização Mundial de Saúde) voltou atrás e disse que não há recomendação contra o uso do ibuprofeno nos casos de infecção por coronavírus. Leia reportagem aqui.

O ministro da Saúde da França, Olivier Véran, pediu que as pessoas com febre e suspeita de infecção pelo novo coronavírus evitem tomar anti-inflamatórios como o ibuprofeno para controlar seus sintomas. “Em caso de febre, tomem paracetamol. Os anti-inflamatórios poderiam ser um fator de agravação da infecção”, declarou Véran em uma de suas redes sociais.

O pedido foi reiterado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na terça (17). O porta-voz da organização em Genebra, Christian Lindmeier, disse a repórteres que especialistas da ONU "estão analisando o assunto".

"Enquanto isso, recomendamos o uso de paracetamol e não usar ibuprofeno como automedicação. É importante", disse.

A lista de medicamentos cujo princípio ativo é o ibuprofeno é bastante longa. Ela inclui remédios como o Buscofem, indicado para cólicas menstruais, e o Artril, para artrite. Com o nome de Alivium, a droga também é receitada como antitérmico para crianças.

“O ibuprofeno é muito utilizado como primeiro remédio contra a febre na Itália, o que explica, em parte, a preocupação em usá-lo durante a pandemia de coronavírus”, diz o infectopediatra Victor Horácio de Sousa Costa Júnior, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

Segundo ele, há evidências de que o uso do medicamento pode diminuir a resposta das células de defesa do organismo diante de um agressor, como o vírus Sars-CoV-2, causador da nova pandemia. “Ele poderia até favorecer a proliferação do causador da doença. Portanto, trata-se de uma orientação bem fundamentada. Os infectologistas concordam que o melhor é empregar o paracetamol contra dor e febre nesses casos.”

O pedido de cautela do ministro francês, que também é médico de formação, ecoa também uma pesquisa que acaba de ser publicada na revista médica Lancet, uma das mais respeitadas do mundo, tentando mapear os efeitos do Sars-CoV-2.

Os principais medicamentos com ibuprofeno

  • Advil

  • Alivium

  • Artril

  • Buscofem

  • Dalsy

  • Motrin

Um trio de pesquisadores liderado por Michael Roth, do Hospital da Universidade de Basileia, na Suíça, analisou os dados já divulgados sobre mortes e casos graves da covid-19, como é conhecida a doença causada pelo novo vírus. Já está claro que pessoas com problemas cardiovasculares (em especial hipertensão) e diabetes correm risco aumentado de ter problemas mais sérios com a moléstia, e eles propõem que parte da razão tem a ver com remédios que funcionam de modo semelhante ao ibuprofeno.

Ocorre que pessoas com doenças cardiovasculares e diabetes muitas vezes utilizam medicamentos conhecidos como inibidores de ECA (enzima conversora da angiotensina). Essa molécula, presente de modo natural nas células humanas, é importante nos processos que acabam levando ao aumento da pressão do sangue. Portanto, faz sentido que hipertensos e diabéticos usem remédios que barrem a ação da ECA.

Mulher com máscara branca no rosto caminho em frente ao arco do triunfo
Mulher usa máscara próximo ao Arco do Triunfo, após o anúncio do premiê de que lojas, restaurantes, bares, cinemas, cafés e casas noturnas deveriam ser fechadas devido à crise do coronavírus - Gonzalo Fuentes/REUTERS

O problema é que os inibidores de ECA, bem como outros remédios com efeito similar sobre o organismo, acabam levando à ativação mais intensa de outra molécula parecida, a ECA2. E, conforme mostrou um estudo recente na revista especializada Science, a ECA2 é o receptor, ou seja, a “fechadura química” usada pelo novo coronavírus para invadir as células de suas vítimas. Tal como ocorre com esses medicamentos, o ibuprofeno também é capaz de aumentar a presença de ECA2 nas células.

Ou seja, o uso de tais remédios multiplicaria as “fechaduras” nas quais o vírus se encaixa, potencializando sua ação. Isso explicaria o porquê de hipertensos, pessoas com doenças cardíacas e diabéticos estarem sofrendo mais: os medicamentos tomados por esses pacientes dariam um empurrão extra à ação do coronavírus.

Na pesquisa da Lancet, Roth e seus colegas apontam que há outros tipos de remédios para essas doenças preexistentes, os quais, pelo que se sabe, não teriam o mesmo efeito facilitador para o coronavírus. Assim como o paracetamol pode substituir o ibuprofeno, os remédios para problemas cardiovasculares com esse efeito negativo também podem ser substituídos por outra classe de drogas sem perda significativa de eficácia.

É importante lembrar que a análise feita pelos pesquisadores envolveu apenas correlações – eles não chegaram a testar o efeito nocivo dos medicamentos citados analisando células humanas ou cobaias em laboratório que foram infectadas pelo novo coronavírus, por exemplo. Outros médicos ouvidos pela Folha limitaram-se a dizer que, por via das dúvidas, estão recomendando que se evite o uso do ibuprofeno, embora as evidências científicas sobre seus possíveis efeitos negativos nesses casos ainda não sejam sólidas.

O ministro francês também sugeriu que os pacientes não usem anti-inflamatórios como a cortisona, presente em remédios para tratamento de bronquite, asma e problemas reumáticos, por exemplo. O motivo é o mesmo: eles também tendem a diminuir a ação do sistema de defesa do organismo.

Com AFP

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