Descrição de chapéu Coronavírus

Livro explica termos e lógica usada para mapear Covid-19

Autor de 'As Regras do Contágio' destaca importância da comunicação durante a pandemia

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São José dos Campos (SP)

A pandemia de Covid-19 fez com que jornais, sites e programas de TV adotassem um dialeto peculiar.

Termos como R0 (“R zero”, ou “número básico de reprodução”), “imunidade de rebanho” e outras expressões que ajudam a entender como o novo coronavírus se espalha se integraram ao vocabulário do cotidiano.

Um livro que está chegando ao Brasil é uma tentativa de explicar a lógica por trás dessa terminologia e das técnicas usadas pelos cientistas para mapear todo tipo de fenômeno contagioso, de doenças a memes nas redes sociais.

“As Regras do Contágio” é o segundo livro do britânico Adam Kucharski, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e matemático de formação. O que, aliás, vem um bocado a calhar. Foi a capacidade de analisar matematicamente a transmissão de moléstias infecciosas, de novas tecnologias ou comportamentos sociais que transformou o que hoje chamamos de epidemiologia numa ciência.

Tome-se como exemplo o célebre R0. Ele corresponde, grosso modo, ao número de novos casos de uma doença infecciosa que cada pessoa doente é capaz de desencadear numa população em que todos são suscetíveis àquela moléstia. Se cada pessoa com Covid-19 transmitir o vírus Sars-CoV-2 a três outras, em média, temos um R0 = 3.

Em situações mais complexas, usa-se apenas a letra R e a equação R = D x O x T x S. Ou seja, o tal R é igual à duração do tempo em que a pessoa continuou transmitindo a doença, vezes as oportunidades que ela teve de passar o patógeno adiante (um churrasco do trabalho, uma festa de aniversário etc.), vezes a probabilidade de que esses encontros de fato tenham resultado numa transmissão (o que nem sempre acontece), vezes a susceptibilidade da população.

Esse tipo de sopa de letrinhas, por sorte, nem de longe caracteriza a obra como um todo. Kucharski alcançou um ponto de equilíbrio interessante ao mesclar os elementos matemáticos básicos da análise de fenômenos contagiosos à história dessas descobertas (várias delas ligadas a doenças tropicais, como as que ainda grassam no Brasil), a anedotas sobre pandemias ou pânicos financeiros recentes ou ao uso judicioso de gráficos, como os que celebrizaram o termo “achatar a curva” em 2020.

A combinação de estratégias ajuda a esclarecer, entre outras coisas, por que não faz sentido tratar modelos matemáticos sobre o avanço de uma pandemia como se fossem previsões do tempo. Não faz sentido passar raiva quando um modelo “erra” número de casos ou de mortes.

“Modelos servem para que coloquemos no papel o conhecimento que temos sobre a situação naquele ponto do tempo”, explicou Kucharski à Folha em chamada por vídeo. “São apenas um modo de tentar entender as implicações do que sabemos.”

Para o pesquisador, embora ainda haja muita incerteza sobre diversos aspectos da Covid-19, vários aspectos da doença ficaram mais claros ao longo dos últimos meses, o que ajuda a analisá-la com mais precisão do ponto de vista epidemiológico. Seria possível, por exemplo, comparar o novo coronavírus a patógenos sexualmente transmissíveis em certos aspectos.

“É um jeito útil de pensar no controle da pandemia porque não se trata de algo como a varíola ou a Sars, que sempre trazem sintomas muito evidentes e são transmitidas principalmente quando há esses sintomas. Quando há uma transmissão significativa quando a pessoa ainda não desenvolveu esses sintomas [os chamados pré-sintomáticos], como parece ser o caso na Covid-19, a analogia faz sentido.”

O livro também investiga como as “fake news” se propagam, um fenômeno que, para Kucharski, não foi tão ruim quanto se esperava no caso da pandemia.

Matemático Adam Kucharski durante palestra
Matemático Adam Kucharski durante palestra - Reprodução

“No começo, a falta de conhecimento sobre a doença impulsionou as ‘fake news’, mas a minha sensação é que, com o passar do tempo, a pressão para que informações mais confiáveis fossem disseminadas acabou prevalecendo. O problema é quando uma situação de quarentena se arrasta muito, porque nesses casos a decisão de manter o distanciamento social inevitavelmente envolve aspectos políticos mais claros, e a tentação de manipular informações aumenta. Por isso é tão importante a clareza na mensagem passada pelas autoridades”, analisa ele.

O livro já está disponível no país em formato de ebook. A versão impressa deve chegar às livrarias no começo de agosto.

As Regras do Contágio: Por Que As Coisas Se Disseminam e Por Que Param De Se Propagar
Autor
Adam Kucharski
Tradutora Alessandra Bonrruquer
Editora Record
Quanto R$ 26,91 em formato eletrônico (336 págs.)

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