Descrição de chapéu Coronavírus

Ficaremos muito tempo com a Covid, diz ex-presidente da Fiocruz

Pesquisador diz que país pode não alcançar imunidade de rebanho se 20% recusar vacina

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Rio de Janeiro

Ex-presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e hoje assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, o médico veterinário Akira Homma afirma que o brasileiro vai conviver por muito tempo com a Covid-19.

Segundo ele, há uma escassez enorme de vacinas, sendo alvo de disputas em todo o mundo.

A Fiocruz ainda espera a chegada do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) para produção de 100,4 milhões doses de vacina Oxford/AstraZeneca.

Mas o cronograma original, de recebimento do insumo até dezembro de 2020 para imunização da população até o fim deste ano, já atrasou.

“Vamos ficar com a Covid por muito tempo. Por mais que venha a vacina, um dos instrumentos mais importantes para combate à Covid, temos que atingir alta cobertura nacional. E temos uma falta enorme de vacinas. Todo mundo está disputando vacina”, afirma o pesquisador.

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Akira Homma, ex-presidente da Fiocruz - Peter Ilicciev /Fundação Oswaldo Cruz

Aos 82 anos, 53 deles dedicados à Fiocruz, Homma diz que nunca testemunhou tanta resistência à vacinação como nos dias de hoje.

O pesquisador alerta para o risco de o país não alcançar a chamada imunidade de rebanho —com formação de barreiras contra a doença— caso 20% da população se recusem a ser vacinados.

Pesquisa Datafolha, divulgada sábado (23), aponta que 79% dos brasileiros pretendem ser vacinados.

“Se esse grupo [dos negacionistas] chegar a 20%, será prejudicada a formação de proteção de rebanho”, adverte.

Homma afirma que, assim como os países desenvolvidos, o Brasil assumiu um risco ao pagar pelas vacinas Oxford/AstraZeneca antes de concluídos seus estudos clínicos.

E diz que o país estaria no fim da fila se não tivesse fechado o acordo. Ele ressalta que a Fiocruz assinou o contrato para compra do insumo antes de o Butantan fechar negócio para produção da Coronavac no Brasil.

“Foi um contrato de risco, assinado antes de a vacina ficar pronta. No processo, a vacina atrasou. O Butantan nem tinha fechado o contrato”, afirma.

Segundo ele, o desenvolvimento da vacina Oxford/AstraZeneca estava avançado à época da assinatura do contrato. Mas houve percalços.

“Existe muita discussão dizendo que o Brasil está atrás. Mas já estivemos à frente”.

Na direção de Bio-Manguinhos desde 1976, o pesquisador explica que o Brasil optou por encomendar os componentes produzidos por laboratório chinês porque os americanos estavam retendo a vacina para consumo nos Estados Unidos.

“Os americanos estavam sequestrando a vacina, não era estrategicamente seguro negociar com laboratórios americanos”.

Sobre a possibilidade de embaraços diplomáticos prejudicarem o programa de imunização, Homma afirma que a questão política foge ao alcance da Fiocruz. “Se houver problemas políticos, estaremos muito mal.”

O acordo fechado com a AstraZeneca prevê a chegada de 14 lotes de 7,5 milhões de doses, com intervalo de duas semanas entre cada remessa.

Para janeiro, a previsão era de recebimento de dois lotes, suficientes para a produção de 15 milhões de doses.

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