Descrição de chapéu The New York Times

Por que não existem medicamentos contra carrapatos para pessoas como há para animais?

As preocupações com segurança têm representado desafios para o desenvolvimento desses remédios

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dana G. Smith
The New York Times

A cada três meses, dou à minha cachorra um comprimido com sabor de carne que mata qualquer carrapato que a morda. Ela também foi vacinada contra a doença do carrapato (chamada de Lyme). Mas, por que essas opções não existem para as pessoas?

"É engraçado, na doença de Lyme, os animais têm muito mais opções do que os humanos", afirma Linden Hu, professor de imunologia na Escola de Medicina da Universidade Tufts. Isso inclui várias vacinas contra a doença de Lyme, bem como medicamentos preventivos orais e tópicos contra carrapatos.

Mulher negra segura cachorro branco
Nas doses recomendadas, medicamentos para carrapatos, pulgas e ácaros são seguros para cachorros - Pexels/Samson Katt

Os riscos sobre segurança e dúvidas sobre a aceitação pública são os principais fatores que têm dificultado o desenvolvimento desses tipos de medicamentos para humanos. Mas, com o aumento de casos de doença de carrapato e outras infecções transmitidas pelos animais para seres humanos nos últimos anos, os pesquisadores estão explorando novas (e antigas) opções, e algumas já avançam para ensaios clínicos em humanos.

Vacinas

Entre 1999 e 2002, havia uma vacina para a doença de carrapato disponível nos Estados Unidos. O medicamento, chamado Lymerix, foi aprovado pela FDA (agência que regulamenta alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) em 1998, após ensaios clínicos o considerarem seguro e eficaz para prevenir infecções causadas por bactérias que causam a doença de Lyme. A vacina foi indicada para pessoas entre 15 e 70 anos que viviam ou trabalhavam em áreas onde a enfermidade era comum.

Logo após o início da vacinação, surgiram relatos de efeitos colaterais, principalmente sintomas de artrite. Autoridades federais de saúde "analisaram cuidadosamente" os dados e não encontraram evidências de que a vacina fosse insegura, explica Erol Fikrig, especialista em doenças infecciosas da Escola de Medicina de Yale, que esteve envolvido no desenvolvimento do medicamento.

Mas o estrago já estava feito. As vendas do imunizante despencaram e, em 2002, a GSK, que fabricava o medicamento, retirou-o do mercado.

As vacinas contra a doença do carrapato atualmente disponíveis para cães são similares às desenvolvidas para humanos. Elas funcionam principalmente estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos contra uma proteína chamada OspA, que é produzida pelas bactérias causadoras da doença de Lyme e transmitida pela saliva do carrapato. Quando ele se alimenta do sangue de um cachorro, os anticorpos presentes no organismo matam as bactérias no intestino do carrapato, impedindo-as de causar uma infecção.

Drogas Tópicas e Orais

Os principais métodos de prevenção para donos de animais de estimação são tratamentos tópicos (na pele) e orais. Esses medicamentos, chamados de acaricidas, são distribuídos pelo corpo do animal depois de ingeridos ou aplicados na pele e matam carrapatos, além de pulgas e ácaros, quando os mordem. Uma vantagem é que protegem contra múltiplas infecções transmitidas por esses aracnídeos, não só a doença de Lyme.

Para muitas dessas doenças, o carrapato deve permanecer fixado em seu hospedeiro por um ou dois dias para causar uma infecção, explica Janet Foley, professora de medicina e epidemiologia na Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia de Davis. "Contanto que você possa matar esse carrapato dentro de algumas horas, você consegue evitar a possibilidade de transmitir a doença de Lyme."

Apesar de serem tóxicos para os carrapatos, tanto os medicamentos orais quanto os tópicos têm sido comprovadamente seguros para cães nas doses utilizadas. No entanto, Hu observou que, até o momento, poucas pessoas consideraram investigar se esses medicamentos poderiam ser usados em humanos como medida profilática contra infecções transmitidas por carrapatos.

"A toxicidade de um acaricida para carrapatos é muito, muito, muito maior do que sua toxicidade para mamíferos", afirma Foley. Mas, acrescentou ela, é compreensível que algumas pessoas possam se preocupar em tomar um medicamento que impregna o corpo com uma toxina apenas no caso de serem picadas por um carrapato. "Acredito que não seria um mercado interessante para humanos", disse Foley, embora isso seja "pura especulação", acrescentou ela.

Porém, uma empresa farmacêutica de pequeno porte, a Tarsus Pharmaceuticals, está apostando nisso. Em colaboração com Hu, a Tarsus está testando se um acaricida oral usado em alguns medicamentos veterinários contra carrapatos, chamado lotilaner, é seguro e eficaz em pessoas. (O medicamento também foi recentemente aprovado como colírio para humanos, para tratar inflamação das pálpebras causada por ácaros.)

"Na verdade, somos um dos poucos a trazer um medicamento do lado veterinário para o lado humano", afirma Bobak Azamian, co-fundador, presidente e diretor executivo da Tarsus Pharmaceuticals.

De acordo com a empresa, os primeiros testes clínicos do lotilaner —fornecido às pessoas como um comprimido, não uma mastigação com sabor de carne como para os cachorros— mostraram que ele foi cerca de 90% eficaz em matar carrapatos que picavam os participantes tanto no dia em que tomavam a medicação quanto até 30 dias depois. Não houve nenhum risco em relação à segurança do fármaco nos testes, disse Azamian.

Ainda assim, serão necessários vários anos e várias rodadas adicionais de testes clínicos antes que qualquer um desses medicamentos possa ser aprovado pela FDA. E, mesmo assim, "sempre há um elemento de incerteza sobre como as pessoas se sentirão a respeito", diz Hu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.