Descrição de chapéu Coronavírus

Mooca é a região que concentra mais mortos por Covid a cada 100 mil habitantes em SP

Superlotado, hospital municipal do bairro deixou de atender novos pacientes; prefeitura nega

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São Paulo

O tradicional bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista, é a região da cidade em que a Covid-19 mais matou pessoas, proporcionalmente, em 2021. O distrito registrou índice de 68,5 óbitos a cada 100 mil habitantes até 11 de março. Na cidade, essa taxa ficou em 49,5.

A pressão sobre o sistema de saúde tem sido tão intensa, que o hospital municipal do bairro superlotou e não atende novos pacientes desde o último sábado (13). Para ser atendido em outras unidades, é preciso encarar uma longa espera.

Levantamento feito pela Folha com base nos dados do sistema Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade) mostra ainda que dos dez distritos com mais óbitos de Covid-19 por 100 mil habitantes, oito estão na zona leste da cidade.

Bairros próximos à Mooca, como Água Rasa, Vila Formosa e São Lucas integram o topo da lista dos distritos com mais óbitos por 100 mil habitantes da cidade. Eles ainda ficam próximos da região de Sapopemba —recordista de mortes em números absolutos no município, onde o coronavírus já fez 807 vítimas, 124 só neste ano.

A circulação de pessoas pelos comércios, segundo moradores, é o principal motivo da disseminação do vírus na Mooca.

Moradora da Mooca há 55 anos, Yara Falconi dos Santos, 59, relata que os supermercados, sempre estão cheios. “O pessoal não tem feito muito isolamento social por aqui. E alguns usam a máscara de maneira errada. Só ontem [segunda] à noite, com o início do toque de recolher, vi menos gente”, diz.

Yara ainda afirma que muitas famílias estão se encontrando, o que pode causar mais infecções. “Na última semana, perdi um colega. Ele tinha só 45 anos. Parece que os casos estão cada vez mais perto da gente.”

A sensação de aumento de infectados no bairro também é citada pelo conselheiro tutelar Wilson Cotrim, 65. “Conheço gente que está internada, está na UTI, e até quem está se tratando em casa. Tem muito mais casos agora do que no ano passado”, diz.

O reflexo desse aumento da circulação do vírus no bairro já é sentido no sistema de saúde. Superlotado, o Hospital Municipal Doutor Ignácio Proença de Gouvêa, referência para doentes com Covid-19, não atende mais novos pacientes desde a tarde de sábado (13).

A AMA (Assistência Médica Ambulatorial), que funciona como porta de entrada do hospital, também foi fechada. Segundo funcionários, que pediram para não ser identificados, os médicos se reuniram na tarde de sábado e resolveram cessar a entrada de pacientes para que conseguissem dar assistência aos que estão internados.

Eles relatam que foram abertos leitos em várias áreas do hospital, até na sala de descanso dos médicos, mas todos estão ocupados.

A dona de casa Silvia Lopes, 44, estava no hospital aguardando o boletim médico do pai quando os médicos resolveram fechar a unidade. "Eles [médicos] estavam muito tristes, mas a gente via que não tinham outra opção”, conta.

A reportagem ficou cerca de 40 minutos na porta do hospital na manhã desta terça (17) e viu três pacientes serem dispensados. Funcionários da segurança orientam que os doentes procurem outros hospitais.

Mas quem busca outros equipamentos no bairro tem de enfrentar um longo tempo para ser atendido. Na UBS Mooca, somente um médico atendia na manhã desta terça. O tempo de espera era de quatro horas.

Os pacientes que podiam se deslocar eram orientados a seguir para a AMA Água Rasa. A reportagem esteve no local por volta das 12h e a espera pela consulta levava 2 h 30. Funcionários disseram que a fila tem sido assim todos os dias. ​

Segundo o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, a circulação do vírus está descontrolada em toda a cidade e, como o bairro tem uma parcela maior de idosos —em torno de 22% da população (na capital, essa faixa etária corresponde a 15,9%) —, eles podem acabar infectados e, como são mais suscetíveis à doença, morrem.

Por mais que a idade seja um fator de risco para a Covid-19, Suleiman chama atenção para o aumento de pacientes mais jovens hospitalizados, muitos com quadros graves da doença.

“Faço um apelo para que as pessoas usem máscara corretamente, mantenham o distanciamento social e se desloquem somente para o necessário. Só isso pode tentar conter a alta de casos.”

Outro lado

A Prefeitura de São Paulo informou, por meio de nota, que o Hospital Municipal Doutor Ignácio Proença de Gouvêa, não está com atendimento interrompido. A reportagem, no entanto, presenciou o local fechado e os pacientes sendo dispensados nesta terça, e ainda falou com funcionários e parentes de pacientes que confirmaram a informação.

"Toda a demanda espontânea de pacientes com síndrome gripal está sendo atendida e os pacientes graves com qualquer patologia, que são encaminhados ao hospital pela rede pré-hospitalar de urgência (Samu, Cobom, entre outros) são prontamente atendidos", afirma trecho da nota.

O hospital estava com 96% de lotação na enfermaria e tinha 95% dos leitos de UTI ocupados nesta terça, segundo a prefeitura.

Em relação à demora no atendimento nas unidades de saúde do bairro, a Secretaria Municipal da Saúde afirmou que na UBS Mooca I havia uma médica até as 10h e, após esse horário, mais uma médica passou a atender os pacientes, "o que equalizou o atendimento". A reportagem, no entanto, esteve no local às 11h e havia apenas uma profissional atendendo.

Sobre a AMA/UBS Água Rasa, a pasta afirmou que, "das 7h às 11h30, foram abertas 77 fichas de atendimento".

Sobre o fato de a Mooca e outros bairros da zona leste terem as maiores taxas de óbitos de Covid-19 a cada 100 mil habitantes, a secretaria afirmou que precisa fazer um estudo epidemiológico para avaliar o quadro.

A secretaria ainda afirma que as UBSs monitoram sintomáticos respiratórios e encaminham casos mais graves para hospitais de referência. "Até o dia 13 de março já foram monitorados mais de 1.300.415 pacientes na cidade. Deste total, mais de 941.440 mil já receberam alta e cerca de 260.842 mil ainda seguem monitorados", informa a nota.

Ranking dos distritos com mais mortes por 100 mil habitantes

  1. Mooca
  2. Carrão
  3. Barra Funda
  4. Água Rasa
  5. Aricanduva
  6. São Lucas
  7. Vila Formosa
  8. Vila Guilherme
  9. Artur Alvim
  10. Ponte Rasa
  11. Tucuruvi
  12. Vila Prudente
  13. Freguesia do Ó
  14. Tatuapé
  15. São Miguel
  16. Santana
  17. Mandaqui
  18. Socorro
  19. Vila Mariana
  20. Vila Medeiros
  21. Vila Matilde
  22. Ipiranga
  23. Limão
  24. Penha
  25. Lapa
  26. Butantã
  27. Belém
  28. Cambuci
  29. Jaguara
  30. Cidade Lider
  31. Pirituba
  32. Campo Belo
  33. Campo Grande
  34. Itaquera
  35. Raposo Tavares
  36. Cachoeirinha
  37. Vila Jacuí
  38. Sapopemba
  39. Pari
  40. Casa Verde
  41. Lajeado
  42. Santa Cecília
  43. Vila Curuçá
  44. Jaçanã
  45. Morumbi
  46. Itaim Paulista
  47. São Mateus
  48. Pinheiros
  49. Cangaíba
  50. Parque do Carmo
  51. Santo Amaro
  52. Cidade Ademar
  53. Vila Maria
  54. Bela Vista
  55. Cursino
  56. Bom Retiro
  57. Liberdade
  58. República
  59. Tremembé
  60. São Domingos
  61. Vila Sônia
  62. Alto de Pinheiros
  63. Jardim Paulista
  64. Jardim Helena
  65. Guaianases
  66. Jabaquara
  67. Cidade Tiradentes
  68. Saúde
  69. Jaraguá
  70. Iguatemi
  71. Consolação
  72. Ermelino Matarazzo
  73. Parelheiros
  74. Grajaú
  75. Cidade Dutra
  76. Sacomã
  77. Itaim Bibi
  78. Jardim São Luís
  79. Moema
  80. Brasilândia
  81. Rio Pequeno
  82. Perdizes
  83. José Bonifácio
  84. Vila Leopoldina
  85. Brás
  86. Capão Redondo
  87. Campo Limpo
  88. São Rafael
  89. Vila Andrade
  90. Perus
  91. Anhanguera
  92. Jaguaré
  93. Pedreira
  94. Jardim Ângela
  95. Marsilac
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