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Moradores de Angra dos Reis e Paraty temem invasão de turistas em megaferiado no Rio

Municípios litorâneos flumineses criam medidas extras na tentativa de impedir aglomerações

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Rio de Janeiro

Moradores e profissionais da saúde de Angra dos Reis e Paraty, cidades litorâneas do Rio de Janeiro, temem uma invasão de turistas durante o megaferiado de dez dias criado pelo governo fluminense. Eles defendem a adoção de medidas mais restritivas e alertam para o colapso no sistema de saúde dessas localidades, diante do recrudescimento da pandemia da Covid-19.

Já os comerciantes e empresários do setor do turismo têm visões conflitantes a respeito das medidas a serem adotadas. Alguns avaliam que as restrições atuais são suficientes, enquanto outros dizem que gostariam de poder fechar as portas no momento atual, mas que para isso seria necessário receber auxílio financeiro.

A proibição de frequentar as praias, determinada pelo governo estadual, é válida para todas as cidades litorâneas. Mas diante da expectativa de receber turistas em meio ao aumento da transmissão do vírus, muitas cidades turísticas criaram restrições extras.

Em Angra dos Reis (RJ), a prefeitura impôs regras como a proibição de ônibus e veículos de fretamento. O funcionamento das marinas também ficará suspenso para saídas de embarcações de esporte ou recreio. A exceção é apenas para os casos em que ficar comprovada a necessidade de deslocamento marítimo emergencial.

A empresária Vanessa Guimarães, 38, que mora no condomínio Porto Frade, costuma alugar sua casa em ocasiões especiais. A última delas foi durante o Réveillon. No megaferiado, porém, por precaução, ela conta que desistiu.

“A minha casa é muito grande, temos cinco suítes. Então, as pessoas costumam vir em grupos. Não acho isso correto, neste momento. Quero proteger a minha família e a minha cidade”, diz.

Manoel Francisco de Oliveira, 74, síndico do Frade, diz que 60 das 750 casas haviam sido alugadas até quarta (24) para o feriado. Segundo ele, a média em datas como Carnaval, Semana Santa e fim do ano é de 80 casas alugadas.

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As prefeituras de Búzios e de Cabo Frio se uniram para montar uma barreira sanitária em um ponto estratégico para os dois municípios - Prefeitura de Búzios no Facebook

Proprietário do Palace Hotel, no centro de Angra, Luiz Eduardo Galindo, 35, é a favor da abertura do turismo com medidas de segurança para não quebrar o setor. Ele diz que teve que fechar as portas por cinco meses no ano passado.

“É uma situação complicada. Não podemos fechar tudo e nem abrir tudo. Essa doença não é brincadeira, mas há pessoas que dependem do turismo e estão desesperadas. Acho que podemos abrir respeitando as medidas de segurança”, afirma.

Dono de uma motopeças em Angra, Gabriel Rabha, 36, inaugurou o estabelecimento no início da semana, com a intenção de atender aos motoboys que trabalham com entregas na pandemia. Ele afirma que, se os turistas forem para a cidade no megaferiado, seu negócio terá mais movimento.

“Fechar a cidade totalmente seria uma medida extremista. O meio termo, com medidas para evitar a aglomeração, é a melhor opção”, defende.

Já para quem está na linha de frente contra a doença, o momento é de preservar a vida.

“Não podemos ficar de olhos fechados para isso. Ame a sua família, ame a sua vida. Fique em casa e faça o isolamento social. Se precisar sair, use a máscara. Precisamos vencer essa batalha. E nós, profissionais de saúde, sozinhos não conseguiremos”, diz Josieli Cano Fernandes, 39, enfermeira em um hospital público de Angra.

Em Paraty, um decreto determinou a instalação de barreiras nos acessos à cidade, sendo permitida a entrada apenas de turistas com apresentação de reservas. A taxa de ocupação nas hospedagens será limitada a 50%.

Alfredo Veiga, 65, administrador de uma pousada em Trindade, vila de pescadores da região, diz que mesmo antes do feriado e das novas restrições já tentava evitar a lotação do estabelecimento.

Também afirma que todos os funcionários e hóspedes usam máscara e que um desinfectante hospitalar é utilizado na limpeza dos quartos. "A maioria das pessoas respeita e usa a máscara. Uma ou outra temos que chamar a atenção para que tenha um pouco de consciência", diz.

No ano passado, Trindade ficou fechada para turistas por cerca de cinco meses. Alfredo conta que, sem receita, os funcionários conseguiram atravessar o período se alimentando do estoque que havia no restaurante da pousada. Diz que um novo fechamento total seria caótico em termos financeiros, mas que cabe a ele seguir qualquer determinação da prefeitura.

"Ninguém aqui é bolsonarista. Seguimos as regras, tomamos cuidados extras. Se tiver que fechar, vai fechar, mas nossos funcionários não sei como vão ficar."

Desde setembro a comerciante Nina Taterka, 46, adicionou uma corrente na entrada de sua loja no centro da cidade, para evitar aglomerações. Mesmo com os cuidados, ela ainda está em dúvida se abrirá as portas no feriado.

"Tenho muita preocupação de acontecer alguma coisa com a minha equipe. Se não tiver hospital, médico, eu vou me sentir muito mal", diz.

No ano passado, seu estabelecimento ficou fechado durante sete meses, quando fez uso da MP 936 (que reduziu jornada de trabalho e salários, com compensação parcial do governo federal).

"O decreto municipal facilitou a negociação do aluguel e que eu obtivesse um empréstimo com taxas baixas. Me ajudou a atravessar um momento difícil. Mas agora não tenho decreto para me dar respaldo, nem nenhum sinal de que o governo vá ajudar a pagar o salário dos funcionários", diz.

Nina afirma que se vê muito sozinha como comerciante ao defender sua posição. Se não obtiver ajuda, diz que terá que se desfazer de patrimônio para manter sua atividade, ou fechar de vez.

"Não sou eu, comerciante, que vou dizer que quero estar aberta porque tenho contas a pagar. A ciência vai dizer se é seguro ou não abrir minhas portas e eu tenho que ter ajuda governamental para fazer o que a ciência vai dizer. Estamos vivendo uma inversão muito grande de valores", diz.

Em Búzios, na Região dos Lagos, a prefeitura alerta sobre o aumento de internações de pacientes com Covid e pede que pacientes de outros municípios procurem atendimento em suas cidades de origem.

Para conter a disseminação do vírus, foram anunciadas medidas restritivas durante o megaferiado, como lotação de 50% em passeios de barco e na circulação em transportes coletivos. Estabelecimentos comerciais poderão funcionar até meia-noite, também com limite de 50% de lotação.

A prefeitura determinou, ainda, que somente turistas com reserva de hospedagem poderão entrar no município, apresentando um QR code emitido apenas por pousadas e hotéis.

Como nas demais cidades litorâneas do estado, está proibida a permanência nas praias, exceto para a prática de atividades físicas individuais. Ainda assim, há quem burle a regra.

Marussia Marinho, 62, mora nos arredores da praia de Tucuns, mais afastada do centro de Búzios. Ela conta que conheceu dois turistas da capital que disseram ter sido orientados pela pousada em que estão hospedados a frequentar aquela praia durante o feriado, porque ali não costuma haver fiscalização.

Marussia também afirma que a barreira sanitária na entrada da cidade deveria ser mais rigorosa. Ela diz que há poucos dias notou uma rua paralela pela qual seguiam vários veículos, fugindo da vistoria da prefeitura. "A gente que é morador nem sabia da alternativa, mas os turistas já sabem."

​Hipertensa, Marussia deixou o trabalho como guia de turismo no início da pandemia para se proteger. Ela afirma que passará o feriado inteiro em casa, porque a expectativa é de que a cidade fique lotada.

"Quem é morador como eu, fica refém em casa sem poder sair nos feriados e nos fins de semana. Já estive em uma van em que o turista entrou sem máscara. O motorista fala, eles dão uma resposta, e a van segue", diz. "Nesse feriado de dez dias quem fica em casa é o proletariado. O rico vem para Búzios."

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