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Mudanças e repescagens causam confusão sobre calendário da vacina no Rio

Especialistas criticam estratégia de adotar datas específicas para quem não conseguiu se imunizar

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Rio de Janeiro

Mudanças no calendário de vacinação contra a Covid-19 e a adoção de datas específicas para repescagens daqueles que não conseguiram se imunizar nos dias previstos têm causado confusão em parte da população do Rio de Janeiro.

Entre abril e maio, quando o público-alvo eram as pessoas com comorbidades e deficiências, o cronograma elaborado pela prefeitura de Eduardo Paes (PSD) abrangeu uma idade a cada um ou dois dias, com a possibilidade de quem perdeu a data se vacinar a qualquer momento.

Em junho, porém, quando começou a aplicação naqueles com menos de 60 anos, a Secretaria Municipal de Saúde passou a reservar as quartas-feiras para os profissionais da educação, e as quartas e sábados para repescagens, o que gerou entendimentos diferentes sobre quem podia ir aos postos de vacinação.

O calendário da última semana, por exemplo, ficou assim: na segunda, 53 anos ou mais; na terça, 52 anos ou mais; na quarta, profissionais do ensino superior e repescagem de pessoas com comorbidades e deficiências; na quinta, 51 anos ou mais; na sexta, 50 anos ou mais; e no sábado, repescagem de 50 anos ou mais, trabalhadores da saúde e pessoas com deficiência.

"Pelo que entendi todo dia é dia de repescagem", escreveu um internauta no meio da semana. "Minha esposa não pôde se vacinar no dia preferencial e se vacinou sem problemas no dia útil subsequente", publicou outro.

"Acho que agora tem repescagem todos os dias porque colocaram a idade do dia ou mais", palpitou uma mulher. E outro brincou: "Está mais confuso do que o campeonato carioca". Na verdade, agora cada grupo ou idade só pode se vacinar nas datas indicadas, segundo a prefeitura.

"É importante ressaltar que houve [...] muitas oportunidades para que as pessoas [com comorbidades e deficiências] fossem vacinadas. Desde 31 de maio, o calendário está voltado para a população geral, mesmo assim a secretaria dá duas oportunidades por semana para as pessoas que perderam as suas datas de vacinação", diz a pasta da Saúde.

A estratégia, que não teve uma explicação técnica, gerou críticas de especialistas. Segundo eles, a imunização tem que ter focos em grandes grupos que, se não forem atingidos, devem ser amplamente convocados para se vacinarem em qualquer dia.

"A vacinação tem de ser facilitada, e não dificultada. A pessoa de um grupo prioritário que já passou e vai ao posto deve receber o imunizante, sem dificultar com dia e horário específico", diz a epidemiologista Denise Garrett, do Sabin Institute (EUA).

Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), concorda: "Ter um cronograma é importante para orientar a vacinação, mas essa repescagem é muito confusa e com certeza atrapalha. A cada dia ficar incluindo novos grupos é pior ainda", afirma.

Outro ponto que gerou confusão em locais de vacinação na última quarta (16) foi a definição do que seriam "profissionais do ensino superior, profissionalizante e outros".

Pipocaram relatos de alunos bolsistas da graduação que se vacinaram com comprovantes de pagamento de agências de fomento, o que causou longas filas em postos como o do Catete e da Firjan (Federação das Indústrias do RJ), em Botafogo. Outros ficaram horas esperando e não conseguiram a injeção.

Questionada, a prefeitura admitiu que "no início da manhã houve um equívoco na informação referente ao público-alvo fornecida pelos profissionais do ponto de vacinação", mas afirmou que "a orientação foi logo corrigida e a vacinação seguiu normalmente". A repescagem para esse grupo é apenas na próxima quarta (23).

A separação da vacinação entre mulheres (de manhã) e homens (à tarde), que a prefeitura alega ser para evitar aglomerações, também não tem sido seguida na prática nos postos, que frequentemente têm filas mistas.

Segundo a secretaria, essa é apenas uma orientação para que as pessoas deem preferência por esses horários, e não uma regra rígida. "Mulheres que eventualmente trabalhem de manhã e só tenham a tarde livre não serão impedidas de se vacinar. O mesmo vale para os homens", diz.

Na última sexta (18), a prefeitura divulgou um novo calendário que adianta a imunização de todos os cariocas maiores de 18 anos para até 31 de agosto, com base na previsão da entrega de doses pelo Ministério da Saúde. Também anunciou que adolescentes de 12 a 17 anos devem ser incluídos em setembro.

Eduardo Paes tem tentado firmar sua imagem como padrinho da vacina no Rio, protagonizando uma "corrida" com outros gestores como os governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Flávio Dino, do Maranhão, e anunciando até Carnaval fora de época em setembro na ilha de Paquetá, que terá toda a população vacinada neste domingo (20) para estudo.

Até sexta, foi vacinada com a primeira dose 51% da população adulta e 40% da população total da cidade. A segunda dose atingiu os níveis de 18% e 14%, respectivamente.

Cerca de 79 mil pessoas não voltaram para tomar a segunda picada no tempo certo, segundo o município, o que representa 4% dos que já atingiram o prazo. Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde diz que está realizando a busca ativa dessas pessoas.

"As pessoas vacinadas são cadastradas no sistema e, com base nos dados registrados, as equipes das unidades de saúde fazem inicialmente tentativa de contato telefônico. Caso não obtenham sucesso, uma outra tentativa poderá ser feita pelo endereço de residência", diz.

A prefeitura não respondeu quais são as metas e as porcentagens vacinadas até o momento por grupo prioritário, como pessoas com comorbidades e deficiências ou profissionais da saúde e da educação.

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