Descrição de chapéu câncer

Ganhadores do Prêmio Octavio Frias de Oliveira manifestam preocupação com ciência no Brasil

Pesquisadores alertaram para necessidade de investimento contínuo e para risco de fuga de cérebros

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São Paulo

Pesquisadores e estudos escolhidos como destaques deste ano foram reconhecidos nesta quinta-feira (5) na cerimônia da 12ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira.

O Prêmio Octavio Frias de Oliveira é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, tem como objetivo incentivar e premiar a produção de conhecimento nacional na prevenção e no combate ao câncer.

A solenidade foi conduzida pela jornalista Cláudia Collucci e ocorreu, pelo segundo ano consecutivo, inteiramente online, por causa da pandemia da Covid.

Foram premiados Patrícia Chakur Brum, vencedora em Pesquisa em Oncologia; Camila Meirelles de Souza Silva, vencedora em Inovação Tecnológica em Oncologia; e Hugo Aguirre Armelin, escolhido Personalidade de Destaque em Oncologia.

Os participantes do evento destacaram a necessidade de investimento em ciência no país e o perigo do sucateamento dos instrumentos de pesquisa no país e consequente fuga de cérebros.

Souza Silva afirmou que a ciência e a educação mudam vidas e que ela mesma é um exemplo disso. Destacou que sua formação profissional coincidiu com um processo de interiorização de universidades pelo Nordeste do país.

"Eu tenho muito orgulho de representar uma mulher nordestina que chegou onde cheguei", afirmou a vencedora em Inovação Tecnológica em Oncologia, que liderou estudo sobre marcadores para facilitar e complementar o rastreamento e o acompanhamento de câncer colorretal. A cientista desenvolveu a pesquisa premiada na Universidade Federal do Ceará.

Segundo Souza Silva, em meio ao negacionismo atual direcionado à ciência e à educação, a pandemia mostrou que não há atalhos. "É necessário investimento regular", afirma.

Na mesma linha, Brum afirmou que se deve a investimentos públicos a equipe que tem e com a qual desenvolveu o estudo que culminou na premiação na categoria Pesquisa em Oncologia. De acordo com a pesquisadora, a situação atual, porém, desestimula jovens a seguir na área, pelo menos dentro do Brasil.

"Está tudo parado. Com os ataques à ciência, eles acabam indo embora", afirma Brum. "Eles acabam pavimentando um caminho para fora do país. É ótimo ter pessoas lá fora, mas não podemos perder todos esses jovens. Precisamos investir em ciência e educação e tê-los aqui."

Computador sobre uma mesa; na tela do notebook, duas mulheres, em ambientes separados, em teleconferência; atrás do computador, é possível ver árvores
Solenidade de entrega do 12º Prêmio Octavio Frias de Oliveira conduzida pela jornalista Cláudia Collucci (à esq); na foto Patrícia Chakur Brum, vencedora em Pesquisa em Oncologia - Marlene Bergamo/Folhapress

A preocupação dos participantes da solenidade tem motivo. Tem sido contínua a queda de investimentos em ciência no Brasil e o orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia. Atualmente, por exemplo, pesquisas se encontram travadas por falta de cota de isenção de impostos para importação. Instituições como Butantan e Fiocruz têm tido que buscar outras fontes de verba para não paralisar pesquisas que necessitem de importações.

O grupo liderado por Brum avaliou o potencial de exercícios físicos para combater a caquexia, uma condição que acompanha e agrava o câncer. E o caminho de cientistas para fora do país fica demonstrado dentro desse mesmo grupo. A pesquisadora afirma que o primeiro autor do trabalho foi para a Universidade Harvard e outros dois cientistas da equipe também têm destinos fora do Brasil.

Armelin, premiado como Personalidade de Destaque em Oncologia, destacou a importância que o investimento em ciência teve durante a pandemia, particularmente falando do papel que o Instituto Butantan, do qual é pesquisador, teve na observação e combate ao Sars-CoV-2.

A trajetória de descobertas de Armelin, desde a década de 1970, em especial as que envolveram a molécula conhecida como fator de crescimento de fibroblastos, rendeu o prêmio na categoria Personalidade de Destaque.

"O Butantan está se modificando para atender às necessidades que surgiram. O Butantan não era um centro de virologia e está se comportando como um centro que pode resolver os problemas da Covid", afirmou Armelin, que também citou a participação de alunos, os quais ajudou a formar, no combate à Covid —além de citar pesquisadores que também deixaram o país.

Segundo Roger Chammas, presidente da comissão do prêmio e coordenador do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Icesp, pode ser desastroso para o país caso desmontes em centros de pesquisa continuem.

"Vamos estar desmontando aquilo que a pandemia mostrou como sendo a virtude que ainda temos", disse Chammas. "Nós temos os elementos para evitar esse desmonte que está, infelizmente, acontecendo em alguns hospitais universitários vinculados a universidades federais. Precisamos assumir a necessidade de que pesquisa, ciência e educação são investimentos que vão fazer o desenvolvimento sustentável da nossa nação", disse o professor da USP.

No início da cerimônia, Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, já destacava a intenção do Prêmio Octavio Frias de Oliveira de incentivar os pesquisadores, apesar das dificuldades que encontram no caminho.

"A ideia do prêmio é incentivar a ciência nacional, os pesquisadores que em condições muitas vezes difíceis e adversas estão se debruçando sobre questões que, no final das contas, vão ajudar os pacientes e a população que eventualmente tenha que se tratar de câncer", afirmou Mota.

Já pensando na próxima edição do prêmio, o secretário de Redação da Folha disse esperar que no próximo ano a cerimônia de premiação possa voltar, pelo menos em parte, ao modelo presencial.

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