Descrição de chapéu África

Vacina contra a malária leva esperança para a África

Doença mata uma criança a cada dois minutos; em outubro, OMS recomendou imunizante RTS,S

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Pierre Donadieu
Abidjan, Costa do Marfim | AFP

Visivelmente abatida, Fati espera diante de um hospital particular de Níger onde seu filho está internado com malária. Para muitas pessoas como ela na África, o desenvolvimento de uma vacina contra a doença que mata uma criança a cada dois minutos "será um grande alívio".

"A malária mata nossas crianças e não perdoa os pais. As crianças faltam a escola e os pais não podem trabalhar nos campos. Quando a vacina chegar, será um grande alívio", explica Fati à AFP em Niamey, capital de Níger.

A doença é conhecida desde a antiguidade e se manifesta com febre, dor de cabeça e dores musculares, e depois com ciclos de calafrios, mais febre e suor.

Uma criança recebe a vacina para a malária em um hospital em Yala, no Quênia, em outubro de 2021
Uma criança recebe a vacina para a malária em um hospital no Quênia em outubro de 2021 - Brian Ongoro/AFP

Se não for tratada a tempo, a malária, em particular o parasita que a causa na África (o Psalmodium falciparum), pode ser fatal.

No começo de outubro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou o uso em larga escala para crianças da vacina RTS,S fabricada pelo grupo farmacêutico britânico GSK, a única que até agora demonstrou eficácia para reduzir significativamente os casos, incluindo os mais graves.

A África concentra 90% dos casos de malária do mundo e 260 mil menores de cinco anos morrem a cada ano vítimas da doença. Desde 2019, Gana, Quênia e Maláui começaram a utilizar a vacina em algumas regiões.

"Estou muito esperançosa! Minha filha de 11 meses recebeu a vacina e ficou tudo bem. Tenho certeza de que é um meio de aumentar a expectativa de vida de nossas futuras gerações. Queremos que Gana amplie rapidamente o programa em todo o país", comemorou Hajia Aminu Bawa, na região de Gomoa, sul do país.

Uma profissional da saúde prepara uma vacina contra malária que será aplicada em uma criança em um hospital em Yala, no Quênia - Brian Ongoro/AFP

"Quando ouvi sobre a vacina, não hesitei nem por um segundo. Alguns tentaram mudar minha opinião e falaram que era uma vacina nova, que poderia matar meu bebê, mas falavam sem saber. Todo mundo deve vacinar seus filhos contra a malária", afirmou Prince Gyamfi, mãe de um menino de seis meses na mesma região.

Até agora, os métodos de prevenção contra a doença transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos Anopheles se baseavam essencialmente no uso de mosquiteiros e tratamentos preventivos nem sempre acessíveis para a população.

Mas isto é insuficiente, afirma a médica Djermakoye Hadiza Jackou, coordenadora do PNLP (Programa Nacional de Luta Contra a Malária em Níger).

"Recebemos com grande alegria o anúncio da OMS. É algo que realmente aguardávamos. A vacina servirá de complemento a outras estratégias de prevenção que já adotamos", explica.

Na vizinha Burkina Fasso, outra vacina desenvolvida pela universidade britânica de Oxford em colaboração com a americana Novavax também mostrou eficácia promissora em um teste clínico de 2019.

Mas para o médico Wilfried Sawadogo, que trabalha em Uagadugu, a vacina não deve substituir os outros modelos de prevenção como a instalação de mosquiteiros ou a administração a título preventivo de remédios antimaláricos de ação prolongada durante a estação de chuvas, um método muito utilizado desde 2014 no país com 11 milhões de casos anuais.

"Esta campanha permite reduzir de 25-30% os casos de morte vinculados à malária", explica.
Mas há dúvidas para resolver a respeito da vacina e seu custo.

"Quem vai financiar? A comunidade internacional está pronta? E a quantidade de vacinas será suficiente?", questiona Serge Assi, médico e pesquisador do instituto Pierre Richet de Bouaké (centro da Costa do Marfim).

"A República Democrática do Congo não tem vacinas contra a malária disponíveis em seu território", recorda a diretora do programa de vacinação do país, a doutora Elisabeth Mukamba.

"Agora corresponde à África obter esta tecnologia, seu conhecimento, para produzir vacinas em vez de importá-las. É uma aposta maior", disse Christian Happi, diretor do Centro Africano de Excelência para Pesquisa Genômica e Doenças Infecciosas em Ede (sudoeste da Nigéria).

A luta contra a malária também passa por um trabalho nas infraestruturas, porque a temporada de chuvas com suas inundações normalmente provoca o aumento de casos.

"Se morremos de malária na África é porque vivemos na insalubridade total. Quem fala insalubridade, fala de mosquitos", afirma Ousmane Danbadji, especialista em saneamento de Níger.

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