Descrição de chapéu Coronavírus

Veja o que se sabe sobre a ômicron, nova variante identificada na África do Sul

Grupo da OMS classifica mutante como 'de preocupação', por causa do risco de ela ser mais transmissível

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Bruxelas

Detectada no começo desta semana, uma nova variante do Sars-Cov-2, que causa Covid, foi batizada como ômicron na tarde desta sexta (26) pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Ela foi classificada direto como "variante de preocupação", por causa do potencial risco de ser mais transmissível que as anteriores.

Mesmo antes dessa avaliação, o grande número de mutações da variante gerou uma grande onda de preocupação em vários países do mundo.

Ainda é cedo para ter evidências científicas de seus efeitos sobre o contágio, a gravidade da doença ou a eficácia da vacina, mas governos preferiram se antecipar enquanto forças-tarefa de cientistas trabaham "24 horas por dia" para entendê-la.

Veja algumas perguntas e respostas sobre o novo mutante.

Esfera cinzenta com vários pontos vermelhos, como se fossem cravos
Ilustração do coronavírus Sars-CoV-2, que causa Covid - Getty Images

Quando ela foi detectada?
Na terça (23), cientistas começaram a chamar a atenção para uma variante com um grande número de mutações, algumas descritas como "terríveis", na proteína S (de spike, ou espícula), usada pelo Sars-Cov-2 para entrar nas células humanas.

Na quarta (24), ela recebeu o "nome" (classificação dentro das linhagens de coronavírus) de B.1.1.529.

Onde ela apareceu?
O sequenciamento foi feito na África do Sul, o que não quer dizer que a variante tenha surgido lá. O país tem investido na vigilância da pandemia e no sequenciamento genético do coronavírus, o que aumenta suas chances de encontrar mutantes.

Até esta sexta pela manhã, a primeira amostra com a variante havia sido coletada em Botsuana, em 11 de novembro. À tarde, a OMS citou nova amostra, coletada em 9 de novembro.

Por que os cientistas se preocuparam?
Um dos primeiros virologistas a alertar para a variante, Tom Peacock, do Imperial College de Londres, ressaltou que as mutações feitas na proteína S eram as "mais horríveis" já vistas, e que era a primeira vez que ele via não uma, mas duas mutações "no local de clivagem da furina" (um dos processos necessários para que o patógeno entre nas células humanas).

O diretor do Ceri (centro para resposta a epidemias e inovação da África do Sul), Túlio de Oliveira, afirmou na quinta (25) que a variante surpreendeu os virologistas, porque "deu um grande salto na evolução e tem muito mais mutações do que se esperava".

A variante apresenta 50 mutações no total e mais de 30 na proteína S, as mais preocupantes, porque é a partir dessa proteína que são produzidas as vacinas.

Se sua estrutura é muito alterada em relação à usada para a produção de vacinas contra Covid, há preocupação de que os imunizantes percam eficácia contra a variante.

Isso quer dizer que as vacinas não funcionam contra essa variante?
Não há pesquisas suficientes ainda sobre como a variante atua nem como reage às vacinas e anticorpos de quem desenvolveu imunidade natural.

Quando será possível saber se a variante consegue driblar a vacina?
Nesta quinta (25), a OMS afirmou que pode levar algumas semanas até que se entenda melhor o impacto da nova variante.

A variante é mais contagiosa?
Ainda não se sabe, mas há indícios de que seja.

O diretor do Ceri (centro para resposta a epidemias e inovação da África do Sul), Túlio de Oliveira, afirmou na quinta (25) que a B.1.1.529 "tem potencial para se espalhar muito rapidamente", e que os cientistas estão trabalhando "24 horas por dia" para entender os efeitos da nova variante em cinco pontos: 1) transmissibilidade; 2) efeito das vacinas; 3) possibilidade de reinfecção; 4) severidade da doença, e 5) diagnóstico.

Na análise em que a classificou com variante de preocupação, o grupo técnico que assessora a OMS afirmou: "A evidência preliminar sugere um risco aumentado de reinfecção com esta variante, em comparação com outros mutantes de preocupação".

Por que se suspeita que ela seja mais contagiosa?
Dados preliminares apontam que a variante aumentou rapidamente na província de Gauteng, a mais populosa do país e que inclui Pretória e Johannesburgo, e já pode estar presente nas outras oito províncias do país.

Segundo o diretor do Ceri, a vigilância genômica aponta que a B.1.1.529, em menos de duas semanas, já sobressai em relação às infecções pelas outras variantes da Covid, logo após "uma devastadora onda da delta".

Pesquisadores afirmam que cerca de 90% dos novos casos em Gauteng poderiam estar associados à variante B.1.1.529.

Segundo o grupo técnico de apoio à OMS, "nas últimas semanas, as infecções aumentaram abruptamente na África do Sul, coincidindo com a detecção da variante B.1.1.529 [agora chamada de ômicron]".

"Essa variante foi detectada em taxas mais rápidas do que picos anteriores de infecção, sugerindo que essa variante pode ter uma vantagem de crescimento. —o que indica que ela pode causar mais danos que a versão original do coronavírus."

As vacinas podem ser alteradas, se não tiverem muito efeito sobre esta variante?
Sim. A empresa alemã BioNTech, que produz vacina em parceria com a Pfizer, afirmou que já começou a estudar a B.1.1.529 e espera ter resultados de testes em laboratórios em duas semanas.

Caso sua vacina atual perca eficácia contra a nova variante, a empresa afirma que pode adaptar o imunizante em cerca de seis semanas e começar a fornecê-lo em mais ou menos três meses.

Além de testes, serão provavelmente necessárias autorizações antes que as vacinas possam ser aplicadas.

Porque ela foi chamada de ômicron?
A OMS atribui letras gregas a mutações que considera como variantes "de atenção" (que devem ter seus efeitos acompanhados) e "de preocupação" (que são mais transmissíveis ou causam mais danos, como a alfa e a delta, por exemplo).

A ômicron é a 15ª letra do alfabeto grego. A OMS pulou a 13ª e a 14ª, respectivamente nu e xi. No caso da nu, o problema é que sua pronúncia, "niu", poderia ser confundida com a palavra "nova" em inglês "new".

Já xi é um nome próprio comum na China, inclusive no sobrenome do atual presidente, Xi Jinping

O que são variantes "de interesse" e "de preocupação"?
Nas definições de trabalho da OMS, uma variante de interesse (VOI) é aquela:

  • com alterações genéticas que são previstas ou conhecidas por afetar as características do vírus, como transmissibilidade, gravidade da doença, escape imunológico, escape diagnóstico ou terapêutico; E
  • que foi identificada como causadora de transmissão significativa na comunidade ou múltiplos clusters COVID-19, em vários países com prevalência relativa crescente juntamente com o aumento do número de casos ao longo do tempo, ou outros impactos epidemiológicos aparentes para sugerir um risco emergente para a saúde pública global.

Uma variante de preocupação (VOC) é a que atende à definição acima e, por meio de uma avaliação comparativa, demonstrou estar associada a uma ou mais das seguintes alterações em um determinado grau de importância para a saúde pública global:

  • aumento da transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia da COVID-19; OU
  • aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença; OU
  • diminuição da eficácia da saúde pública e medidas sociais ou diagnósticos, vacinas, terapêuticas disponíveis

Se ainda não há evidências sobre o impacto da variante, porque países estão proibindo voos e impondo quarentenas?
Por precaução, já que os cientistas chamaram a atenção para o potencial de risco, por causa do grande número de mutações na proteína S.

Onde há casos sequenciados?

Neste sábado, foram confirmados casos no Reino Unido, na Alemanha e na Itália. A Bélgica já tinha anunciado na sexta o primeiro caso sequenciado na Europa, de uma mulher que esteve na Turquia e no Egito.

os primeiros casos da variante foram confirmados na quinta na província de Gauteng, na África do Sul, em Botsuana e em Hong Kong (diretamente relacionado a uma viagem da África do Sul).

Israel também afirmou ter sequenciado a variante em um viajante que chegou do Maláui, e acompanha outros casos suspeitos.

Como surgem as variantes?
Mutações são esperadas nos coronavírus e a maior parte delas não dá vantagens aos patógenos e, portanto, nao é identificada.

Quanto maior a circulação do vírus, maior a chance de mutações e do aparecimento de uma variante mais transmissível ou que escape à vacina. Esse é um dos motivos pelos quais a OMS recomenda que os governos continuem agindo para evitar aglomerações e contatos, mesmo onde a vacinação está adiantada.

No caso desta variante específica, cientistas levantaram a hipótese de que, por causa do tipo de mutações encontradas, ela tenha aparecido em um paciente com infecção crônica.

Como se proteger da nova variante?
As medidas de prevenção contra todas as variantes de Sars-CoV-2 são as mesmas: vacinar-se completamente, tomar o reforço quando oferecido, evitar aglomerações, proximidade física e lugares fechados, usar máscara quando o distanciamento não for possível, testar-se se tiver sintomas, avisar contatos e isolar-se.

Se de fato as vacinas existentes forem menos eficazes contra a nova variante, será preciso reforçar as medidas não farmacèuticas de prevenção (máscara, distanciamento etc.).


LIÇÕES DA QUARTA ONDA

Como evitar um novo repique de casos e mortes

1 - Medidas de saúde pública

  • Vacinar a maior parcela possível de idosos, vulneráveis e profissionais de saúde
  • Vacinar a maior parcela possível da população adulta
  • Ouvir os que recusam a vacina para entender seus motivos, dar respostas a suas dúvidas e restaurar a confiança na imunização
  • Vacinar jovens e crianças, nos países em que há imunizantes suficientes e já aprovados para essas faixas etárias
  • Dar a todos os adultos uma dose de reforço seis meses após a vacinação completa, priorizando idosos e vulneráveis
  • Manter sistema de testes, rastreamento de contatos e isolamento de casos suspeitos
  • Manter orientações claras contra aglomeração e de uso de máscara em locais fechados ou onde distanciamento não for possível
  • Divulgar informações de forma clara e transparente
  • Quando os números refluírem, retirar restrições de forma gradual, sem reduzir vigilância

2 - Medidas individuais

  • Vacinar-se completamente e tomar a dose de reforço seis meses após a vacinação completa, se disponível
  • Evitar aglomerações e locais fechados
  • Usar máscaras quando o distanciamento for impossível; o uso eficaz de máscara envolve cobrir boca e nariz e evitar contaminação ao retirá-la
  • Cobrir boca e nariz com a parte interna do cotovelo ao tossir ou espirrar, para evitar transmissão do vírus pelas mãos
  • Lavar as mãos constatemente, com sabão, durante ao menos 20 segundos
  • Testar-se se tiver sintomas e evitar contatos até receber um resultado negativo
  • Isolar-se e avisar contatos se tiver resultado positivo
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