Descrição de chapéu Coronavírus

Com postos cheios, Paraisópolis prepara novo plano contra Covid

Comunidade abre financiamento para ambulância própria e analisa abrir espaço para poder isolar doentes

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Jessica Bernardo
São Paulo | Agência Mural

Em meio à alta de casos de Covid-19 e aos surtos de gripe no começo deste ano, moradores de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, na zona sul, começaram a se organizar para tentar reduzir o impacto dessa nova fase da pandemia na comunidade.

O G10 Favelas, grupo que reúne lideranças de 10 comunidades do Brasil, abriu um financiamento
coletivo para arrecadar doações e custear a contratação de uma ambulância para os moradores de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista.

AMA de Paraisópolis com pacientes que aguardam atendimento para a Covid-19
AMA de Paraisópolis, em SP, com pacientes que aguardam atendimento para a Covid-19 - Jessica Bernardo/Agência Mural

A ideia é retomar o plano de combate ao coronavírus que foi lançado na comunidade no início da pandemia.

Durante quase um ano, entre março de 2020 e fevereiro de 2021, a União de Moradores de Paraisópolis manteve ambulâncias privadas na comunidade para socorrer quem apresentasse sintomas de coronavírus. O serviço, que custava R$ 150 mil por mês, era pago por meio de doações e foi encerrado por falta de dinheiro.

Agora, com o aumento de casos de gripe e coronavírus na cidade de São Paulo, a associação quer evitar o avanço das doenças no bairro. "A gente não pode correr o risco da situação se agravar", afirma Gilson Rodrigues, coordenador nacional do G10 Favelas e presidente da União de Moradores.

A alta de casos tem sido sentida no bairro com a lotação dos equipamentos de saúde. No último sábado (8), um morador com Covid-19 esperou cinco horas por uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

A esposa dele, Tamara Araújo, 28, conta que, quando os socorristas chegaram, o marido estava desacordado. "Ele teve uma parada cardíaca. Eu achei que ele tinha morrido, foi horrível", conta.

Ele foi levado ao Hospital do Campo Limpo e ficou internado até segunda-feira (10). O casal tinha sido diagnosticado com coronavírus naquela mesma semana.

Gilson conta que a procura por atendimento nas unidades de saúde da região tem aumentado. "Nós chegamos num período de 600 pessoas [procurarem a AMA] por dia".

A reportagem da Agência Mural esteve na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Paraisópolis
na noite desta quarta-feira (12) e encontrou uma longa fila de espera para atendimento no local. Pelo menos 25 pessoas com sintomas gripais, que podem ou não ser de Covid-19, aguardavam sentadas em uma tenda do lado de fora da unidade.

A auxiliar de limpeza Kelly Cristina, 52, esperava para realizar o teste de Covid havia quatro horas. Funcionária de um banco, ela conta que outros três colegas tiveram o diagnóstico para o coronavírus confirmado nos últimos dias. "Como teve caso lá, mandaram eu vir fazer o teste".

Ela estava com dor de cabeça e febre. Como mostrou a Folha, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) confirmou aumento nos registros de Covid entre funcionários de bancos.

Também na fila de espera para o exame estava Eloia de Oliveira, 33. Essa era a segunda vez que ela frequentava a unidade no mesmo dia. Mais cedo, tinha levado a filha de 9 anos, que teve resultado positivo em teste rápido para a doença.

No começo da noite desta quarta, exames do tipo, que mostram o resultado em 15 minutos, tinham acabado, segundo os pacientes.

Com sintomas como febre, dor no corpo e dor de barriga, Eloia esperava para fazer um teste do tipo RT-PCR, cujo resultado leva mais tempo para ficar pronto. Até lá, ela precisará manter o isolamento na casa, ao lado da filha e de outras seis pessoas da família que moram no imóvel. "Não tem como ter isolamento. Todo mundo acaba pegando".

O G10 Favelas estuda abrir espaços para manter pessoas com casos confirmados de Covid isoladas do resto da família enquanto passam pelo período de transmissão. "É praticamente impossível fazer isolamento com tantas pessoas", resume Gilson.

No início da pandemia, Paraisópolis também contou com espaços para auxiliar no isolamento dos casos confirmados. No entanto, os chamados "centros de acolhida" foram encerrados e houve dificuldade para ter adesão dos moradores.

A favela se tornou uma referência no combate à pandemia em 2020 com ações como a criação do programa "Presidentes de Rua", que separava voluntários para acompanhar a situação das famílias a cada 50 casas.

A ambulância contratada pela União de Moradores para esta nova fase da pandemia começou a atuar na favela nesta terça-feira (11) e deve funcionar 12 horas por dia, ao custo de R$ 45 mil. Até esta quinta-feira (13), a associação ainda não tinha recebido nenhuma doação para o financiamento do serviço.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que houve, de fato, um aumento na procura por atendimento de pessoas com sintomas respiratórios nas últimas semanas nas unidades de saúde de Paraisópolis.

"Contudo, não houve alteração quanto ao agendamento de consultas que não sejam de sintomas gripais e uma alternativa para se evitar o deslocamento até a UBS é o acesso pelo aplicativo Agenda Fácil", afirma.

Diz ainda que, de 30 de dezembro a 12 de janeiro, foram realizados 5.281 atendimentos, sendo 2.513 somente por Síndrome Gripal, o que representa 48% dos atendimentos.

Com relação ao teste rápido para detecção do antígeno de Covid-19, no mesmo período, foram feitos 1.889. Já para a influenza, de 5 a 7 de janeiro, foram 350.

"A UBS Paraisópolis possui testes para atender a demanda da população do bairro", diz.

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