Ainda deveríamos usar máscara contra Covid?

Especialistas opinam sobre quando e onde o uso da proteção é facultativo

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Amelia Nierenberg
The New York Times

Com o fim da obrigatoriedade do uso de máscara e a queda nos novos casos de coronavírus nos Estados Unidos, há muita incerteza em relação a se e quando as pessoas ainda devem usar máscara.

"É complicado, porque é preciso pesar não apenas os riscos e benefícios para você", disse o professor Robert Wachter, diretor do departamento de medicina da Universidade da Califórnia em San Francisco. "São os riscos e benefícios para as pessoas em volta."

Uma maneira útil de encarar a questão é perguntar-se: quem é a pessoa mais frágil de seu círculo imediato?

Funcionário do Galen Center, em Los Angeles, segura cartaz pedindo para a torcida usar a máscara de proteção em jogo do Southern California Trojans contra o Washington Huskies, pela NCAA
Funcionário do Galen Center, em Los Angeles, segura cartaz pedindo para a torcida usar a máscara de proteção em jogo do Southern California Trojans contra o Washington Huskies, pela NCAA - Kirby Lee - 17.fev.22/USA TODAY Sports

Se você, por exemplo, tem imunidade comprometida ou vive com alguém que tem, é boa ideia continuar a usar máscara e manter distância social de desconhecidos, especialmente em ambientes fechados com ar parado, onde o vírus pode se acumular.

Máscaras também são importantes se você não for vacinado ou se for conviver com pessoas não vacinadas. As pessoas não vacinadas correm risco muitíssimo mais alto de hospitalização e morte pela Covid. O uso de máscaras é obrigatório em hospitais, onde há muitas pessoas em estado vulnerável.

Mas, se você for saudável e se recebeu suas doses de vacina e de reforço, seu risco de adoecer gravemente com Covid é muito baixo. É mais ou menos comparável aos outros riscos que as pessoas correm todos os dias, como quando saem de carro.

Segundo Wachter, muitas pessoas "estão pensando que adorariam voltar à vida normal e talvez estejam dispostas a aceitar um risco um pouco maior para alcançar o nível de simplicidade que conheceram pela última vez em 2019". "Não é irracional."

Sempre existe o risco de alguém desenvolver Covid longa, mesmo que tenha sido vacinado. Ainda há muito que desconhecemos sobre essa condição.

Se os índices de infecção forem altos no lugar onde você vive, algo que tem sido o caso em praticamente todo lugar durante a onda mais recente de ômicron, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) ainda recomenda o uso de máscaras na maioria dos locais fechados. Mas em muitas situações a decisão de usar máscara ou não está virando algo pessoal.

Conversamos com especialistas para apresentar recomendações sobre os lugares e as situações em que é boa ideia cobrir o rosto.

Devemos usar máscara ao ar livre?

Há poucas evidências científicas de que máscaras garantam muita proteção adicional em muitos espaços abertos, como calçadas ou parques. As coisas se complicam mais em espaços abertos lotados, como num show ou evento esportivo.

"Se você não sente uma brisa no rosto, provavelmente está em uma área ao ar livre com pouca ventilação", disse o Dr. Asaf Bitton, clínico geral e diretor executivo do Ariadne Labs, centro de inovação em saúde pública do Hospital Brigham and Women’s e da Escola T.H. Chan de Saúde Pública da Universidade Harvard. "Se você estiver ombro a ombro com outras pessoas, pode ser o caso de usar máscara ao ar livre, pelo menos por enquanto."

Erin Bromage é professor de biologia, estudioso de doenças infecciosas na Universidade de Massachusetts Dartmouth e vem ajudando bandas musicais que viajam em turnê a avaliar os riscos de Covid ao longo da pandemia. O lugar onde ele tem visto mais risco de transmissão em shows é na área mais próxima ao palco, onde só é possível ficar em pé.

"O risco se concentra na área na boca do palco, onde as pessoas ficam comprimidas, cantando e fazendo esforço físico", ele disse.

Mas, para ele, a maioria dos shows em espaços abertos não traz risco. "Se você está num gramado assistindo a um show, não há dados que substanciem que uma máscara vai fazer qualquer coisa para protegê-lo que a Mãe Natureza já não esteja fazendo", ele disse.

E, se a organização do evento exigir vacinas ou um resultado negativo recente de teste de Covid, melhor ainda.

E em supermercados e academias de ginástica?

Para começo de conversa, obedeça às normas do estabelecimento. Se a placa na porta disser "máscara obrigatória", não obrigue os funcionários a implementar políticas sobre as quais eles não têm controle. O trabalho deles já é árduo o suficiente. Colocar uma máscara não é um grande sacrifício para ninguém.

Se as máscaras forem opcionais no estabelecimento, analise o espaço, o número de pessoas no local e o fluxo de ar.

Bromage sugere uma analogia com cigarros: se uma pessoa estivesse fumando, o cheiro de cigarros encheria o ar rapidamente? Se sim, o mesmo se dará com o vírus. Seria inteligente usar máscara nesse caso.

"Sempre faço isso quando entro em qualquer lugar", disse Bromage. "Olho a altura do teto, vejo se o ar está parado ou não. Vejo se vou conseguir criar um pequeno espaço protetor à minha volta."

Pense num supermercado ou outra loja grande com teto alto. "Esses espaços tendem a ter boa ventilação, e, devido aos tetos altos, há muita diluição", comentou a professora de engenharia Linsey Marr, da Virginia Tech, que estuda a transmissão de vírus aerotransportados. "Os riscos são baixos, a não ser que você esteja numa fila grande perto do caixa."

Academias de ginástica podem parecer lugares mais assustadores. A respiração ofegante expele mais partículas de vírus. Mas a maioria das academias possui ótimos sistemas de ventilação ("se não tivessem boa circulação de ar, teriam cheiro ruim", explicou Bromage). Isso quer dizer que quaisquer partículas de vírus que possam estar flutuando no ar serão sugadas para fora, juntamente com o cheiro de suor.

E quando meu filho for à escola?

Os especialistas em saúde pública concordam que o uso de máscara não deve continuar obrigatório em escolas para sempre, mas eles divergem sobre se já chegou a hora de tirá-las. A mudança de regras pode deixar os pais confusos.

Veja algumas coisas a levar em conta quando você faz escolhas para sua família.

Vacinadas ou não, as crianças quase nunca apresentam sintomas graves. Muitos alunos têm frequentado a escola sem máscara durante a pandemia —no Reino Unido, por exemplo, em partes da Europa e em muitos estados dos EUA— e muito poucas adoeceram gravemente.

"O risco sempre foi menor para as crianças que para os adultos", disse o Dr. David Rubin, professor de pediatria na Escola Perelman de Medicina da Universidade da Pensilvânia.

Ainda não há um consenso quanto a se as máscaras dificultam o desenvolvimento social. Mas vários estudos sugerem que elas dificultam a comunicação, inibindo a capacidade das crianças de reconhecer e captar as emoções umas das outras.

"As crianças e suas escolas têm tido que arcar com um fardo coletivo, principalmente para proteger os adultos em suas vidas", disse Rubin, também diretor do PolicyLab do Hospital Infantil de Filadélfia.

E agora, quando boa parte do mundo está voltando à normalidade, pense em como se dá a convivência entre crianças. As máscaras podem prevenir a transmissão em sala de aula, mas as crianças interagem fora dela.

"As máscaras não funcionam quando as pessoas as usam em uma circunstância, mas as tiram mais tarde", disse Bromage, que já prestou consultoria a escolas sobre o uso de máscaras. "Nesse caso, só o que estaremos fazendo é transferir a transmissão da escola para depois do horário de aula."

Que tipo de máscara você deve usar?

Segundo especialistas, uma máscara de alta qualidade, bem ajustada, o protegerá mesmo que outras pessoas não estejam cobrindo suas vias aéreas.

As máscaras KN95, N95 e KF94 oferecem a melhor proteção disponível —basta se certificar de não serem falsificadas. Máscaras de pano garantem proteção limitada, e máscaras cirúrgicas muitas vezes deixam espaço para a passagem de ar.

Tradução de Clara Allain

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