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Câncer colorretal: a bola da vez

Em março, o tumor combatido é o colorretal, cuja incidência continua crescendo em todo o mundo

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Raul Cutait

Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, cirurgião digestivo do Hospital Sírio-Libanês e membro da Academia Nacional de Medicina

Há vários anos, a comunidade médica internacional emite alertas para a população sobre como prevenir ou fazer diagnóstico precoce dos tumores mais frequentes. Isso se justifica pois seu reflexo é um número de casos abaixo do estatisticamente esperado, um maior número de casos diagnosticados precocemente e, portanto, com muito maior probabilidade de cura, menos sofrimento individual e familiar e, também de importância, com menos custos para os sistemas de saúde.

Em março, o tumor combatido é o do câncer colorretal, cuja incidência continua crescendo em todo o mundo, sendo diagnosticados anualmente cerca de 2 milhões de casos novos. Infelizmente, quando o diagnóstico é feito a partir de sintomas clínicos, mais de 30% dos pacientes já apresentam doença disseminada, o que diminui sensivelmente a chance de cura, algo que contrasta com índices de cura de 90% para casos diagnosticados precocemente.

Imagem em primeiro plano mostra homem de roupa social posando para foto
O cirurgião e professor da USP Raul Cutait - Zanone Fraissat - 4.dez.19/Folhapress

Ao longo das últimas três décadas, várias sociedades médicas têm se preocupado em propor programas de prevenção e diagnóstico precoce do câncer colorretal, sendo que vários estudos já mostram diminuição do número de casos nas populações que participam desses programas. Estes são desenhados em função do risco individual de se desenvolver câncer colorretal ao longo da vida, definindo-se três grupos de risco distintos: baixo, médio e alto.

No grupo de baixo risco estão as pessoas com menos de 45 anos de idade e que não apresentam fatores predisponentes, tais como mutações genéticas transmissíveis de pais para filhos ou doenças intestinais inflamatórias. No grupo de risco médio encontram-se aqueles com mais de 45 anos, que é a idade a partir da qual aparece a grande maioria dos tumores colorretais.

Já no grupo de risco alto encaixam-se pessoas com determinadas mutações genéticas, em especial membros de famílias com duas doenças hereditárias, que felizmente correspondem a cerca de 5% de todos os casos de câncer colorretal, que são a síndrome de Lynch e a polipose adenomatosa familiar. Neste grupo encontram-se, com risco menor que essas síndromes, os parentes de primeiro grau de portadores de câncer colorretal e pacientes com doenças específicas (como as inflamatórias intestinais).

É em função do risco que são estruturados os programas de prevenção e diagnóstico precoce. Assim, o grupo de baixo risco não necessita de exames ou avaliações. Para o grupo de risco médio preconiza-se a colonoscopia a cada 5 a 10 anos, provavelmente até os 80 anos de idade. Caso sejam encontrados pólipos adenomatosos, os intervalos entre as colonoscopias tendem a diminuir. Alguns programas sugerem a pesquisa periódica de sangue oculto nas fezes nos intervalos das colonoscopias.

Já para populações de risco elevado, os programas de prevenção e diagnóstico precoce variam de acordo com o problema de base, não cabendo explaná-los neste limitado espaço.

É preciso ficar claro que qualquer programa de prevenção e diagnóstico precoce de câncer depende do conhecimento dos riscos e da motivação individual para minimizá-los. Por outro lado, é fato que nosso sistema público não está apto para arcar com as dezenas de milhões de colonoscopias requeridas para um programa abrangente. Como reflexão, cabe dizer que, na atual fase, as populações de risco elevado devem ser priorizadas, assim como as populações de risco médio de regiões geográficas com maiores incidências de câncer colorretal, que no Brasil são as regiões Sudeste e Sul.

Um comentário: tudo o que foi dito acima diz respeito à chamada prevenção secundária, mas existem atitudes relacionadas com a prevenção primária que podem diminuir os riscos individuais para desenvolver câncer colorretal na vida adulta e que devem começar a ser valorizadas desde a infância, em especial as relacionadas com a dieta, que deve ser rica em fibras vegetais e restrita quanto à ingestão de gorduras animais, à prática de exercícios aeróbicos e, também de forma relevante, evitando-se a obesidade.

Finalizando: goste de você mesmo e não deixe de tomar as medidas que podem ajudá-lo(a) a não desenvolver este tumor. A vida agradece!

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