Descrição de chapéu Coronavírus

Pandemia contribui para maior retrocesso na vacinação infantil em uma geração, aponta Unicef

Cerca 25 milhões de crianças em todo o mundo perderam no ano passado as vacinas de rotina; são 2 milhões de crianças não vacinadas a mais que em 2020

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Jennifer Rigby
Londres | Reuters

Cerca de 25 milhões de crianças em todo o mundo perderam no ano passado as vacinas de rotina contra doenças potencialmente fatais, enquanto os efeitos colaterais da pandemia de Covid-19 continuam prejudicando os tratamentos de saúde em todo o mundo.

Aproximadamente 60% dessas 25 milhões de crianças estão em somente dez países, entre os quais o Brasil. Os outros são: Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia, Filipinas, República Democrática do Congo, Paquistão, Angola e Mianmar.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para as Crianças) apontam um "cenário preocupante" para a América Latina e para o Caribe, onde a cobertura vacinal para difteria, tétano e coqueluche caiu para 75% no ano passado. Em 2012, a taxa era de 93%.

Para essa região, as entidades citam como problemas a desinformação ligada à vacinação, reduções persistentes de financiamento e instabilidades política e econômica.

São 2 milhões de crianças não vacinadas a mais que em 2020, quando a Covid-19 causou bloqueios em todo o mundo, e 6 milhões a mais que na pré-pandemia em 2019, segundo novos números divulgados pelo Unicef e pela OMS. Os números são calculados com dados de sistemas nacionais de saúde de 177 países.

Imagem em close mostra profissional da saúde vacinando criança
Criança é vacinada contra poliomielite e sarampo - Aguilar Abecassis - 18.ago.2018/Divulgação

O Unicef descreveu a queda na cobertura vacinal como o maior retrocesso sustentado na vacinação infantil em uma geração, fazendo as taxas de cobertura recuarem a níveis não vistos desde o início dos anos 2000.

Muitos esperavam que em 2021 se recuperasse algum terreno após o primeiro ano da pandemia, mas na verdade a situação piorou, levantando questões sobre os esforços de recuperação.

"Quero transmitir a urgência", disse à Reuters o principal especialista em imunização do Unicef, Niklas Danielsson. "Esta é uma crise de saúde infantil."

A agência disse que o foco nas campanhas de imunização contra Covid em 2021, a desaceleração econômica e a pressão sobre os sistemas de saúde impediram uma recuperação mais rápida das vacinações de rotina.

A cobertura caiu em todas as regiões, como mostram os números, que são estimados usando dados sobre a aceitação da vacina de três doses contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) e incluem crianças que não recebem nenhuma vacina e as que falham em alguma das três doses necessárias para a proteção. Globalmente, a cobertura caiu 5%, para 81% no ano passado.

Segundo o Unifec, parte da queda pode ser explicada pelo maior número de crianças vivendo em meio a situações de conflito ou em contextos frágeis. Também pesam no cenário a desinformação e problemas relacionados à Covid, como quebras de cadeias de fornecimento.

O número de crianças "zero dose", que não receberam nenhuma vacina, aumentou 37% entre 2019 e 2021, de 13 milhões para 18 milhões, principalmente em países de baixa e média renda, mostraram os dados.

Para muitas doenças, mais de 90% das crianças precisam ser vacinadas para evitar surtos. Já houve relatos de crescimento de casos de doenças evitáveis por vacina nos últimos meses, incluindo um aumento de 400% nos casos de sarampo na África em 2022.

Em 2021, 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose da vacina contra o sarampo e outros 14,7 milhões não receberam a segunda dose essencial, mostraram os dados. A cobertura foi de 81%, a menor desde 2008.

No Brasil, já há alguns anos tem sido soado o alerta da diminuição da cobertura vacinal.

Um levantamento recente, também feito pelo Unicef, apontou que a imunização com a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49% em 2021.

Outro vacina que também perdeu campo no país é a contra a poliomielite, que caiu de 84,2%, em 2019, para 67,7%, em 2021.

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