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Vacina contra zika tem resultados positivos em camundongos

Fase de estudo tem o objetivo de avaliar segurança; imunizante ainda precisa ser testado em humanos para definir eficácia

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São Paulo

Uma vacina contra o zika vírus teve resultados positivos em testes realizados com camundongos. O imunizante teve a capacidade de limitar a replicação viral tanto de fêmeas adultas que não estavam grávidas quanto das que estavam —neste caso, também protegendo o feto.

Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na Microbiology Spectrum, revista vinculada a American Society for Microbiology (Sociedade Americana de Microbiologia).

Bebê com microcefalia causada pelo zika vírus faz parte de exame na USP - Nacho Doce - 28.abr.2016/Reuters

Até o momento, não existe uma vacina contra o zika, vírus transmitido principalmente pela picada do Aedes aegypti.

Outra forma de infecção é da mãe para o feto. São nessas situações que pode ocorrer a chamada síndrome congênita da zika (SCZ), conjunto de sequelas provocadas pela infecção durante a gestação, como a microcefalia.

"O maior problema que temos com o zika é a questão do quanto ele é prejudicial para um feto", afirma Patrícia Beltrão-Braga, professora do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP que pesquisa o zika. Ela não participou do estudo.

No Brasil, os casos de zika registrados em 2022 já superaram os dos últimos anos. Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, até 13 de agosto, 9.916 casos prováveis foram registrados em todo o país. Comparando com 2019, antes da pandemia, o número representa um aumento de 21%. Em relação a 2021, os registros quase dobraram.

O imunizante é resultado de modificações genéticas do zika para que ele não tivesse capacidade de replicação viral.

Com isso, esse vírus modificado infecta apenas um número limitado de células, que induzem a resposta imune do organismo sem que ocorra uma progressão da doença.

Com o modelo de vacina desenvolvido, os pesquisadores testaram a segurança do fármaco em animais. Para isso, camundongos neonatos foram divididos em dois grupos: um deles foi infectado pelo zika vírus e o outro teve a vacina injetada. Após cinco dias, observou-se que todos aqueles do grupo com o zika morreram e contavam com carga viral no sangue. Por outro lado, os animais vacinados continuaram vivos e sem presença do vírus no sangue.

Além da segurança, o estudo também observou os resultados do imunizante em evitar complicações causadas pela doença. Nesse caso, camundongos adultos foram vacinados e comparados com outro grupo que recebeu um placebo. Então, ambos foram expostos ao zika vírus. Em relação aos imunizados, não houve complicações e nem perda de peso. Além disso, a replicação viral foi contida em três dias.

A situação foi o contrário no grupo de camundongos com placebo: eles perderam peso e 37% apresentaram sinais de paralisia de membros.

A pesquisa ainda mediu os efeitos do imunizante em camundongos grávidas. A segurança e eficácia para prevenir complicações também foram vistas nesses animais vacinados em comparação aqueles que não foram imunizados.

Além disso, os pesquisadores analisaram os fetos a fim de concluir se houve má formação associadas a infecção. No caso dos camundongos grávidas que foram vacinados, os fetos não tiveram problemas após a infecção. No entanto, no grupo controle, muitos deles apresentaram perda de peso ou até sofreram decomposição ainda no útero.

Mecanismo de defesa e memória

O sistema imunológico utiliza diferentes meios para proteger o organismo em caso de infecções. Uma dessas formas mais conhecidas são os anticorpos. Outro modelo são por meio dos linfócitos T.

No caso da vacina contra o zika, os pesquisadores chegaram à conclusão que o principal mecanismo de defesa induzido pelo fármaco foram os linfócitos.

"Essas células são capazes de responder rapidamente se ocorrer uma infecção pelo zika", afirma Beltrão-Braga.

A professora explica que os linfócitos reconhecem células infectadas por patógenos e as destroem a fim de evitar a replicação viral e conter, desse modo, a evolução da doença.

Além do mecanismo de defesa, os pesquisadores ainda observaram a memória do sistema imunológico. "A vacina foi capaz de induzir resposta celular contra o vírus e resposta de memória. Ou seja, ao entrar em contato com o vírus de novo, vai ocorrer uma resposta rápida contra ele", diz Beltrão-Braga.

Os resultados promissores, no entanto, ainda precisam ser testados em humanos. Os testes em animais, como esse relatado no novo artigo, têm a finalidade de medir a segurança de novos fármacos. Somente com testes em humanos, principalmente nas fases 2 e 3, que será possível concluir qual a eficácia da vacina.

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