Descrição de chapéu The New York Times AIDS

Varíola dos macacos é grave ou mesmo fatal para pessoas com HIV em fase avançada

Evidências apresentadas em pesquisa mostram necessidade de incluir o mpox na lista de condições oportunistas nesses pacientes

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The New York Times

Em pessoas com HIV em estágio avançado, o vírus mpox, antes conhecido como o vírus da varíola dos macacos, frequentemente provoca adoecimento grave, com índice de mortalidade de cerca de 15%, informaram pesquisadores na terça-feira (21).

A gravidade da infecção justifica a inclusão do mpox entre as condições oportunistas especialmente perigosas para pessoas com HIV avançado, disseram os pesquisadores na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Seattle (EUA).

"Essas descobertas deixam muito claro que toda pessoa que tiver mpox deve fazer um exame de HIV", disse Chloe Orking, médica especialista em HIV na Universidade Queen Mary, em Londres, e autora principal da pesquisa. Ela e seus colegas também descreveram os resultados no periódico especializado The Lancet.

Imagem de microscópio eletrônico mostra vírus da varíola dos macacos (em verde) presentes em uma célula
Imagem de microscópio eletrônico mostra vírus da varíola dos macacos (em verde) presentes em uma célula - National Institute of Allergy and Infectious Diseases via AFP

O surto de mpox começou em maio passado. Embora o número de casos tenha caído na maioria das regiões, a doença já atingiu cerca de 86 mil pessoas em 110 países e fez 92 mortos. Múltiplos estudos estimam que de 40% a 50% das pessoas infectadas eram soropositivas.

Quando o HIV é controlado por antirretrovirais, o mpox é mais ou menos tão perigoso quanto para as pessoas não soropositivas. Mas um estudo feito no ano passado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças e observações feitas em surtos anteriores na Nigéria indicaram que o mpox é mais grave e muito mais letal em pessoas com altos níveis de HIV.

No novo estudo, um grupo internacional de clínicos acompanhou 382 adultos em 28 países que tinham HIV em estado avançado e estavam infectados com o mpox. Eles analisaram a quantidade de HIV desses pacientes e o número de células CD4, um tipo de célula do sistema imunológico.

O nível normal de células CD4 no organismo é entre 500 e 1.500 por mililitro de sangue. Todas as 27 mortes registradas no estudo foram de pessoas que tinham menos de 200 células CD4 por mililitro. O mpox matou quase 30% dos pacientes com menos de cem células CD4.

A natureza da doença também revelou diferença nítida nos pacientes com sistema imunológico enfraquecido. A maioria das pessoas infectadas com mpox apresenta lesões apenas no local de exposição, mas os pacientes com HIV avançado desenvolveram lesões ulceradas grandes espalhadas por todo o corpo.

"Há lesões nas costas, nos pés, nos olhos, em todo lugar —é assustador", disse Orkin. "Isso ocorre porque o sistema imunológico não consegue conter o vírus."

Muitos pacientes também tinham nódulos nos pulmões, provocando dificuldade respiratória aguda, ela afirma.

O acréscimo do mpox à lista de infecções oportunistas em pessoas com HIV avançado vai encorajar profissionais de saúde a identificar e priorizar os pacientes com risco maior de adoecer gravemente e morrer.

Os pacientes precisarão de antibióticos para prevenir outras infecções oportunistas e devem receber duas doses de vacina injetada sob a pele, disse Orkin, em vez de ser injetadas entre camadas da pele, como é feito atualmente.

Em setembro os Estados Unidos acrescentaram o mpox à lista de infecções oportunistas que podem acometer pessoas com HIV. Nos próximos meses a Organização Mundial da Saúde deve discutir a possibilidade de tomar a mesma medida, disse Meg Doherty, diretora dos programas globais de combate ao HIV, hepatite e ISTs da entidade.

Segundo ela, os novos dados trazem argumentos convincentes para que o mpox seja somado à lista de condições oportunistas.

Em partes do mundo onde pessoas com HIV podem não ter acesso a vacinas e tratamentos contra mpox, ou simplesmente a tratamento para HIV, afirma, "isso deve promover a conscientização de que precisamos atuar mais nessas regiões".

Tradução de Clara Allain

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