Descrição de chapéu drogas

Efeito do fentanil vai da euforia à parada respiratória; entenda

Opioide apreendido no Brasil pela 1ª vez é a principal causa de morte por overdose nos Estados Unidos

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São Paulo

O fentanil, apreendido pela primeira vez no Brasil em uma ação da Polícia Civil do Espírito Santo, tem duas faces. Por um lado, é utilizado como analgésico de ação rápida e elevada potência. Por outro, é a droga que mais mata nos Estados Unidos.

A substância é de 50 a 100 vezes mais potente do que a morfina e, no âmbito da saúde, é empregada tanto em cirurgias quanto no alívio da dor severa, como em casos de câncer em estágio avançado.

"O fentanil é um opioide sintético, derivado da morfina, e age em receptores da dor, promovendo analgesia", diz o médico Jedson Nascimento, integrante da diretoria da SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia).

Comprimidos coloridos em sacola
Comprimidos de fentanil encontrados por agentes do DEA, departamento de narcóticos dos EUA, durante apreensão em Nova York, em outubro de 2022 - Drug Enforcement Administration/Handout via REUTERS

Em hospitais, esse opioide é aplicado em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas ou procedimentos neurológicos e ortopédicos. Ele também é usado em terapia intensiva, cuidados paliativos e em procedimentos diagnósticos que envolvam dor, como colonoscopias e biópsias.

"O fentanil foi criado em 1960, nos Estados Unidos. Ele foi liberado para uso em 1968 e popularizado na década de 70. Desde então, vem sendo utilizado como analgésico em anestesias diversas", conta Nascimento. "São mais de 50 anos de experiência como medicação terapêutica muito efetiva."

O problema é o uso desviado da substância. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano, o opioide é vendido por traficantes de drogas por seu efeito semelhante à heroína e com frequência é misturado com heroína ou cocaína –com ou sem o conhecimento do usuário– para potencializar os efeitos eufóricos.

"Existe uma sensação de euforia e bem-estar que explica a adicção, mas pode haver diversos efeitos adversos, como prurido, náuseas, vômitos, tontura e o mais temido que é a parada respiratória", alerta o anestesiologista.

Policiais civis do Espírito Santo apreenderam 31 ampolas de fentanil (frascos no canto inferior direito) em uma casa usada por um fornecedor de drogas - SESP-ES - 10.fev.2023/Divulgação

Segundo os Institutos Nacionais de Saúde, apenas em 2021, 106.699 pessoas morreram por overdose nos Estados Unidos, incluindo os casos por drogas ilícitas e por opioides prescritos. Desse total, 70.601 óbitos foram provocados por opioides sintéticos, majoritariamente por fentanil. Em seguida, aparecem drogas como metanfetamina e cocaína, metadona, benzodiazepínicos e heroína.

Em dezembro do ano passado, agentes federais afirmaram ter apreendido 379 milhões de doses de fentanil nos Estados Unidos, o suficiente para matar toda a população do país, considerando que apenas dois miligramas do opioide seriam suficientes para levar a óbito.

Na avaliação da administradora do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência norte-americana antidrogas), Anne Milgram, trata-se do entorpecente mais ameaçador que os Estados Unidos já enfrentaram.

"O fentanil está matando americanos a taxas recordes. Muitos deles não sabiam que estavam consumindo a droga mais mortal que nosso país já viu. Eles não sabiam que traficantes de drogas estão adicionando fentanil à cocaína, heroína e metanfetamina. Eles não sabiam que o comprimido que compraram de um traficante nas redes sociais continha fentanil e que um único comprimido é capaz de matar", afirma Milgram em um vídeo criado em 2022 para o Dia Nacional de Conscientização sobre o Fentanil.

"É uma substância que deve ser reservada ao uso por prescrição médica", reforça Nascimento. "O uso indiscriminado e sem orientação médica pode culminar em uma parada respiratória que pode ser fatal".

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