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Farmacêutica Eli Lilly diz que vai cortar preço da insulina

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Rebecca Robbins
Nova York | New York Times | The New York Times

A empresa farmacêutica Eli Lilly disse na última quarta (1°) que reduzirá significativamente os preços finais de vários de seus produtos de insulina, que são usados por pacientes com diabetes e cujos preços foram aumentados repetidamente no passado.

Tentando acalmar as críticas sobre os preços excessivos dos medicamentos, a Lilly também disse que limitará a US$ 35 por mês o que os pacientes pagam do próprio bolso pela insulina da empresa —embora já tivesse essa política implementada.

O Centro de Biotecnologia da Eli Lilly, em São Diego, Califórnia. No dia 1° de março a farmacêutica anunciou que vai cortar o preço do seu produto mais difundido de insulina em 70% - Mike Blake - 1.mar.23/Reuters

A Lilly tem sido a principal contribuinte para o aumento dos preços de uma injeção da qual milhões de americanos dependem para manter o açúcar no sangue em níveis que lhes permitam viver. O anúncio ocorre num momento de crescente pressão política sobre as empresas farmacêuticas para controlar o que os legisladores e outros críticos consideram uma lucratividade abusiva da indústria.

Durante quase três décadas, por exemplo, a Lilly elevou o preço de tabela de seu produto de insulina mais usado, o Humalog, em mais de 1.000%.

Os altos custos da insulina fabricada pela Lilly e outras companhias farmacêuticas —os pagamentos do próprio bolso por pessoas em certos planos de seguro de alta dedução de impostos podem superar US$ 1.000 por mês, embora a maioria dos pacientes pague muito menos— levaram muitos pacientes a racionar seu suprimento de insulina.

Em seu discurso sobre o Estado da União no mês passado, o presidente Joe Biden criticou as empresas farmacêuticas por aumentarem os preços da insulina. "As grandes empresas farmacêuticas cobram injustamente das pessoas centenas de dólares, de US$ 400 a US$ 500 por mês, obtendo lucros recordes", disse ele.

Na quarta, Biden saudou o anúncio da Lilly como "uma grande decisão, e é hora de outros fabricantes a seguirem".

A Lilly anunciou sua decisão como uma vitória para os pacientes.

Taylor Jane Stimmler, que é portadora de diabetes tipo 1 desde a adolescência, mostra um frasco de insulina Humalog que ela utiliza como tratamento - Spencer Platt - 2.mar.23/Getty Images/AFP

Na realidade, porém, as medidas do laboratório são mais limitadas do que parecem inicialmente. O limite atual de US$ 35 da Lilly (cerca de R$ 181) para pagamentos diretos será mais facilmente usufruído por pacientes com seguro privado. Mas as políticas anunciadas na quarta-feira não terão muito efeito, ou nenhum, sobre o que muitas pessoas estão realmente pagando.

E a Lilly já cobrava das seguradoras apenas uma fração de seu alto preço de tabela ao contabilizar abatimentos e descontos.

David Ricks, CEO da Lilly, reconheceu em entrevista na quarta que não é garantido que as mudanças na empresa levem as seguradoras a pagar menos pelo Humalog, embora tenha dito que espera que isso aconteça.

Além disso, os preços de tabela mais baixos, que entrarão em vigor ao longo deste ano, aplicam-se apenas aos produtos de insulina mais antigos da Lilly.

"Não acho que esses preços sejam tão impressionantes quanto parecem quando você os vê pela primeira vez", disse Stacie Dusetzina, professora de políticas de saúde na escola de medicina da Universidade Vanderbilt. "Não significa necessariamente que a Lilly esteja sofrendo um grande golpe financeiro ao fazer isso."

Mais de 30 milhões de americanos têm diabetes, e mais de 7 milhões deles dependem de insulina. Sem insulina, os pacientes podem morrer ou enfrentar sérias consequências para a saúde, incluindo amputação e insuficiência renal.

Os cortes de preços da Lilly se seguem a anos de pressão crescente não apenas de autoridades em Washington e nas capitais estaduais, mas também de uma comunidade bem organizada de pacientes que pedem que a insulina seja mais acessível.

O anúncio da Lilly segue uma mudança que entrou em vigor no início deste ano para pacientes do Medicare [seguro de saúde do governo dos Estados Unidos destinado a pessoas a partir de 65 anos ou de baixa renda]. De acordo com a Lei de Redução da Inflação do ano passado, o Congresso impôs um teto de US$ 35 por mês para copagamentos de insulina para pacientes do Medicare.

A Lilly disse que planeja reduzir o preço de lista do Humalog em 70% nos últimos três meses deste ano.

Um frasco de Humalog —os pacientes costumam usar vários frascos por mês— tem um preço de tabela de US$ 275 (cerca de R$ 1.428); a Lilly pretende reduzir o valor para US$ 66 (ou quase R$ 343). No entanto, as seguradoras já pagam muito menos que isso: o preço líquido médio que a Lilly cobrou em 2021 por um frasco de Humalog ou sua versão genérica foi de US$ 43 (R$ 223) após descontos e abatimentos, segundo o site da empresa.

O novo preço de tabela de US$ 66 do Humalog ainda será mais que o triplo de quando o produto foi lançado, em 1996. (A Lilly disse que também reduzirá drasticamente o preço de tabela de sua versão genérica do Humalog, bem como de outro de seus produtos de insulina, Humulin.)

A Lilly disse que um de seus novos produtos Humalog, uma caneta de insulina pré-carregada com preço de tabela de US$ 530 (ou R$ 2.753), não terá o preço reduzido. Nem seu produto de insulina de ação prolongada, Basaglar, que foi aprovado pela primeira vez em 2015.

O anúncio da Lilly "não significa que a situação foi resolvida ou que tudo está bem", disse Elizabeth Pfiester, que tem diabetes e é diretora-executiva do grupo T1 International, que faz pressão por um teto federal para os preços da insulina.

"Essa é uma boa notícia para alguns, mas precisamos de regulamentação para garantir que as empresas não mudem de ideia novamente e decidam aumentar o preço", acrescentou ela.

Alguns defensores dos pacientes também estão pressionando por uma legislação que exija que os fabricantes de insulina não cobrem mais nos Estados Unidos do que em outros lugares. A insulina é muito mais barata em outros países, cujos governos negociam os preços diretamente com os fabricantes de medicamentos.

Ricks disse que a Lilly se opõe à "fixação de preços pelo governo federal", dizendo que sua empresa e outras farmacêuticas precisam de incentivos para inovar e desenvolver versões melhoradas de insulina.

Questionado se a Lilly descartaria novos aumentos de preços do Humalog e de outros produtos para os quais anunciou cortes de preços na quarta-feira, Ricks se recusou a fazer um compromisso firme. Ele disse que a empresa não aumentava o preço de tabela de nenhum de seus produtos de insulina desde 2017.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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