Descrição de chapéu Projeto Saúde Pública

Governo quer formar 100 mil médicos especialistas em atenção primária em dez anos

Nésio Fernandes, secretário do Ministério da Saúde, diz que meta será buscada com incentivo à formação

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Brasília

O governo estima ser necessário formar 100 mil médicos especialistas em saúde da família nos próximos dez anos para mudar o perfil de quem atua na atenção primária da rede pública.

O diagnóstico é que os médicos da área são, em grande parte, recém-graduados. Com as iniciativas, o governo espera uma formação mais robusta e elevação do conhecimento técnico dos profissionais.

O secretário nacional de Atenção Primária à Saúde, Nésio Fernandes, diz que o novo desenho do programa Mais Médicos vai contribuir par a que o país mude o cenário principalmente pelo estímulo à especialização na área.

O programa vai oferecer pós-graduação em medicina da família e comunidade e mestrado profissional. Quem atuar quatro anos no programa, prazo de permanência que pode ser renovado por igual período, poderá fazer a prova de título da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade para obter o certificado de especialista sem necessidade de fazer residência médica.

Pacientes na Unidade Básica de Saúde do centro da cidade de Sítio do Quinto, na Bahia
Pacientes na Unidade Básica de Saúde do centro da cidade de Sítio do Quinto, na Bahia - Adriano Vizoni - 27.nov.18/Folhapress

Para os cursos de especialização, o Ministério da Saúde pretende fazer parcerias com universidades que já têm expertise em ofertar programas para áreas de difícil acesso, como a Universidade Federal do Amazonas.

"Hoje existe um déficit de 12 mil vagas de especialização no país por ano. O SUS está ficando com recém-formado que faz bico na atenção primária", disse. "A discussão está na perspectiva de, em dez anos, formar 100 mil médicos de família e comunidade titulados no Brasil para atender tanto a atenção privada quanto a saúde pública."

Do total de médicos formados no Brasil participantes do Mais Médicos, 64% desistem principalmente por terem sido aprovados em residência médica e decidirem buscar uma especialização.

Por isso, ele diz acreditar ser importante a oferta de especialização e mestrado e de um adicional das bolsas no programa. Os médicos formados pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), por exemplo, poderão receber adicional de 40% a 80% do valor se completarem os quatro anos no programa, o que equivaleria a extra de aproximadamente R$ 500 mil.

No edital, o profissional poderá escolher a cidade em que pretende atuar. Quem optar por áreas de maior vulnerabilidade e dificuldade de fixação de médicos, como DSEIs (Distrito Sanitário Especial Indígena) ou periferias, receberá um adicional maior.

Secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Nésio Fernandes, durante entrevista à Folha na sede do Ministério da Saúde, em Brasília, em janeiro deste ano
Secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Nésio Fernandes, durante entrevista à Folha na sede do Ministério da Saúde, em Brasília, em janeiro deste ano - Pedro Ladeira - 4.jan.23/Folhapress

O governo federal anunciou a nova versão do Mais Médicos neste mês com a abertura de 15 mil novas vagas. Até o final de 2023, serão 28 mil profissionais fixados em todo o país, principalmente nas áreas de extrema pobreza.

Do total, 5.000 médicos serão todos financiados pela União e direcionados a municípios que constem no edital. Já as outras 10 mil vagas serão ofertadas para municípios que tenham interesse em atrair mais profissionais —nesses casos, a União vai oferecer as especialidades e o adicional, e o município será responsável pela bolsa.

O secretário disse que o programa vai continuar contratando médicos intercambistas, brasileiros e estrangeiros. Ele diz acreditar que 90% das vagas sejam ocupadas por brasileiros, com ou sem registro no Brasil.

"O que foi feito por Dilma, Temer e Bolsonaro vai continuar sendo feito agora [contratação de médico sem registro no Brasil] porque constitui uma via importante de provimento médico para áreas onde trabalhadores médicos que têm registro no Brasil não querem atuar. Esse é um dispositivo utilizado na Austrália, nos Estados Unidos", disse.

Fernandes prometeu colocar médicos em todas as cidades brasileiras, algo que nem a primeira versão do programa atingiu com os cubanos. Em 2015, o programa chegou a ter 18.250 médicos e alcançou 4.850 municípios e DSEIs.

"Hoje nós temos 2,8 médicos por mil habitantes. Para as 152 vagas ofertadas no edital para os DSEIs foram inscritos 4.900 brasileiros que ainda não revalidaram o diploma. Se para os DSEis nós tivemos essas candidaturas, imagina para o interior do Brasil, municípios com menos complexidade que um território indígena. A quantidade de profissionais hoje estudando no exterior e já formado é muito maior do que há 10 anos."

Incentivos para profissionais se fixarem

Quem pode participar

Como era: médicos brasileiros, médicos brasileiros formados no exterior, médicos estrangeiros e cubanos por meio da cooperação com o país

Como fica: médicos brasileiros, médicos brasileiros formados no exterior, médicos estrangeiros. Os cubanos podem participar dessa última etapa, mas não haverá cooperação com o país

Edital

Como era: lançamento de um edital para cada etapa

Como fica: edital único para recrutar médicos brasileiros e estrangeiros

Incentivo de fixação (ao permanecer pelo menos 36 meses)

Como era: não havia

Como fica: poderá receber adicional de 10% a 20% da soma total das bolsas de todo o período em que esteve no programa, a depender da vulnerabilidade do município; receberá o incentivo completo ao final de 48 meses ou poderá antecipar 30% desse valor ao final de 36 meses

Incentivo de fixação para médico do Fies (ao permanecer pelo menos 12 meses)

Como era: não havia

Como fica: poderá receber adicional de 40% a 80% da soma total das bolsas de todo o período em que esteve no programa, a depender da vulnerabilidade do município; será pago em quatro parcelas: 10% por ano durante os três primeiros anos, e os 70% restantes ao completar 48 meses

Incentivo para o médico do Fies residente de Medicina de Família e Comunidade

Como era: não havia

Como fica: serão ofertadas vagas para os residentes de Medicina de Família e Comunidade que foram beneficiados pelo Fies, auxiliando no pagamento total do valor da dívida

Tempo de Participação no Programa

Como era: ciclo de três anos, prorrogável por igual período

Como fica: ciclo de quatro anos, prorrogável por igual período

Oferta educacional

Como era: especialização

Como fica: especialização, mestrado ou aperfeiçoamento

Pontuação adicional de 10% na seleção de programas de residência

Como era: não havia

Como fica: será concedida para os médicos que concluírem a Residência de Medicina de Família e Comunidade

Licença-maternidade

Como era: deixa de receber a bolsa durante o período de licença, passando a receber auxílio do INSS

Como fica: receberá a bolsa para completar o valor do auxílio do INSS durante o período de até seis meses

Licença-paternidade

Como era: sem previsão de afastamento durante esse período

Como fica: receberá a bolsa durante o período de até 20 dias

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