Descrição de chapéu Financial Times câncer universidade

Perfil genético do câncer de pulmão pode ajudar a prever os próximos passos da doença

Cientistas britânicos fizeram estudo mais amplo até agora da evolução de tumores e suas implicações para o tratamento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Clive Cookson
Financial Times

Uma análise ampla feita por pesquisadores britânicos sobre como o câncer evolui ao longo do tempo ofereceu a cientistas médicos um novo meio de prever como vão se desenvolver os tumores de pacientes individuais e decidir o melhor tratamento para eles.

A organização Cancer Research UK divulgou na quarta-feira (12) os resultados de um estudo de 14 milhões de libras (R$ 86 milhões) intitulado TracerX que acompanhou 800 pacientes ao longo de nove anos. O câncer de pulmão é o câncer mais letal do mundo e faz 35 mil vítimas fatais por ano no Reino Unido.

Em sete artigos publicados nas revistas Nature e Nature Medicine, os pesquisadores descreveram como o rastreamento de mutações no DNA de células cancerosas lhes possibilitou prever o comportamento futuro das células.

Imagem do tronco de uma mulher com os pulmões desenhados sobre a camiseta
Estudo ofereceu a cientistas médicos um novo meio de prever como vão se desenvolver os tumores de pacientes individuais e decidir o melhor tratamento para eles - mi_viri - stock.adobe.com

"Podemos observar como o tumor provavelmente vai evoluir ao longo do tempo, se espalhar e reagir a tratamento", disse o professor Charles Swanton, diretor clínico da Cancer Research UK e líder do projeto de referência no Instituto Francis Crick, em Londres.

Foi descoberto que os tumores individuais contêm mais populações diversas de células cancerosas portadoras de mutações diferentes do que os cientistas haviam previsto. Cada cepa genética passa por evolução darwiniana, ajudando o tumor a resistir a tentativas do sistema imunológico de suprimi-lo. O processo também aumenta a resistência do tumor a medicamentos.

A pesquisa revelou que os tumores pulmonares mais perigosos geralmente não foram os maiores quando diagnosticados, mas os menores, com menos de um centímetro de diâmetro, que contêm uma população diversa de células em mutação acelerada. "Esses tumores possuem alto potencial de metástase, ou seja, de espalhar-se para outras áreas", disse Swanton. "Dizemos que são células que ‘nasceram para ser ruins’."

Os cientistas do TracerX descobriram que podiam rastrear alterações genéticas sem a necessidade de cirurgia ou biópsias, através da análise de pequenas quantidades de DNA liberado no sangue. Quanto mais DNA tumoral circulante, ou ctDNA, estiver presente, maior é a probabilidade de o câncer retornar após o tratamento.

"A análise do ctDNA nos dará uma visão mais completa de como o tumor está mudando ao longo da doença do paciente, usando exames de sangue (biópsias líquidas)", disse Iain Foulkes, o diretor de pesquisas da Cancer Research UK. "Permitirá que os médicos tratem as pessoas mais proativamente, adotando medidas rápidas para modificar um plano de tratamento que não esteja tendo resultado."

Imagem de um raio-X dos pulmões na tela de um computador
Os cientistas descobriram que podiam rastrear alterações genéticas sem a necessidade de cirurgia ou biópsias, através da análise de pequenas quantidades de DNA liberado no sangue - Northwestern Medicine - 12.jan.22/AFP

Um dos estudos fez descobertas importantes sobre a caquexia, nome dado à perda inesperada de peso, apetite e massa muscular que atinge muitas pessoas com câncer adiantado. Os cientistas encontraram padrões distintos de genes ativos nos tumores de pacientes com caquexia e detectaram alto grau de atividade de um gene específico chamado GDF15. Eles esperam que um tratamento voltado ao GDF15 ajude médicos a controlar ou mesmo prevenir a caquexia em pacientes suscetíveis.

"Há muito tempo os pesquisadores procuram em vão entender essa condição devastadora", disse Mariam Jamal-Hanjani, do University College London, que liderou a pesquisa sobre caquexia. "Estamos especialmente animados com a ideia de encontrar alterações nos tumores ou no sangue que possam ajudar a identificar os pacientes em risco de desenvolver caquexia no futuro, para que possamos intervir antes que isso ocorra."

Com um financiamento adicional de 15 milhões de libras (R$ 92,2 milhões), a Cancer Research UK vai estender o TracerX por mais sete anos e usar o conhecimento ganho sobre a evolução de tumores para aprimorar os diagnósticos e tratamento personalizados do câncer. Os cientistas preveem que as descobertas também ajudem a orientar o tratamento de outros tipos de câncer, incluindo os de pele e rins.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.