Descrição de chapéu câncer universidade

Prêmio Octavio Frias de Oliveira estimula investigação em oncologia, segundo vencedores

Láurea mostra-se importante diante da falta de recursos no país; inscrições para 14ª edição estão abertas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

É com orgulho que os cientistas Ana Maria Moro, Dirce Maria Carraro e José Barreto Carvalheira, vencedores do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, falam sobre suas pesquisas. Cada nova frase revela como gostam de investigar os mecanismos por trás do surgimento e da progressão de diferentes tipos de câncer.

Eles também não escondem que o trabalho é árduo. Faltam recursos e visibilidade para os estudos em oncologia realizados no país e é por isso, afirmam os pesquisadores, que a láurea se mostra importante.

Promovido pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) em parceria com o Grupo Folha, o prêmio foi criado em 2010 e homenageia Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha morto em 2007. As inscrições para a 14ª edição estão abertas e podem ser feitas até 26 de maio em www.premiooctaviofrias.com.br.

"O prêmio seguramente aumenta a visibilidade tanto na esfera científica, com os próprios pares, quanto é uma oportunidade de chegar a outras camadas da sociedade", avalia Carraro, vencedora na categoria Pesquisa em Oncologia na edição de 2015.

Ana Maria Moro, pesquisadora do Instituto Butantan e ganhadora da edição de 2014 do Prêmio Octavio Frias de Oliveira - Gabriel Cabral/Folhapress

O estudo coordenado por Carraro, pesquisadora principal do grupo de Genômica Clínica e Funcional do A. C. Camargo Cancer Center, foi publicado na revista Nature Communications e revelou como uma mutação recorrente no gene DROSHA estava vinculada ao tumor de Wilms, o tipo de câncer de rim mais comum na infância.

"Sabíamos que havia um grupo internacional que também estava trabalhando nisso e corremos para sermos os primeiros a publicar os achados, fazendo uma caracterização profunda. Receber o prêmio foi como chancelar esse esforço", recorda.

Ana Maria Moro, diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Imunobiológicos e do Laboratório de Biofármacos do Instituto Butantan, venceu a premiação em 2014, na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia.

Na época, ela coordenava um grupo de cientistas que trabalhavam para identificar e desenvolver linhagens de anticorpos capazes de se unir a proteínas específicas de tumores. A ligação marca as células malignas, contribuindo para a ação do sistema imune e a destruição da célula tumoral, e os primeiros resultados, divulgados no periódico Plos One, foram promissores.

"Foi uma alegria imensa ter o reconhecimento do trabalho e naquele ano também recebeu o prêmio a doutora Angelita Gama [uma das cientistas mais influentes do mundo]. Estar lá junto com ela foi uma emoção enorme", conta. "Há um valor financeiro, mas o incentivo intelectual, o estímulo para fazer mais, é imenso."

Batizado de Rebmab 200, o anticorpo monoclonal desenvolvido pela equipe apresentou grande afinidade por tumores de ovário e foi licenciado pela empresa Recepta Biopharma, parceira na iniciativa juntamente com a Fapesp e a Finep, para a americana Mersana Therapeutics. Hoje, ele é avaliado em três programas diferentes, um deles em busca de voluntárias para a fase três de testes clínicos.

"Foi a primeira vez que isso foi feito no Brasil, criar uma linhagem celular com condições de escalonamento e potencial terapêutico", afirma Moro. "E a Mersana se interessou para fazer o que se chama de ADC, ou seja, ligar uma droga ao anticorpo para potencializar a ação clínica."

A alegria de ver a continuidade dos estudos com o anticorpo só não é maior porque, ao longo do caminho, as referências aos esforços nacionais foram omitidos. Um pequeno asterisco no site da Mersana lembra que a linhagem veio da Recepta e as novas pesquisas já não mencionam os integrantes da equipe do Butantan. "A origem desse anticorpo fica perdida agora, ela não aparece", lamenta.

Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, José Barreto Carvalheira também demonstra um misto de satisfação e frustração.

Na primeira pesquisa premiada, em 2011, seu grupo mostrou como a metformina, medicamento usado no tratamento de diabetes tipo dois, podia ser associada a quimioterápicos para impedir a multiplicação de células tumorais.

O trabalho foi capa da revista Clinical Cancer Research e avançou para os testes clínicos. A última publicação, divulgada no British Journal of Cancer em 2021, aponta a possibilidade de controle do câncer colorretal refratário a partir da combinação entre metformina e irinotecano.

"Não avançamos para a fase três por falta de recurso financeiro. Fomos até a fase dois, publicamos o resultado, que mostra efeitos semelhantes aos de drogas que são muito mais caras, mas não temos estrutura para continuar", diz. "A parte científica da oncologia precisa ser divulgada. Falta muito nesse sentido e o prêmio tem o mérito de entrar nessa história."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.